O Brasil não suporta mais tantos benefícios. “Auxílio-moradia”, “auxílio-mudança”, “auxílio-saúde”, “divulgação de atividade parlamentar”, diárias, seguranças, motoristas, almoços, passagens aéreas. É mordomia em cima de mordomia para quem já recebe altíssimos salários. E tudo é pago com o nosso suado dinheiro, retirado do nosso bolso de forma irracional, enquanto assistimos atônitos à falência da nossa saúde, segurança e educação públicas.
É difícil de engolir. Tal como a espinha de um peixe-rei que cravou em minha garganta bem em meio à posse de Jair Bolsonaro, no primeiro dia de 2019. Tentei de tudo para aliviar a dor e fazer com que o incômodo “corpo” descesse goela abaixo. Miolo de pão, azeite, muita água e bananas. Nada funcionou. No fim do dia, com muita dificuldade para falar ou mesmo para apenas engolir saliva, procurei o posto de saúde de Xangri-lá.
O local é bastante acanhado. Na sala de espera, pacientes se apertavam nas precárias e desbotadas cadeiras. Deixei claro à atendente a simplicidade do meu caso, para que ela não me colocasse à frente, em momento algum, de pessoas cujo estado de saúde fosse pior do que o meu.
Passaram-se 45 minutos quando uma constrangida enfermeira me chamou à porta. Disse-me, quase sussurrando, que não poderiam me atender pois não tinham um spray anestésico, necessário, segundo ela, para anestesiar a língua durante a tentativa de retirar a espinha do peixe-rei. Mais constrangida ainda, me passou um bilhetinho com o nome do medicamento. “Se você comprar e voltar aqui, poderemos lhe atender.”
Saí a procura da farmácia mais próxima e comprei o tal anestésico. Custou R$ 60. Voltei ao posto de saúde, aguardei na fila e enfim fui atendido. O médico também estava constrangido. Afinal, não faltava só aquele simples anestésico. Faltavam dezenas de medicamentos.
Disse-me, ele, que muitas pessoas não retornam ao posto após as enfermeiras solicitarem a compra de medicamentos. E quase chorou. Por óbvio, deixei o tal spray anestésico no local.
Enquanto isso, a cerca de cem quilômetros dali, os nobres deputados estaduais vão encher os bolsos com o desonrado auxílio-mudança. Cada novo parlamentar recebe R$ 25,3 mil em ajuda de custo. Não só os novos. Os reeleitos recebem ainda mais, assim como aqueles que deixam a Assembleia. Tal como em outros estados. Deputados federais e senadores, da mesma forma. Serão centenas de milhões só para iniciarem o mandato. E outros tantos milhões para finalizarem.
Isso é só mais um descalabro. A farra está em todos os cantos do setor público. No Executivo, no Legislativo, no Judiciário. Em âmbito nacional, estadual e federal. Por toda a parte.
Nesta semana, por exemplo, reportagem mostrou a zorra das diárias de vereadores do Vale do Taquari. Alguns parlamentares de Encantado, por exemplo, acham justo o valor de R$ 944,39 por dia para custear hotel e alimentação em Brasília. Embolsam a maior parte desse valor, com absoluta certeza. Alguém duvida disso? Ora, não seja tolo. Basta pesquisar preços de hotéis e restaurantes.
O Cullinan Hplus Premium, um hotel CINCO estrelas localizado na Asa Norte de Brasília, tem diária a R$ 237 em sites como o Trivago. E é com café da manhã incluído. Faça a conta: R$ 944,39 – R$ 237. Sobra R$ 707,39 por dia para cada vereador gastar com alimentação, táxi, Uber e afins. E é assim em todo o Brasil.
Chega de benefícios!
Comércio aos domingos
Em Lajeado, assembleia do Sindicato dos Comerciários ganhou o aval para negociar, com a patronal, a abertura de lojas em seis domingos do ano, conforme já prevê a legislação municipal: Natal, Páscoa, Dia dos Pais, Dia das Mães, Dia dos Namorados e Dia das Crianças. Esse é o primeiro passo para uma discussão maior, e que já é realidade em outros municípios: a abertura em todos os domingos e alguns feriados. Esse assunto ainda vai gerar muito debate nas ruas, plenário e nas redes sociais. Para o bem e para o mal.
“Isso non ecziste”
Óscar González-Quevedo Bruzón era conhecido como Padre Quevedo. Jesuíta de origem espanhola e naturalizado brasileiro desde 1960, foi professor universitário de Parapsicologia até o ano de 2012, quando se aposentou. Ele morreu ontem, aos 88 anos. Sempre avesso ao mundo além túmulo, a vida dele ficou marcada e conhecida por sua aversão a qualquer outra experiência com o sobrenatural. Em sua última aparição, na Band, chamou os pastores de igrejas evangélicas de ‘charlatões’ e finalizou com a célebre frase: “Macumbas e feitiçarias non eczistem.”
Tiro Curto
– Na câmara de Lajeado, o vereador Nilson do Arte (PT) colocou um aviso sobre o símbolo do partido na porta do gabinete. “Entre, ar-condicionado ligado”. Para alguns, não significa nada. Para outros, significa muito. Há quem diga que ele recebeu propostas do PSDB, PSL e PDT;
– Já o ex-deputado estadual Heron de Oliveira quer mesmo reestruturar o PDT de Lajeado, conforme antecipado pelo colega, Fernando Weiss. Nesta semana, Heron ligou para o vereador petista Sérgio Kniphoff, principal nome do PT para 2020;
– O presidente do STF, Dias Toffoli, negou pedido para que a eleição da mesa diretora da Câmara dos Deputados fosse realizada com votos abertos. A solicitação de abertura partiu do novo deputado federal, Kim Kataguiri, do DEM/SP;
– Greicy Weschnfelder, coordenadora regional de Educação (CRE), pode estar rumando para Encantado, onde assumiria o cargo de secretária de Educação. Ela é filiada ao MDB;
– Em Estrela, pesquisa interna do MDB aponta o nome de Elmar Schneider como principal aposta para concorrer à prefeitura em 2020, superando Paulo Finck;
– Fatos envolvendo o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e o vice-presidente, Hamilton Mourão, prejudicam a imagem do novo governo federal, já arranhada com a patuscada envolvendo o tal Queiroz. E atestam, mais uma vez, a indignação seletiva do brasileiro.
“O cofre do banco contém apenas dinheiro;
frusta-se quem pensar que lá encontrará riqueza.”
Carlos Drummond de Andrade
