A vingança social

Opinião

Rodrigo Martini

Rodrigo Martini

Jornalista

Coluna aborda os bastidores da política regional e discussão de temas polêmicos

A vingança social

O fato envolvendo 14 alunos do CEAT gerou fortes manifestações nas redes sociais. E a grande maioria errou o alvo. Ou o foco. Fixaram-se em uma questão social absolutamente irrelevante para o momento. Criaram uma inapropriada disputa entre ricos e pobres, quando o assunto demanda uma análise muito mais incisiva, complexa e, naturalmente, humana. Em outras palavras, utilizaram o fato para uma vingança pessoal que parecia entalada na garganta.
 
Muitos nos cobraram uma abordagem “imparcial” diante de casos envolvendo escolas públicas e particulares. Um aflitivo ranço contra quem ostenta melhor condição financeira. O A Hora não entrou nesta sórdida discussão. Já trouxemos as brigas em escolas estaduais e agora as denúncias no privado Alberto Torres. Sempre com abordagens analíticas e responsáveis.
 
Mesmo assim é inevitável – e isso as pessoas precisam compreender – que casos envolvendo escolas municipais ou estaduais recebam maior ênfase nos jornais. Por uma razão muito simples: nós todos pagamos impostos para manter esses educandários a pleno. É compromisso de toda a sociedade cobrar esses colégios que devem servir essencialmente às classes menos afortunadas. É premissa jornalística cobrar com mais rigor o ente público.
 
Há outros casos semelhantes. Quando falamos de empresas públicas ou empresas privadas, por exemplo, a relevância se dispersa. Erros administrativos do prefeito que gerencia o dinheiro do contribuinte – o meu e o seu – possuem muito mais relevância jornalística do que o erro de um empresário dentro do seu próprio negócio. Capice!?
 
Mas, justificado o óbvio, é preciso voltar ao único tema que realmente importa neste delicado momento. Nossas crianças, pobres ou ricas, brancas ou pretas, meninos ou meninas, são as principais esperanças que nos movem nessa vida. Estamos lidando com nossos filhos, afilhados, sobrinhos ou netos. Com o futuro da sociedade.
 
Os vídeos e áudios sobre o barulhento convescote do CEAT são alarmantes, é claro. Nunca foi e nunca deverá ser tratada com normalidade a internação de uma criança de 12 ou 13 anos em estado de quase coma alcóolica. Ninguém discorda disto. Nem o Ministério Público e, integralmente, a direção do já centenário colégio.
 
Por isso é inadmissível, mesmo se tratando das raivosas redes sociais, que pessoas literalmente comemorem o deslize dos “filhos dos riquinhos”, das “crianças da alta sociedade”. Isso denota um sentimento de frustração pessoal que, no fim, só prejudica a quem o alimenta. Há pessoas pedindo a divulgação dos nomes, como forma de saciar uma injustificável vingança social. Isso é desumano. São apenas crianças, ora bolas.
 
Precisamos entender que, ao entregarem a guarda dos filhos para colégios e professores, os pais não querem tal conduta em meio às atividades escolares. Da mesma forma, colégio e professores não querem alunos saindo de casa com álcool nas mochilas. Assim como as autoridades não querem comerciantes vendendo álcool para menores de idade.
 
Seja no público ou no privado, no ambiente escolar ou fora dele, ninguém quer esses abusos. E isso nem é tão difícil de entender.
 

Exagero do MP

A ida do promotor até o Ceat, acompanhado do Pelotão de Operações Especiais da BM – utilizado em casos de extremo risco de confronto –, beirou o descomedimento. Piorou com a cobrança por exames toxicológicos. Pelos fatos, tudo pode ser muito bem resolvido dentro de casa. O caso deveria ser tratado com mais discrição e menos autopromoção, sob o risco de danos irreversíveis às crianças. Há formas e formas de tratarmos esse problema.
 

Sem hipocrisia

Lá no início da década de 90, eram comuns os piqueniques com cerveja ou cachaça escondida. Eu participei de várias dessas farras. Não falo com orgulho. Mas não sou hipócrita. Quando descobertos, alunos assinavam termos, eram suspensos e até expulsos. O que difere hoje – e nem por isso a gravidade dos abusos deve ser desprezada – são os vídeos compartilhados e os precipitados julgamentos por meio das redes sociais. Esses, sim, são fatos criminosos.
 

Tiro curto

– Se de um lado o MP de Lajeado exagera em alguns pontos no caso do piquenique do Ceat, de outro, a instituição se engrandeceu com a participação de Ederson Luciano Maia Vieira no caso do menino Bernardo Boldrini. O promotor foi impecável na acusação do pai e da madrasta;
– Nova presidente da Fepam, a engenheira florestal de Lajeado, Marjorie Kauffmann, está em Brasília participando da reunião da Associação Brasileira de Entidades Estaduais de Meio Ambiente (Abema);
– O suplente de vereador Adriel mandou ofício reclamando de pouco espaço no MDB e, logo na sequência da polêmica lançada aos ventos, foi contratado como CC no governo de Marcelo Caumo;
– É preocupante o fato envolvendo a principal universidade pública do Estado. As ameaças de atentado na UFRGS nos levam para uma realidade ainda mais assustadora;
– O governo do Estado anuncia venda de diversos prédios. Em Lajeado, o governo municipal estuda a compra ou troca do imóvel da antiga CEEE, ao lado do Parque do Engenho;
– Conforme antecipado aqui, as rodovias da EGR serão privatizadas muito em breve;
– A assembleia gaúcha resolveu conceder a Medalha do Mérito Farroupilha para o político Eduardo Bolsonaro. Aos poucos, a distinção perde credibilidade. O filho do presidente se junta agora a Jean Willys e Guilherme Boulos, ambos do Psol.
Boa quinta-feira a todos!

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