Hedi Therezinha Sulzbach ficou sem entender quando o neto mais velho foi visitá-la, em Estrela, com um computador. “Mas, Xande, eu não sei nem ligar e desligar”, contestou.
O neto ensinou estas duas operações básicas e só. Respondeu que o aparelho seria muito bom para a cabeça da avó. “E eu sinto isso, eu tenho a memória melhor do que as outras pessoas da minha idade que não usam. Aprendi até a falar melhor.” Notebook, smartphone, posto e click eram palavras completamente estranhas e que agora.
Assim como Hedi, 8,7 milhões de pessoas acima dos 60 anos estão passando a se conectar à rede mundial de computadores. De acordo com o IBGE, os idosos passaram a acessar mais a internet de 2016 para 2017. Pesquisa divulgada esta semana aponta que 31,1% das pessoas com 60 anos ou mais utilizaram a tecnologia frente aos 24,7% do ano anterior.
Aprendendo na marra
O presente do neto veio em 2013. De lá para cá, Hedi aprendeu “na marra” a usar a internet. No início os sites de busca eram os preferidos. “Quando dá alguma dúvida, eu vou lá e pesquiso.” Depois de alguns meses, a filha criou um perfil para ela no Facebook. Aí o envolvimento se intensificou. Aos 77 anos, ela tem dois perfis.
Na rede social, ela responde publica imagens de flores, curte fotos de amiga e parentes e acompanha a página do papa Francisco. Outra mania, é responder a testes. Não usa muito a internet para falar com os filhos, que são muito ocupados.
A agricultora aposentada mantém certo cuidado com as coisas que lê na rede social. “Tem muita coisa que escrevem ali que não é verdade”, afirma. Hedi diz que confia mais nos telejornais.
Ginástica para o cérebro
Trabalhando como advogado há quase 30 anos, Venâncio Diersmann, 78, acompanhou a evolução da tecnologia. Quando começou na profissão, uma Remington ou uma Olivetti eram o maquinário disponível.
Quando surgiram as máquinas elétricas, já foi uma facilidade. O advento da internet mudou ainda mais o trabalho. Para acessar algum tribunal, era necessário ir até o fórum. Para jurisprtudência, pilhas de livros. No quarto que fica seu computador em casa, a estante dos livros de direito ficou vazia. “Despachei tudo. Agora tu acessa tudo na internet em dois segundos.”

Para Venâncio, a novidade é a internet para lazer. “Não preciso ficar esperando a jogada”
A internet não é exatamente uma novidade para ele. É uma ferramenta profissional que já utiliza há cerca de 20 anos.
O que é novo é o uso da rede para lazer. Joga xadrez, que considera “uma ginástica para o cérebro”, acompanha a previsão do tempo e se comunica pelo email. Esta semana, recebeu mensagem de um colega da década de 1950, que não via há anos. “Só não uso o Facebook, tenho uma certa reserva por causa da privacidade.”
Além de não ter que montar o tabuleiro, o jogo virtual traz outra facilidade. “Aí tu não pega jogador chato. O computador responde rápido, não me faz esperar.”
Mais novo ainda é o Iphone, que ganhou um mês atrás e ainda está aprendendo a lidar. “Pra ser sincero, eu acho legal”, confessa. “Para o pessoal mais velho, essa busca por informações rápidas, é muito importante para manter a atividade cerebral e a concentração.”
Cuidados na rede
Para a Alessandra Brod, professora do curso de Educação Física da Univates, o uso da internet é importante para estimular a mente. “Aprender continuamente, estar sempre lendo, mantendo a escrita são formas de estimular a parte cognitiva e manter a mente ativa”, afirma;
A universidade oferece cursos de informática para a terceira idade. Ela coordena o projeto de extensão Ações sociais e de saúde em gerontologia, voltado à terceira idade.
Para Alessandra, o que mais facilitou o crescente acesso dos idosos foi o celular. “Ter um computador em casa é um dificultador, até financeiramente. O celular facilitou. A maioria está perdendo o medo e aprendendo a lidar com este aparelhinho.”
Alessandra Brod destaca que os mais velhos veem menos maldade nas relações virtuais, o que aumenta o risco de exposição inadequada e compartilhamento de notícias falsas.
“Hoje em dia tu acaba recebendo mensagens de pessoas que tu não conhece. Eles correm mais risco. É importante não passar dados ou imagens a pessoas que não se tem confiança.”
Matheus Chaparini: matheus@jornalahoira.inf.br