Cidade irmã é um conceito que tem como objetivo a implementação de relações e mecanismos que permitam o intercâmbio de experiências e conhecimentos em nível econômico, social e cultural, por meio dos quais as municipalidades estabelecem laços de cooperação.
Essa geminação cresce entre municípios do Vale e de países como Alemanha e Itália, essencialmente. A relação mais aprofundada ocorre entre Arroio do Meio e Boppard, que possuem uma caraterística peculiar: ambas margeadas por imponentes rios. Pelo lado brasileiro, o Taquari. No lado alemão, o mais importante do país, o Rio Reno.
Boppard tem pouco mais de 15 mil habitantes no estado de Rheinland Pfalz. Para chegar até lá, uma viagem de trem a partir de Frankfurt, o pulmão financeiro da Europa. Sempre margeando o Reno, o trajeto com pouco mais de 125 quilômetros dura cerca de 1h30min e é repleto de antigos castelos e muitas muralhas. A maioria dessas de origem romana.
O ponto de desembarque é a estação ferroviária de Boppard, local que divide a cidade. De um lado, a parte antiga e mais próxima ao rio. De outro, uma área mais moderna, onde os prédios históricos dão lugar às construções contemporâneas.
A cidade faz parte de requintados roteiros de cruzeiros pelo Reno. É reconhecida mundialmente como um “resort ao ar livre” e um importante centro alemão de viticultura. Ex-prefeito de Arroio do Meio, Sidnei Eckert conhece bem a cidade e faz uma observação. “Chama a atenção os vinhedos na encosta dos morros, próximo ao rio. Já aqui no Brasil, não pode. As leis ambientais não permitiriam”, ressalta.
E é também nas margens do Reno, de frente para o rio, que estão os principais hotéis e restaurantes típicos da histórica cidade. Calçadões, áreas de lazer e espaços adequados incentivam a população a ficar perto do manancial. Como consequência, o rio é de fato limpo, bem cuidado.
Caminhar entre as casas – muitas em estilo enxaimel – em direção à área central é uma verdadeira viagem no tempo. A praça principal, chamada Marktplatz, toda sombreada pela Igreja de Sankt Severus, em estilo românico tardio, e o convento de Marienberg, fundado em 1125, são dois pontos que valem a pena serem visitados.
Um pouco mais adiante, as ruínas do forte são testemunhas do tempo em que a cidade era um importante posto no Reno durante a ocupação romana.
O enclave começou com o domínio celta e se chamava Baudobriga, e depois virou Bodobrica sob o império romano até chegar ao nome atual, Boppard. O forte foi construído próximo ao Reno. Os muros chegam aos nove metros de altura e até três de espessura. Antigamente, havia 20 torres espaçadas a cada 27 metros. Hoje resta apenas uma dessas torres, localizada quase ao lado da estação férrea. É possível visitar o mirante. E vale a pena!
Ruelas e prédios históricos
O tempo parece parado na histórica cidade encravada entre St. Goarshausen e Braubach. Caminhar pelas ruelas, em especial a Bingergasse, nos leva ao passado. Há um interessante portão, o Binger Tor, pertencente ao antigo forte romano. Historicamente importante, a cidade também conserva resquícios do passado como sede da corte de reis francos.
A passagem por Boppard também vale pela experiência gastronômica. É impossível não comer o tradicional prato alemão schnitzel com batatas ao alecrim e salada verde, acompanhado de um cálice do bom vinho Riesling, orgulho local.
Por fim, e alguns passos a mais pelas margens do Reno, é possível avistar o parque na Rheinallee, na beira do rio. Neste local ficam duas das mais impressionantes construções da cidade: a Casa Ritter Schwalbach, reformada em 1986 para restaurar e manter o mesmo aspecto e características do século XV, e a Sandtor, que é mais um dos portões do antigo forte.
O acordo de geminação
Arroio do Meio e Boppard viraram irmãs em agosto de 2011. Eckert foi quem assinou o acordo com o então e atual prefeito da cidade alemã, Walter Bersch. A solenidade ocorreu entre os dois chefes do poder público, no gabinete arroio-meense. Na ocasião, o alemão foi enfático. “Nestes quatro dias de visita pude atestar que na realidade os descendentes do Hunsrück se encontram em situação privilegiada.”
O professor Roque Danilo Bersch foi um dos idealizadores do projeto de geminação entre os municípios. Para ele, a parceria é uma alternativa para o desenvolvimento de Arroio do Meio por meio da busca de conhecimentos, sendo uma importante oportunidade para os jovens arroio-meenses, com respaldos na educação regional e, até, musical entre os descendentes de Hünsruck. E ele acertou em cheio.
Arroio-meense ficou na Alemanha
Rafael Hergessel é um dos tantos intercambistas beneficiados com os acordos entre as cidades irmãs. Com esse, o município subsidia 50% da passagem aérea. August Scheid, Betânia Bersch Delazeri, Christian Arend Kremer, Cristian Scheid, Daniel Schneider Grun, Felipe Meneghini Frehlich, Ketrin Cristina Gabriel, Leonardo Gräf e Rafael Führ Kuhn são outros. Já em outubro passado, um grupo de Boppard visitou Arroio do Meio.
