(Des) Articulação regional

Opinião

Ardêmio Heineck

Ardêmio Heineck

Empresário e consultor

Assuntos e temas do cotidiano

(Des) Articulação regional

“São os dias de hoje que preocupam. Nem conseguimos manter o que nos foi legado, que dirá acrescentar o necessário à perenização do bem-estar atual.” Com essa frase concluí o artigo anterior, neste espaço, em que enalteci o Vale do Taquari, cujos predicados usufruímos porque alguém trabalhou para que existam.
 
A projeção do futuro pede que se conheça o passado e se considere o momento presente em que vivemos. Por isto, é válida uma breve regressão regional no tempo: o traçado da BR-386 passava por Venâncio Aires. Imaginem toda a nossa pujança, derivada daquela rodovia, transferida para aquela região!
 
Lideranças daqui, na década de 1950, estabelecendo as alianças estratégicas necessárias, conseguiram o traçado atual, para o deleite de todos nós. Ainda na década de 1960 – mesmo com avanços como a inauguração de Brasília, a primeira ida do homem à lua, aviões supersônicos, etc. – de Lajeado a Porto Alegre se levava quatro horas por via rodoviária, os telefones eram a manivela, a interligação dos municípios do Vale – e deste com outras regiões –, era por estradas de terra. Energia elétrica deficitária, dependendo muito de usinas locais. Ensino universitário, apenas fora daqui, restringindo-o a poucos.
 
Como num passo de mágica, na década seguinte, dos anos 70, tudo começa a mudar! Nos dez anos seguintes opera-se o milagre brasileiro: nas telecomunicações, energia, logística rodoviária, programas setoriais, no ensino. Desenvolvimento econômico e bem-estar social são a tônica.
 
E nosso Vale ficou de fora, alijado deste progresso dinâmico? Claro que não! Senão, não teríamos tudo o que nos cerca: BR 386 asfaltada de ponta a ponta, construção das RSs 129/130 – ligando Venâncio a Guaporé – centrais telefônicas automáticas, telefonia celular, a energia elétrica que ilumina e impulsiona o Vale do Taquari todo. O Governo Federal constrói um entroncamento rodo/hidro/ferroviário em Estrela (o Porto de Estrela) – um privilégio logístico de pouquíssimas regiões no país. E, passamos a ter acesso ao fundamental, aqui mesmo: o conhecimento. Com a criação da Fundação Alto Taquari de Ensino Superior (FATES), embrião da hoje UNIVATES. Mais recentemente duplicamos a 386, trecho Estrela/Tabai. Enfim, uma região inserida na onda de modernização, criando musculatura para construir seu futuro!
 
E isso, por acaso? Claro que não! Este progresso, de bem-estar e de inserção no futuro devem-se à coesão das forças regionais, representatividade política, visão uníssona do que queríamos e necessitávamos e, às alianças estratégicas necessárias construídas.
 
E, hoje ainda é assim? Penso que não. Teríamos nos tornado uma Torre de Babel, cada qual e cada entidade falando línguas diferentes, agindo dissociados dos demais? Influenciados pela soberba, pelo egocentrismo? Tal qual os povos daquele fato bíblico, nos iludimos achando que tocaremos o céu e o infinito, sem termos noção das nossas limitações se fechados em nós mesmos? Ou, tendo noção da importância do coletivo, premidos pelos problemas, nos sentimos sozinhos na busca das soluções?
 
No transcorrer da história os povos guerrearam, morreram e se sacrificaram para construir identidades, circunscritas num perímetro geográfico. As nações. Pois o nosso limite primeiro de interesse em comum, para a geração do bem-estar, é o regional, o Vale do Taquari. Imprescindível a articulação regional que busque, conjuntamente, dentre as diversas iniciativas – hoje bem-intencionadas, mas dispersas – eleger prioridades pelas quais cerrar fileiras e lutar, estabelecendo as alianças estratégicas indispensáveis. Nossa história – inclusive recente – mostra que sabemos fazê-lo, e bem! Embarque nesta onda virtuosa!

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