Entidades e economistas mostram otimismo com a economia brasileira em 2019. O fim das incertezas políticas, aliado a um cenário internacional positivo e à expectativa da maior safra da história prometem encerrar o ciclo de crise iniciado em 2014.
Para o diretor-executivo da Sicredi Ouro Branco, Neori Ernani Abel, o Brasil tem tudo para ingressar em um ciclo virtuoso, desde que consiga ajustar a máquina pública de forma a reduzir gastos e, por consequência, amortizar parte da dívida pública que hoje representa cerca de 80% do PIB.
“A expectativa é de uma inflação de cerca de 4% no ano, e o câmbio também deve se manter em patamares controlados”, afirma. A expectativa de crescimento de 3,7% no PIB global, conforme projeção do FMI, também amplia as possibilidades de recuperação na economia nacional.
De acordo com Abel, a crise do setor público no estado continua, mas os gaúchos podem esperar melhorias no cenário econômico, em especial devido à possibilidade de uma safra recorde.
Se em anos anteriores o agronegócio impediu que o RS e o país tivessem uma recessão ainda mais severa, a expectativa é de ser o propulsor do novo ciclo econômico. Segundo ele, a maior oferta de grãos como milho e soja é muito benéfica para o Vale do Taquari.
“Com mais grãos no mercado, a tendência é de redução no preços de insumos como ração, beneficiando a produção local”, ressalta. Diante da vocação regional para a produção de alimento, Abel destaca o papel das cooperativas na geração de riqueza por meio da venda de produtos com valor agregado ao mercado.
Economista do Sebrae, Patrícia Palermo acredita que a nomeação de Paulo Guedes como ministro da Fazenda, um economista declaradamente liberal, representa maturidade para o país e o fim das políticas econômicas paternalistas.
“O Estado deverá abandonar a função de indutor da economia via grandes programas de gastos públicos ou práticas agressivas de subsídios, para uma função de regulador”, aponta. Conforme Patrícia, a economia nacional já passa por um processo de recuperação cíclica, mas o ambiente favorece uma retomada mais intensa se houver um impulso de confiança.
Na opinião da economista, se o governo brasileiro tiver a condução das reformas como agenda fundamental, buscando resolver o problema fiscal e impulsionar o crescimento, poderá gerar os ganhos de confiança necessários para promover a expansão ainda em 2019.
Otimismo com cautela
Presidente da Fiergs, Gilberto Porcello Petry afirma que as indústrias gaúchas e nacionais deixaram para trás a maior recessão da história do setor. “A queda no endividamento das empresas e das famílias nos últimos três anos, o alto grau de ociosidade das fábricas, a inflação controlada e os juros reduzidos são fatores que contribuem para um ambiente favorável.”
Números da Fiergs mostram que a produção industrial do estado caiu 18,5% entre 2014 e 2016, enquanto a nacional reduziu 16%. Conforme Petry, os crescimentos registrados em 2017 somados à estimativa para 2018 não chegam a 1/3 da queda acumulada.
“São tempos de recuperação para o setor industrial, que ainda carece de consolidação”, aponta. De acordo com Petry, a crise fiscal do estado se agravou no fim deste ano e as medidas necessárias para a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal não foram concretizadas, o que aumenta a apreensão em relação ao futuro.
Para o presidente da Fiergs, o RS pode sair da atual situação se começar a tomar medidas como a redução de despesas e concessões e outorgas à iniciativa privada a partir da próxima gestão do governo do Estado.
Em relação aos indicadores de trabalho, Petry afirma que a taxa média de desemprego deverá terminar 2018 em 12,3%. Para 2019, a previsão é de melhora nos números formais no país, com uma taxa de 12% ao fim do ano. No RS, a taxa de desemprego se mantém em torno de 8,2% desde o terceiro trimestre de 2016.
“Há espaço para crescimento das contratações na indústria no próximo ano por conta da ociosidade do mercado de trabalho”, relata. Segundo ele, a modernização das relações trabalhistas aumentou a segurança jurídica para empresas e trabalhadores, resultando na geração de 40,9 mil postos em contrato de trabalho intermitente e 21,2 mil em tempo parcial.
Presidente da Federação de Entidades Empresariais do Rio Grande do Sul (Federasul), Simone Leite defende novas agendas de desenvolvimento para que o otimismo resulte em crescimento da economia. Segundo ela, o país passa por fenômenos que influenciam diretamente no encolhimento econômico.
Entre eles, estão o baixo engajamento com as pautas coletivas, a terceirização de responsabilidade e a negação da política, fatores que também agravam o quadro do estado. “Vivemos num constante cabo de guerra, em que poucos aceitam ceder em favor da sociedade.”
Conforme Simone, os líderes do RS precisam ter consciência de que continuamos cavando uma crise para o futuro em que prevalece o espírito de belicosidade, a política de terra arrasada e a busca por recompensas pessoais ou corporativas.
Ampliação de mercados
As perspectivas da Fecomércio-RS para 2019 são de crescimento e ampliação de mercados para o setor. Segundo o presidente da entidade, Luiz Carlos Bohn, a recessão acabou e o novo governo sinaliza a implementação de uma agenda de reformas e de promoção do crescimento sustentável.
“Precisamos enfrentar aquilo que estruturalmente aumenta o gasto público e o que cria empecilho ao crescimento”, destaca. Para ele, as reformas da Previdência e tributária devem ser entendidas pela sociedade como prioridade.
Bohn lembra que a projeção de crescimento do RS ainda está abaixo da expectativa nacional. Segundo o presidente, para o RS voltar a crescer, é preciso um compromisso com uma agenda de crescimento econômico que priorize a melhoria da infraestrutura logística e a redução da despesa no setor público.
Divulgado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Índice de Confiança do Comércio alcançou em dezembro a maior pontuação desde abril de 2013. O indicador chegou a 105,1, alta de 10% na comparação com o ano passado.
Thiago Maurique: thiagomaurique@jornalahora.inf.br