Após 70 dias do desaparecimento, a Polícia Civil concluiu que o gerente da agência do Sicredi em Anta Gorda, Jacir Potrich, 55 anos, foi assassinado. De acordo com as investigações, o crime foi cometido por um amigo de longa data, que vivia no mesmo condomínio que a vítima.
O suspeito, de 52 anos, foi preso, ontem de manhã, por agentes da Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), em Capão da Canoa, onde veraneava. No momento da prisão, ele se manteve calmo e negou o crime. O homem ainda não foi ouvido formalmente pela polícia.
Para o delegado, ele matou Potrich e depois se desfez do corpo que não foi localizado. O homem será indiciado por dois crimes: homicídio e ocultação de cadáver. No caso do homicídio, há o agravante de motivo fútil. Não se descarta que ele tenha tido ajuda para desaparecer com o cadáver.
O delegado responsável pelo caso, Guilherme Pacífico, apresentou o resultado da investigação em uma coletiva à imprensa ontem à tarde na câmara de vereadores de Anta Gorda. No plenário, jornalistas de diversos veículos do estado dividiam espaço com moradores curiosos sobre o desfecho do caso.
“Ao final de 30 dias a gente quer contar o que efetivamente aconteceu e principalmente tentar desvendar onde está o corpo. Trabalhamos de maneira inequívoca em cima de que foi um homicídio, que aconteceu no dia 13 de novembro, por volta das 19h30, no condomínio onde moravam autor e vítima”, afirma Pacífico.
Suspeito possui duas armas
Foram feitas buscas na casa do suspeito e no seu local de trabalho, no município de Arvorezinha. Na residência foram localizados um revólver e uma arma longa calibre 12. As peças serão encaminhadas à perícia. Ambas tinham registro, porém a polícia não informou se estavam em situação regular.
A operação mobilizou mais de 40 agentes entre Brigada Militar, Polícia Civil, Instituto geral de Perícias e Corpo de Bombeiros. O nome do detido não foi divulgado por se tratar de prisão temporária. Agora, a polícia tem 30 dias para concluir o inquérito e explicar em detalhes como se deram os crimes.
“Caso beira passionalidade”
Em um amplo terreno recuado, na avenida Júlio de Castilhos, as três famílias construíram suas casas. De acordo com vizinhos, eles moravam no local há mais de dez anos. O condomínio é formado apenas pelos três imóveis.
Apesar da amizade de longa data, já fazia algum tempo que Jacir Potrich e o homem que a polícia acredita ser seu assassino não se entendiam. Havia um clima de ressentimento. O terceiro vizinho é apontado como um conciliador, que tentava mediar o conflito.
De acordo com a investigação, era Potrich quem impunha mais resistência a uma reaproximação. O estopim da briga teria sido a mudança da agência bancária que Potrich gerenciava para outro imóvel. O prédio em que ficava o banco pertencia ao suspeito, que teria se sentido traído pelo amigo.
“O caso beira uma passionalidade porque três amigos se juntam para morar no mesmo condomínio com suas famílias. É um ambiente de uma irmandade muito forte”, afirma Pacífico.
Gravação foi interrompida
De acordo com o delegado, as câmeras de segurança do condomínio mostram o momento em que acusado e vítima ficam em um mesmo ambiente. A partir daí, as gravações foram interrompidas. Pacífico afirma que quem tinha o controle do circuito interno era o suspeito.
A esposa do suspeito e a empregada doméstica estavam em casa, mas o local onde o crime foi cometido não tinha contato visual com as residências. Após o crime, a esposa saiu para viajar. As construções ficam distantes umas das outras, o condomínio fica em uma área elevada e bem arborizada. Quem passa na avenida, por exemplo, enxerga pouco do condomínio.
A polícia já realizou buscas no condomínio mas não localizou o corpo. A principal hipótese é que tenha sido retirado do local. As diligências seguem em Anta Gorda e municípios do entorno. As características de região, pouco habitada e com bastante áreas verdes, facilita o desaparecimento do corpo.
“Foram feitas buscas no condomínio e até o momento não se localizou lá. Faremos alguns exames periciais para verificar alguns vestígios”, afirma a delegada Roberta Bertoldo, da DHPP, que efetuou a prisão.
Ao longo da investigação, foram descartadas diversas informações como a de que tonéis teriam sido usados para se desfazer do cadáver.
Relembre o caso
Jacir Potrich, desapareceu do condomínio onde morava no dia 13 de novembro, após retornar de uma pescaria. Imagens de câmera de segurança mostram ele saindo de casa, retornando sozinho, às 19h07min, limpando e guardando os peixes na geladeira. A faca, a tesoura e a pia suja com as vísceras dos animais foram motivo de estranheza, já que ele era conhecido por ter um perfil organizado e asseado.
O carro ficou na garagem com seus documentos dentro. Potrich desapareceu apenas com o celular, a chave de casa e a roupa do corpo.
Em um primeiro momento, a principal hipótese investigada pela Polícia Civil, foi a de sequestro. Esta possibilidade ganhou força por se tratar de um gerente de banco. Entretanto, não foi feito nenhum contato para negociação de resgate.
A família chegou a divulgar uma recompensa de R$ 50 mil por informações que ajudassem a localizá-lo. Os familiares receberam diversas ligações, mas nenhuma que levasse ao paradeiro.
Em um segundo momento, a hipótese de homicídio se tornou a principal. O fato de as câmeras de vigilância do condomínio terem sido interrompidas apontou para o suspeito.
O que a polícia descobriu:
– Jacir Potrich foi assassinado por volta das 19h30 do dia 13 de novembro
dentro do condomínio
– O crime teria sido cometido pelo vizinho
O que a polícia ainda não sabe:
– Como Potrich foi assassinado
– Onde está o corpo
– Se o suspeito teve ou não cúmplices para ocultar o cadáver
MATHEUS CHAPARINI – matheus@jornalahora.inf.br