Demorou exatamente um ano para que Francisco e Sabrine se encontrassem novamente. Romperam os laços no Réveillon de 2018 quando “Chico” causou infarto na Rebeca, a minipoodle de Sabrine, soltando fogos de artifício bêbado de caipirinha feita numa “cuia” de abacaxi.
– SEU CRETINO, ASSASSINO, BÊBADO, MALDITO! – vociferou Sabrine anunciando o fim do noivado.
– SUA CABRITA LIBERTINA– respondera cambaleando Francisco colocando a pá de cal no relacionamento. Não sabia por que cabrita e tampouco de onde “libertina”. Mas foi o que saiu pouco antes de arremessar a caipirinha de abacaxi contra a parede.
Logo ele que nunca havia matado um mosquito e tão pouco sabia falar palavrões. Era romântico, sensível e chegava a chorar vendo Lassie. Pusera tudo fora numa caipirinha num abacaxi.
Desde então, passaram 365 dias sem contato. Francisco sabia do estrago que fizera e tinha vergonha do feito. Sabrina era movida por um ódio e um rancor, embora dormisse todos os dias abraçada no pinguim de pelúcia que ganhou de Dia dos Namorados de Francisco.
Foi no meio-dia do dia 1º de janeiro que ambos quase colidiram os carrinhos de supermercado na esquina das gôndulas de ração para cachorro com a de bebidas na quitanda do centro.
– Oi, Sassá – disse Francisco invocando o apelido que chamava Sabrine enquanto casal unidos por um propósito. Embora nunca soube qual.
– Oi – respondeu Sabrine seca, mas com o coração palpitante.
– Você está morando no centro? – perguntou Francisco, afinal, até onde sabia, Sabrine estava morando sozinha num JK no São Cristóvão.
– Pois é, desde que minha mãe faleceu, estou morando com meu pai aqui no centro – respondeu fria.
– Ah, meus pêsames – disse Chico sabendo que havia gaseado o enterro da sogra por pura vergonha de existir.
– E estas garrafas todas no teu carrinho? Não mudou muita coisa pelo jeito… – indagou a mulher.
– Ah, isso aqui? Estou fazendo uma festa lá em casa.
– Você fazendo festa? Francisco, tu não era disso. O que aconteceu?
– Ah, a gente muda, né. Sabe como é, vida de solteiro, Sabrine. Mas você também parece que está dando uma festa com estas comidas todas no teu carrinho. Onde é o baile?
– Verdade. Tenho feito muitas festas neste último ano. Conheci tanta gente que tive que comprar um celular com mais memória para armazenar tantas pessoas. A todo momento tem alguém me chamando pra um babado. Sabe que estou virada ainda do ano novo, mas tem um pessoal lá em casa me esperando para continuarmos a festa – revelou Sabrine.
– Ah, que coisa boa, né? A vida tem que ser aproveitada mesmo. Mas muito bom te encontrar e saber que está tudo bem – disse Francisco com os olhos marejados de lágrima e as mãos suadas no volante do carrinho de compras.
– Pois é. Bom mesmo, né? Descobri a vida solteira. Mas então, tá. A gente se vê por aí.
Ao beijar o rosto de Sabrine, Francisco pensou em ajoelhar-se na quitanda e implorar desculpas e a mão da mulher amada na frente de todo mundo. Mas aí viu uma garrafa de champagne e um queijo brie no carrinho de Sabrine e desistiu.
Sabrine chega na casa do pai onde passou a morar desde julho do ano passado. O velho está rindo sozinho vendo videocassetadas no Domingão do Faustão. Ela se tranca sozinha no quarto, se abraça no pinguim de pelúcia e chora. No porta-retrato da estante, uma foto do casal com a Rebeca no colo, em Mariluz.
– Aquele cretino, assassino, bêbado, maldito…
Francisco chega na sua solitária residência. Estaciona o Golf, abre uma cerveja barata enquanto ouve Bee Gees, a banda favorita de Sabrine.
Jamais beijou outra mulher ou sequer recorreu a sites de relacionamento. Seu amor era todo de Sabrine. Mas a lembrança da mulher falando que a vida agora era só “festa” e novos amigos no celular lhe embrulhava o estômago.
– Aquela cabrita libertina…
- LITORAL: Enquanto uns boiam na praia, outros ganham a vida vendendo boias
No Twitter: @LukasDaLenna: Fico no ônibus torcendo pra ninguém sentar do meu lado e quando ninguém senta fico me perguntando o que tenho de errado que ninguém quis sentar comigo.
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