Hergessel tem 24 anos e é natural de Arroio do Meio. Visitou Boppard pela primeira vez em 2017. Fez amigos. Um ano depois, e após a experiência, resolveu voltar para a Alemanha e fincar raiz na cidade de Ulm, no estado da Bavária. E não pretende voltar tão cedo ao Brasil. “Gostei muito da cidade. É de primeiro mundo, literalmente. A recepção das pessoas me cativou muito. Hoje eu estudo a língua e faço au pair. Cuido de três cachorros durante o dia e aos finais de semana viajo para conhecer novas cidades.”
No Brasil, ele cursava Radiologia. “Aqui, quero cursar um técnico em algum hospital”, observa. Sobre a Alemanha, enaltece a educação. “Há muito respeito entre pedestres e motoristas. Pedestres e ciclistas. Entre as pessoas em geral. E também percebo diferença no recolhimento de lixo. Tudo é muito bem separado. Não se coloca tudo na mesma sacola. E a cada dia, um produto diferente é recolhido. Com isso, há pouco lixo na rua. Também não é permitido beber na rua.”
Hergessel chama a atenção para o pouco aproveitamento do Rio Taquari. “No Brasil, não se aproveita a margem. Em Boppard, é possível aproveitar. Há bares, pontos de caminhada, cruzeiros pelo rio. Na Alemanha, a impressão é que eles mantêm vivas as histórias da cidade. Placas indicam o que se passou em determinados locais. Já em Arroio do Meio, há vários pontos turísticos, mas sem muitas informações. Mas as pessoas parecem mais felizes. Aqui são mais discretas”, ressalta. “E não posso deixar de elogiar a mobilidade por meio de trens, claro.”
Encantado e San Pietro d´Valdástico
As duas cidades firmaram acordo em 1992. Tudo iniciou com o falecido historiador Gino Ferri. Em 1990, ele recebeu a visita do italiano Franco Imbrianti, que lhe mostrou a foto de uma lápide do cemitério de Valdástico, na província de Vicenza, Itália.
Lendo os nomes, Gino percebeu que eram de pessoas que residiram e faleceram em Encantado. Ele escreveu, então, ao prefeito de Valdástico da época, Giorgio Slaviero, e soube, na resposta, que as 16 pessoas registradas na lápide emigraram para o RS e fundaram um vilarejo chamado São Pedro de Encantado. “Era o fio da meada”, comenta Lívia Oselame Sangalli, do Departamento de Turismo de Encantado.
Gino seguiu com a pesquisa e quando ocupou uma cadeira no Legislativo, em dezembro de 1991, apresentou quatro projetos de Lei, um dos quais declarando Encantado cidade irmã de Valdástico. O documento foi transformado em lei em 11 de março de 1992. Em seguida, o prefeito da cidade italiana encaminhou projeto ao “consiglio”, declarando Valdástico cidade irmã de Encantado.
A consolidação do gemellaggio ocorreu só em 23 de julho de 1994, quando o prefeito italiano liderou uma comitiva de italianos que, em Encantado, assinou um “solene compromisso de amizade e intercâmbio social e intelectual”.
“Desde a assinatura do termo, várias excursões foram feitas daqui para lá e de lá para cá, cujas comitivas normalmente eram compostas por lideranças políticas e comunitárias, visando ao estreitamento das relações diplomáticas e o aprofundamento da história e da pesquisa. Está previsto para ocorrer, em janeiro de 2019, o primeiro intercâmbio estudantil”, informa Lívia. A escola a ser visitada fica em Montebelluna.
Já em janeiro de 2020, estudantes de Encantado devem embarcar para Valdobbiadene, cidade vêneta com quem Encantado mantém Pacto de Amizade. “A vinda do teatro italiano ‘Le Arti per Via’, em Encantado, no último dia 26 de julho, também foi uma importante ação viabilizada com a força do gemellaggio. Já nas escolas municipais com turno integral, os alunos do turno inverso têm aulas de Italiano.”
Ilópolis e Doutor Ricardo
Doutor Ricardo possui gemellaggio com Lentiai, da província de Beluno, e que pertence à região do Vêneto, na Itália. Já Ilópolis possui acordo com Auronzo di Cadore, desde 2008. Assim como nos demais municípios, o acordo bilateral tem como objetivo não apenas aproximar as duas cidades devido às suas características semelhantes, mas para executar projetos que favoreçam o ensino, a pesquisa, o trabalho, a cultura e o turismo, viabilizados com menos burocracia e mais eficácia.
Auronzo di Cadore é um município com pouco mais de três mil habitantes, que no verão chega a contar 30 mil graças ao turismo de montanha, essencialmente. Apesar de pequena, a cidade possui mais de 100 empreendimentos, entre hotéis e pousadas. Além dos estudos, a população de Ilópolis pode, via projetos coordenados pela municipalidade, fortalecer ações em prol do turismo e cultura por meio deste acordo.