Enfim, um novo lar

Vila dos Papeleiros

Enfim, um novo lar

Catadores da ERS-130 foram transferidos ontem para o bairro Santo Antônio. Além de nova casa, recebem nova expectativa de vida

Enfim, um novo lar

Nas margens da ERS-130, viviam dez famílias de catadores de lixo, na chamada Vila dos Papeleiros. Desde o início da semana, as casinhas de madeira foram esvaziadas e os pertences encaixotados para a mudança que ocorreu ontem. Elas foram transferidas para um terreno no bairro Santo Antônio, quase na divisa com o bairro Jardim do Cedro.
 
Em reunião entre Ministério Público, governo municipal, Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) e catadores no dia 7 de dezembro do ano passado, foi definido que além das casas de madeira, seria garantida aos moradores uma Central de Triagem, com prensa e esteira. Por enquanto, seis casas foram construídas. Mesmo assim, todas as famílias se transferiram para o local.
Ansioso, Otávio do Santos, 54, quase não dormiu na noite anterior. “Parecia que a toda hora alguém batia na minha porta”, conta. Natural de Papanduva/SC, encontrou no RS o acolhimento e respeito que procurava na cidade natal. Acostumado a frequentar a igreja evangélica, foi chamado de Davi pelos religiosos. Personagem bíblico que enfrentou o gigante Golias.
 
Como a Central de Triagem ainda não foi construída no bairro Santo Antônio, catadores como Davi ainda irão circular pela ERS-130 para largar os entulhos nos containers localizados nas margens. Ele sai cedo da manhã com a bicicleta e o carrinho de coleta, e só volta no pôr-do-sol.
 
Quem faz a negociação do entulho com as empresas é Adriano Leandro Rodrigues, 47, o Padrinho. “Tenho ele como pai, faz tudo por mim”, ressalta Davi.
Padrinho é aposentado e dedica seus dias ao trabalho social com catadores já faz 10 anos. Sai à cavalo quase todos os dias para recolher sucatas, sem receber retorno financeiro pela coleta. “Já salvei muita gente. Alguns que chegaram aqui eram dependentes alcoólicos”, lembra. Padrinho os encaminhou para clínicas de reabilitação, onde o problema foi resolvido ou amenizado.
 

Novas esperanças

 
Durante as noites na casa da família do papeleiro Paulo da Silva, a escuridão era camuflada por chamas de velas. Nas moradias às margens da RS-130, não havia luz ou água, e muito menos saneamento básico. As famílias iam com galões vazios buscar água no posto de gasolina mais próximo. Além da pobreza, as condições sociais também eram precárias.
 
O teto da casa de madeira era coberto por uma lona improvisada com algumas frestas. Muitos objetos tiveram que ser eliminados devido aos banhos de chuva. A expectativa é acomodarem-se melhor no bairro Santo Antônio, onde a casa possui energia elétrica e água. Cada uma delas possui dois quartos, uma cozinha e um banheiro.
 
Silva, a esposa e a filha carregaram além dos móveis e pertences pessoais, os vasos de planta e o cachorro. “Vamos ver o que vai ser na nova casa, não conhecemos ainda”, ressalta. Silva já se preparou para continuar indo de bicicleta até o galpão onde os lixos são separados, em frente às casas na ERS-130, até que a Central de Triagem seja construída.
 
A prefeitura municipal auxiliou na mudança dos catadores, mas alguns deles levaram os pertences menores por conta própria. Eder Robson do Santos, 38, foi um deles. Morando com a esposa e um amigo que cuida dos cavalos, separou algumas caixas e objetos que foram levados pelos sobrinhos na carroça puxada por animais.
Assim que as casinhas dos papeleiros foram sendo esvaziadas, a prefeitura já começou a aterrar a área destinada à construção de uma via lateral à ERS-130.
 

Vila dos Papeleiros

 
No fim da década de 1990 começou a surgir uma pequena vila às margens da RS-130, onde a comunidade passou a crescer com a coleta e reciclagem de lixo. Algumas moradias irregulares e precárias foram montadas no local, além de pontos de separação improvisados. Até ontem, as famílias moravam ali. Alguns animais como galinhas e porcos também eram criados na beira da rodovia.
 

BIBIANA FALEIRO – bibiana@jornalahora.inf.br

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