O que muda com a reforma proposta pelo governo

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O que muda com a reforma proposta pelo governo

Impacto é mais substancial às mulheres do campo, onde entidades representativas iniciam mobilização em busca de mudanças. Pela proposta do governo, as agricultoras terão de trabalhar cinco anos mais do que o previsto pela legislação atual

O que muda com a reforma proposta pelo governo

Idade mínima equiparada em 60 anos para mulheres e homens do campo. Junto com isso, a contribuição obrigatória de no mínimo 20 anos com a Previdência. A proposta sobre a aposentadoria rural mobiliza famílias e instituições representativas da classe.
 
“O impacto sobre a mulher rural foi grande. Elas terão de trabalhar cinco anos a mais”, avalia o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais (STR) de Lajeado e integrante da Fetag, Lauro Baum.
 
Ao mesmo tempo em que as representações sindicais organizam os próximos movimentos para tentar reverter alguns pontos da proposta do governo Bolsonaro, agricultoras buscam entender como as alterações interferem no cotidiano.
Para dar conta das diversas atividades na propriedade, Anaides Heisser, 55, divide o dia em três jornadas de trabalho. Além de ajudar o marido Renato Heisser na lavoura, também fica encarregada da maior parte dos serviços domésticos.
 
Moradora de Linha Moisés, em Boqueirão do Leão, ela acorda antes das 5h30min. O primeiro trabalho é levar as 26 vacas para a ordenha. Na mesma propriedade, também cultivam 60 mil pés de tabaco.
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Na rotina da agricultora, ainda precisa separar tempo à limpeza da casa, o preparo das refeições, lavar as roupas e fazer o queijo do modo tradicional, receita aprendida com os pais. Ela não reclama do esforço físico e das longas horas de trabalho, mas se sente desvalorizada pelo pago na aposentadoria. “Pelo tudo que um agricultor trabalha, merecia receber mais”, ressalta.
 
Já em processo para reivindicar o benefício, Anaides demonstra preocupação com as gerações futuras. “Está cada vez mais difícil e o governo ainda fala em incentivar a permanência do jovem no campo, mas fazem leis para terminar de vez com o agricultor”, critica.
 
O texto da Reforma da Previdência foi entregue na câmara dos deputados nessa quarta-feira. Na avaliação do governo, se trata de uma proposta para corrigir distorções e tornar mais justa a concessão do benefício à população.
 

“Será que vou me aposentar?”

A preocupação cresceu entre os mais jovens. Fabieli Martini Maffei, 29, trabalha na roça desde os 13 anos. Casada com Evandro Maffei, 35, reside no interior de Boqueirão do Leão.
O casal cultiva 80 mil pés de tabaco, tem uma área de seis hectares com milho e criam cerca de 40 bovinos. A rotina de trabalho é intensa, levantam às 6h, para o trato dos animais e muitas vezes retornam depois das 21h. “Durante a colheita do fumo fica ainda mais corrido”, relata a agricultora.
 
Além das atividades na roça, Fabieli tem os afazeres domésticos, com isso, trabalha cerca de 14 horas por dia. Ela não se intimida com o serviço, participa de todas as etapas do cultivo agrícola. “Trabalhamos para ter uma vida melhor e um dia aproveitar mais”, deseja.
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Mesmo que distante da aposentadoria, Fabieli demonstra preocupação. “Do jeito que querem fazer a reforma da Previdência, o colono é que sai mais prejudicado”, compara Maffei.
 
O marido de Fabieli também critica modelo em vigor, que estabelece uma relação à contribuição e o valor do benefício. “No caso de nós agricultores, podemos movimentar R$ 100 mil ao ano e no fim, nos aposentamos pelo mesmo valor de alguém que talvez nem tenha contribuído”, reclama.
 
 
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Distante da vida no campo

Para o presidente do STR de Lajeado, Lauro Baum, a proposta está longe da realidade. “Com o esforço físico que um trabalhador rural tem todos os dias, sem férias e sem fim de semana, com menos de 50 anos eles estão com lesões graves.”
Na agricultura familiar, o serviço braçal ainda é a principal força para manter a propriedade, argumenta Baum. “Na nossa região, o cultivo de hortaliças, de fumo, de aipim, de frutas, dependem da mão de obra dos produtores. Não há máquinas para fazer esse trabalho.”
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Com relação às mulheres, diz o presidente, há uma injustiça por equiparar as idades e a contribuição com os homens. “A mulher tem uma tripla jornada. Ainda que o homem ajude em algumas tarefas, recaí sobre ela a maioria das atribuições domésticas.”
 
Para as próximas semanas, conta Baum, a Fetag e os STRs gaúchos organizam a posição da classe quanto às propostas. Na próxima semana, está marcada uma videoconferência entre as regionais. A partir disso, será elaborado um documento do setor. A ideia é levar o manifesto para autoridades políticas da nação.
 

Votos para aprovar

Levantamento do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap) diz que, se a votação do texto fosse hoje, o governo teria 20 votos a mais do que o necessário para aprovar a reforma da Previdência. Pelo indicativo, 333 parlamentares ficam a favor do governo e 176 contra. Mesmo com esse indicativo, o texto original deve ter mudanças. Entende-se que a proposta foi ampla para dar margem a negociações de alguns tópicos.

FILIPE FALEIRO – filipe@jornalahora.inf.br

FELIPE NEITZKE – regional@jornalahora.inf.br

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