O júri popular dos quatro acusados pelo homicídio de Bernardo Uglione Boldrini, morto aos 11 anos, em abril de 2014, iniciou segunda-feira no Fórum de Três Passos. A expectativa do Ministério Público (MP) é de que os réus, o médico Leandro Boldrini, pai do menino, Graciele Ugulini, a madrasta, e ainda Edelvânia e Evandro Wirganovicz, sejam condenados às penas máximas previstas para os crimes dos quais são acusados.
Bruno Bonamente é o promotor responsável pela acusação. Em razão do tamanho do processo, com mais de nove mil páginas, e do tempo que o julgamento deve durar, previsto para uma semana, Bonamente recebe apoio dos colegas do MP, Ederson Luciano Maia Vieira, da Comarca de Lajeado, e Silvia Inês Miron Jappe, de Três Passos.
O primeiro dia de júri terminou por voltas das 21h. “Temos convicção de que há provas suficientes nos autos para condenação dos réus”, garantiu Bonamente, aos jornalistas, pouco antes do início da sessão. Nesta primeira fase, serão ouvidas 14 testemunhas. Após as oitivas, iniciam os debates entre defesa e acusação. Isso deve ocorrer hoje.
Seguindo o rito processual, a juíza Sucilene Werle iniciou a oitiva das testemunhas de acusação na segunda-feira, após o sorteio e composição do conselho de sentença, formado por sete jurados.
Ontem, Vieira questionou testemunhas do caso. A primeira foi uma vizinha da família. Após, a psicóloga Ariane Schmitt, que atendeu o menino antes do crime. Na sequência, a ex-secretária do pai da vítima, Andressa Wagner. Ela atuava no consultório do médico e é testemunha da acusação e da defesa dos réus. Entre os questionamentos, as diferentes assinaturas de Boldrini em receituários.
Relembre o caso
O garoto de 11 anos desapareceu no dia 4 de abril. Naquele dia, o menino saiu de casa – em Três Passos – com a madrasta, achando que iam comprar um aquário. Dez dias depois, foi encontrado morto dentro de uma cova na cidade de Frederico Westphalen (RS), perto de um rio.
Caroline Virgínia Machado, delegada que presidiu o inquérito sobre o caso, relata que Bernardo morreu por uma dosagem alta de Midazolam, droga usada para sedar pacientes em situações como a realização de endoscopia. Em doses elevadas, o remédio tira a capacidade respiratória do organismo.
A presença da medicação foi detectada no fígado, nos rins e no estômago do menino. Segundo a delegada, há duas possibilidades de aplicação da droga: via oral (comprimidos foram comprados em farmácia por Graciele e Edelvânia) e por injeção (ampolas do remédio foram retiradas do consultório de Boldrini).
Soda cáustica
Após a dosagem, o menino foi jogado em uma vala cavada dois dias antes. Dentro dessa, recebeu soda cáustica no corpo antes do buraco ser fechado sobre ele. Cupons fiscais e imagens de câmeras mostram que Graciele e Edelvânia compraram pá, soda cáustica e o remédio em questão, dois dias antes do desaparecimento do garoto.
Ainda de acordo com a delegada, as rés não conseguiram abrir a cova. Para isso, teriam solicitado auxílio de Evandro Wirganowicz, irmão de Edelvânia. Imagens de segurança mostram que o carro dele foi até a região onde o cadáver foi encontrado. Segundo o réu, que primeiro negou ter ido até aquela parte da cidade, ele teria se deslocado até lá para pescar.
Sobre Boldrini e a madrasta, a delegada destacou pontos que chamaram atenção da polícia nas investigações, como por exemplo, a tentativa de construção de álibis pelo casal, e mudanças de comportamento dos dois. O médico, segundo ela, não dava atenção ao filho, que chegava a ficar longe de casa 15 dias.
A delegada cita, ainda, que o menino sofria tortura psicológica e “um descaso em grau máximo” por parte do casal. A madrasta teria dito, inclusive, “que aquele núcleo familiar não comportava mais a presença de Bernardo” e, em outra oportunidade, disse “dinheiro ela tinha para dar um fim no guri”, pois se tratava de um “estorvo”.
RODRIGO MARTINI – rodrigomartini@jornalahora.inf.br