O carnaval é considerado uma das épocas mais favoráveis para a disseminação de Doenças Sexualmente Transmissíveis, as DSTs. Mais dispostos ao sexo casual, os foliões muitas vezes acabam não usando o preservativo com a mesma disciplina com que muitas vezes o fazem no seu dia a dia. Em tempos de folia, trata-se de uma das negligências que parecem se tornar permitidas nacionalmente durante a nossa maior festa.
De acordo com o Ministério da Saúde, desde 2008 as mulheres têm sido alvo das campanhas nacionais de prevenção à AIDS no carnaval, devido a levantamentos que constatam grande aumento de casos da doença. Apesar do número de homens contaminados ser maior do que o de mulheres no Brasil, a diferença dos índices de contágio entre os sexos vem diminuindo nos últimos anos. Em 1989, para cada seis homens infectados existia uma mulher. Em 2009, a proporção era de 1,6 casos em homens para uma mulher. Entre 1980 e 2010, 65,1% das infecções foram do sexo masculino em relação a 34,9% do sexo feminino.
De acordo com Marcos Höher, médico especialista do Centro de Reprodução Humana do Bruno Born, o comportamento mais despreocupado por parte, sobretudo, das gerações mais novas tem a ver com o fato de as DSTs parecerem coisa do passado. “O não uso de preservativo geralmente é atribuído à ‘redução do prazer’, ‘dificuldade de colocação’, ‘prejuízo à ereção’e ‘não tê-lo à mão na hora’ e se deve ao fato de que as novas gerações não viram ninguém morrer por AIDS”, alerta.
Embora os adolescentes e adultos jovens sejam considerados os grupos de maior risco, homens e mulheres até 60 anos também estão cada vez mais sendo acometidos. “Qualquer pessoa sexualmente ativa, independentemente de faixa etária, classe social ou orientação sexual pode contrair uma DST. Basta praticar sexo inseguro”, destaca Höher.
Mas de acordo com o médico, não é só com a transmissão da AIDS é preciso se preocupar. Estão aumentando os casos também de sífilis, gonorréia e clamídia. “Certos vírus e bactérias transmitidos através das relações sexuais, por não levarem a um risco de morte como o que é provocado pelo HIV, acabam sendo negligenciadas. Um exemplo é a clamídia”, reforça Höher.
Clamídia
A infecção pela Chlamydia Trachomatis é a doença sexualmente transmissível de maior prevalência no mundo, com aproximadamente 90 milhões de casos anuais. O maior problema é que 75% das mulheres e pelo menos a metade dos homens infectados não apresentam nenhum sintoma após o contágio. O Centro de Controle de Doenças americano, o CDC, alerta, por exemplo, para o boom de DSTs entre os jovens de 15 a 24 anos. Nessa faixa de idade foram identificados 53% dos casos de gonorreia e 65% dos de clamídia.
“Segundo o CDC, somente nos Estados Unidos, os números de episódios de sífilis, gonorreia e clamídia registraram, em apenas um ano, aumento de 15,1%, 5,1% e 2,8%, respectivamente. No Brasil, o cenário estimado não é muito diferente. Porém, como somente os casos de HIV e de sífilis em gestantes e bebês têm notificação obrigatória, não é possível obter dados estatísticos fidedignos”, salienta o médico. A Secretaria Estadual de Saúde de São Paulo identificou um aumento de 603% nas ocorrências de sífilis por transmissão sexual em seis anos. Enquanto em 2007 foram diagnosticados quase 2,7 mil casos, em 2013 o número subiu para mais de 18,9 mil.
“O que mais preocupa é o fato de que muitas mulheres descobrem que tiveram esta infecção anos mais tarde, no momento em que tentam engravidar”, alerta. Trata-se de uma enfermidade que afeta frequentemente as trompas da mulher de forma silenciosa, já que três em cada quatro mulheres não manifestam nenhuma queixa. “A doença só é descoberta anos depois, quando a pessoa tenta a gravidez e não consegue. A infertilidade pode ser a primeira manifestação e muitos casais acabam precisando de tratamento médico para ter os seus filhos”, relata.
Prevenção
O uso sistemático de preservativos é fundamental em todas as relações sexuais e apresenta uma efetividade na prevenção da transmissão de doenças. As mulheres são mais vulneráveis tanto ao contágio de doenças, quanto à gravidez indesejada. Homens e mulheres devem proteger os seus aparelhos reprodutivos de doenças que, como a infecção por clamídia, são altamente contagiosas. “A preservação da sua fertilidade e, consequentemente, a do seu futuro parceiro ou parceira, com quem um dia deseje engravidar, deve ser providenciada hoje, com o atual parceiro. Quando o assunto é DST, prevenção é sinônimo do uso de preservativo e isso vale para sexo vaginal, oral e anal”, enfatiza.
A camisinha impede a ocorrência de gravidez indesejada e também, por evitar o contato com micro-organismos que levam à infertilidade, permite que homens e mulheres, no momento planejado, possam ter os seus filhos. “Embora possa parecer paradoxal, usar a camisinha hoje pode ser fundamental para ter filhos, mesmo que em um futuro distante. Ou seja, se deseja um dia engravidar, use a camisinha”, exclama.
Tratamento
O tratamento da infecção por Chlamydia trachomatis é feito com antibióticos, mas em poucos casos é possível reverter suas sequelas, como a infertilidade. A bactéria é erradicada do organismo, mas os danos e lesões em sua maioria são irreversíveis.”A precaução, o uso de camisinha, continua sendo a melhor estratégia, ainda mais em dias de Carnaval”, aconselha.