“Comer carne é mais cultural do que necessidade”, afirma a nutricionista especialista em dietas vegetarianas e veganas, Jéssica Schuster, 27. No Brasil, 14% da população se declara vegeteriana, segundo pesquisa do Ibope Inteligência, conduzida em abril de 2018. A estatística representa um crescimento de 75% em relação a 2012. Hoje o número de vegetarianos representa 30 milhões de brasileiros.
Há quase três anos vegana, conta que decidiu mudar o estilo de vida quando percebeu a crueldade pela qual os animais passavam somente para servir os humanos. “Eu estava no final do curso de Nutrição e já tinha todo o conhecimento para entender que uma dieta sem carne era tão ou mais saudável do que a carnívora. Foi automático. Deixei de consumir carne e derivados de animais e tomei mais consciência a respeito do sofrimento dos bichinhos”, conta.
Esse caminho também foi natural para a fotógrafa Alessandra Vigolo, 24, de Teutônia. Ela parou de consumir qualquer tipo de carne em 2015 e no ano seguinte extinguiu os ovos e o mel do cardápio. Em 2017, foi a vez dos laticínios. “Depois de assistir ao documentário What the health, não tive mais coragem de continuar consumindo leite e derivados, digamos que ali percebi que não era só por eles, mas era importante por questão de saúde também”, relembra.
Ser vegano para a grande maioria dos adeptos não é apenas deixar de consumir carne, mas não usufruir de todos os produtos que utilizam animais de alguma forma. “Sejam marcas que testam os produtos em animais, não comprar itens feitos de couro animal, shampoos que utilizem o tutano do boi ou qualquer outro derivado. É uma causa pela qual lutamos por completo. Os animais merecem viver”, ressalta Jéssica.
E a proteína?
De acordo com a nutricionista, a alimentação sem carne é cercada de muitos tabus e crenças, mas garante que qualquer pessoa pode ser perfeitamente saudável sem os derivados de animais. Logo de cara, a primeira pergunta feita à profissional gira em torno da obtenção de proteínas. “Acho até curiosa essa pergunta. Temos que pensar que os animais contêm muita proteína e eles não comem outros animais para obtê-las, bem pelo contrário, se alimentam de vegetais. Não faria mais sentido nós humanos também buscarmos as proteínas diretamente na fonte?”, questiona.
Fontes de cálcio
Largar o consumo de leite e ovos parece ser um dos maiores desafios para quem em algum dia já foi adepto das carnes. A preocupação com a obtenção de cálcio, por exemplo, é sempre questionada. “Temos muitas fontes vegetais de cálcio, por exemplo, cinco pedaços de couve-flor equivalem ao cálcio obtido em um copo de leite. Não temos por que nos preocupar”, esclarece.
Estudo recente realizado por dois professores de Harvard, Dr. David Ludwig e Dr. Walter Willett, demonstrou que não há qualquer evidência científica de que o consumo de leite e derivados faça bem para os ossos, ajude a perder peso ou traga benefícios à saúde em geral. Segundo Willet, “os humanos não têm necessidade de leite animal, que foi adicionado muito recentemente à nossa dieta quando pensamos na evolução da nossa espécie. Somos os únicos animais do mundo que continuam tomando leite mesmo depois de adultos”, disse em entrevista ao National Post.
Na verdade, o leite de vaca tem os hormônios ideais para que o bezerro tenha tudo o que precisa e não os humanos. Temos que pensar que o bezerro cresce oito vezes o seu tamanho a partir da nutrição com o leite bovino. Existem muitas alternativas mais saudáveis, como os leites de amêndoas e de soja”, ressalta Jéssica.
Saudade do sabor da carne
“Ninguém gosta de comer uma carne sem sal e tempero, né? Foi então que descobri que o que dá o verdadeiro sabor às carnes são justamente os elementos não animais”, reflete.
A partir desse pensamento, Jéssica começou a cozinhar utilizando muitos temperos para saborizar vegetais como a carne de soja, pimentões e diversos outros alimentos.
Saúde renovada
Ao analisar a própria saúde, Alessandra conta que sentiu melhoras desde que deixou de consumir derivados de animais. “Hoje é difícil ficar gripada e, se eu ficar, não dura mais de três dias. Também emagreci e minhas unhas ficaram mais fortes, logo comecei a me sentir mais disposta”, relata.
A fotógrafa relata que normalmente, quando as pessoas são carnívoras ou até mesmo onívoras, pouco se preocupam em como está nutricionalmente a alimentação. “Mas posso garantir que sendo vegetariana minha alimentação é muito mais saudável e variada do que antes, pois comecei a comer alimentos que antes eu não comia e variei muito mais o cardápio”, relata.