Com o calor que fazia na segunda-feira, dia 10 de dezembro, dona Maria Sueli Wolfart, 67, decidiu buscar um copo de água em sua residência, em Linha Araçá, interior de Boqueirão do Leão, depois de terminar a capina numa plantação de aipim na beira da estrada.
Ela percorria os 50 metros até sua casa, onde reside com o marido Arlindo e o caçula Volnei, quando ouviu o estouro de uma corda e o trote apressado do “Pintado”, um boi de canga que comprou faz dois anos.
“Já tinha passado pelo boi. Ele me atacou pelas costas com toda força. Por sorte, os chifres dele são arqueados para trás e não me acertaram, porque senão eu teria morrido na hora”, relembra dona Maria.
Com a força do impacto do ataque do boi, a idosa foi arremessada mais de dois metros para frente. Descontrolado, o animal passou a pisotear Maria e dar-lhe cabeçadas no corpo estendido no chão.
“Não sei de onde tirei forças para dar um grito. Foi quando um dos peões que estavam trabalhando numa lavoura me ouviu e vieram me socorrer. Depois disso desmaiei”, relata. De imediato, foi levada ao Hospital Bruno Born, em Lajeado.
Mãe de oito filhos, dona Maria pensou que não resistiria aos ferimentos e temia não voltar para casa. “Eu não conseguia nem respirar ou comer de tanta dor que sentia por todo corpo.” As dores tinham razão: exames apontaram fratura em oito costelas, duas vértebras e em uma das clavículas. Além disso, o impacto no tórax fez Maria ficar com água no pulmão.
“Pensei mesmo que eu ia subir”, diz apontando para o céu em alusão ao risco de morte que sofreu.
O penúltimo filho, Vanderlei Wolfart, 31, recebeu a notícia em Lajeado. “Trabalho como caminhoneiro. A gente fica longe da família e nunca pensa que uma coisa assim pode acontecer. Mas agora decidimos que nossa mãe vai morar conosco em Lajeado”, conta.
A filha Celita Ruchaper, 34, que trabalha como técnica em Enfermagem, salienta a importância de cuidados especiais e apoio da família em momentos difíceis como esses.
“Foi um grande susto. Pensamos que poderia ter acontecido o pior. Depois do baque, focamos em fazer tudo de melhor que poderíamos para que nossa mãezinha melhorasse logo.”

Depois de mais de 10 dias internada no Hospital Bruno Born após ser atacada por um boi, dona Maria Sueli recebeu alta e vai passar o Natal com a família Wolfart em Lajeado
Presente de Natal
Foram mais de dez dias internada no Hospital Bruno Born no leito número 2 do quarto 50, em Lajeado. Entre analgésicos e a comida dada na boca pelo filho Vanderlei ou pela filha Celita, as dores passaram aos poucos. O desconforto era alentado pelo afago da família.
“Ela é o nosso maior presente de Natal de todos os tempos. Parece que tem que acontecer uma coisa ruim assim para a gente aprender a dar o devido valor para as coisas mais simples da vida”, conta Vanderlei.
Nos quase 70 anos de vida, dona Maria jamais havia passado um dia sequer hospitalizada. De boa saúde, bom humor e de gestos simples, passou a vida toda em Boqueirão do Leão.
Internada no Bruno Born considerou que pela primeira vez na vida não passaria o Natal com a família.
Quando recebeu nessa sexta-feira a notícia que receberia alta e poderia ir para casa, celebrou.
“Vai ser o melhor e mais diferente Natal da minha vida.”
Porém o doutor Roberto Wagner orientou que Maria não fizesse esforços físicos e ficasse em repouso.
“Tem que ficar sentadinha na hora da ceia. Não pode fazer o peru e nem o chester. Precisas de repouso e analgésicos, dona Maria”, prescreveu o doutor.

Nessa sexta-feira, 21, dona Maria Sueli almoçou pela última vez no Bruno Born com o filho Vanderlei. Em 67 anos de vida, idosa nunca tinha passado sequer um dia no hospital até o incidente em Boqueirão do Leão
“Tchau, hospital”
Com o documento de alta hospitalar em mãos, depois de fazer o último almoço no Bruno Born junto do filho Vanderlei, Maria levantou-se vagarosamente do sofá, despediu-se das colegas de quarto e, quando alcançou a porta, voltou e disse a elas.
“Tchau, hospital.” Ao passar pelo posto da enfermaria, enfatizou. “Fui muito bem atendida. Daria uma nota 10 para a equipe do hospital que salvou minha vida.”
Boi brabo vira “churrasco”
Quando comprou o “Pintado”, em 2016, na época já com 5 anos, o antigo proprietário do animal alertou dona Maria.
“Ele me disse que o bicho não gostava de criança e nem de mulher. Mas jamais pensei que pudesse acontecer uma coisa desdas.”
Faz poucos meses, o boi tentou atacar um vizinho de Maria. “Por sorte, meu amigo conseguiu fugir ‘a mil’ e não deu em nada mais grave.”
Ao que tudo indica, depois do ataque do boi “Pintado”, ele vai virar churrasco. “Acho que não tem outro destino para ele depois disso tudo que aconteceu”, diz Vanderlei.
Maria já adianta: “Eu que não vou comer carne desse boi. Quero ele bem longe de mim.”

Internada no Hospital Bruno Born desde o dia 14 depois de sofrer uma hemorragia, Maria da Rosa vai receber ceia de Natal preparada pelos filhos.
Para quem fica
Em 2016, Maria da Silva da Rosa, 54, de Taquara, passou por uma cirurgia complexa de remoção de cisto no ovário. O período era o mesmo, poucos dias antes do Natal. Daquela vez, recebeu alta no dia 23 de dezembro e passou a ceia com a família.
Porém, desde o dia 14 de dezembro, foi hospitalizada em decorrência de uma hemorragia. Desta vez, o Natal será no hospital. “Não tem problema. Tenho três filhos. Eles vêm passar a ceia comigo”, diz.
A cunhada Nadir da Silva, 48, ressalta. “Vamos trazer um peru para ela.” A octagenária Elmira Szhussler também passará o Natal acompanhada da família no quarto número 50 do Hospital Bruno Born.

Cássio iniciou tratamento de hemodiálise no Natal de 2014
Vida nova
No Natal de 2014, às 7h, Cassio Miguel Kempfer, 29, iniciou o tratamento de hemodiálise. Com problemas nos rins detectado no dia 22 de dezembro, a médica lhe alertou. “Se você quiser sobreviver, vai ter dedicar-se ao tratamento e fazer transplante.”
Em 30 dias, ele perdeu mais de 20 quilos. Foram três sessões de hemodiálise por semana ao longo de dois anos e meio.
“Não desejo isso para ninguém. Meu alento foi descobrir que minha mulher estava grávida. Meu filho Miguel Augusto foi minha maior força para vencer esta doença.” No dia 2 de agosto de 2016, Cássio recebeu a doação de um rim e obteve sucesso na cirurgia.
“Nasci de novo. Sempre digo que tenho dois aniversários ao longo do ano.” Hoje afirma que o Natal tem um outro significado. “Quando a gente passa por momentos assim, aprende a compartilhar mais intensamente os momentos com a família.”
Cristiano Duarte: cristiano@jornalahora.inf.br