Prestes a completar 76 anos, no dia 15 de janeiro, Sírio Werner é proprietário de um dos primeiros bares da cidade, localizado na rua Paulo Emílio Thiesen.
A fórmula para manter o negócio ao longo de no mínimo cinco décadas é simples: separar os bons clientes dos maus.
“Num bar vem todo tipo de gente. Com o tempo, depois da segunda bebida, a gente já sabe quem presta e quem não presta”, conta o experiente Sírio.
Segundo ele, quando sente que a pessoa não é boa gente, começa a deixá-la mais de canto. Por vezes, inclusive, acaba “esquecendo-se”, por vontade própria, de servi-la.
“Infelizmente tem que ser assim. Aí aquele que vem para o bar só para incomodar acha o atendimento ruim e não vem mais”, diz.
Para agraciar e fidelizar os bons frequentadores, o proprietário faz um tradicional churrasco todas as sextas-feiras. Enquanto isso, uns preferem jogar cartas – um dos carros-chefes do bar, com direito a pôquer, canastra e até schafkopf.
No outro lado da rua, em uma mesa de madeira rústica, os clientes tomam cerveja barata e dão boas risadas.
Conhecido como “Ganso”, o pintor David Bueno, 31, é um jogador de cartas de mão cheia e um dos mais assíduos frequentadores do bar. “Venho todos os dias confraternizar com a galera e tomar um schnaps”, revela.

Amigos do bairro se encontram todos os dias no Sírio para beber e conversar
Do refri aos goles de “birita”
Por tratar-se de uma referência em encontros no bairro, foi no bar que muitos jovens do bairro tomaram suas primeiras bebidas.
Desde as surrupiadas nos passarinhos de Sírio que o jornaleiro Vitor Hugo, 45, dava na infância, ele também tornou-se um frequentador de carteirinha do bar.
“Sou cria do Olarias. Venho desde sempre no bar do Sírio. Quando eu era pequeno, o Sírio era casca grossa com a gente. Já peguei uns passarinhos dele. Coisa de moleque”, lembra.
“É a nossa rodoviária velha”, brinca outro cliente assíduo, o vidraceiro Cleberton Jocimar.
Outros menos adeptos de bebidas etílicas, talvez, também não deixam de frequentar um dos bares mais famosos do bairro.
“Venho todos os dias para tomar ‘refri’ com meus amigos torcedores do Lajeadense. O atendimento é único”, fala o pintor Anderson da Silva, 21.

Pôquer, canastra e schakpof são os principais carteados no bar
Lições a grosso modo
Há duas semanas, Vitinho esqueceu o carro em frente ao bar e foi para casa. Para dar uma lição no cliente, Sírio colocou sacolas de lixo no porta-malas.
“Rodei um bom tempo com meu carro sem entender o que estava acontecendo. Era um fedor que vinha sei lá de onde. Olhava para os bancos de trás e não via nada de diferente. Até que decidi abrir o porta-malas”, conta às gargalhadas Vitinho.
“O Sírio é o rei da sacanagem. Ele sozinho incomoda por três ou quatro pessoas”, completa Jocimar.

Segredo do sabor da cachaça de alambique está no abacaxi sempre fresco
Segredos do alambique
Além de selecionar apenas os bons clientes, Sírio também precisa conquistá-los pela qualidade do principal produto do bar.
Para isso, seleciona uma cachaça de alambique “mais do que especial” e mistura em fatias de abacaxi sempre fresco.

Declaradamente gremista, bar é decorado com o time do coração do dono
Gremista, mas democrático
O “gremismo” de Sírio se evidencia nas paredes do estabelecimento. Mas também há espaço para um quadro do Inter de generosa proporção em uma das alas do bar.
“Tem lugar para todo mundo”, afirma, embora em um dos quadros principais do Grêmio, uma santa ceia de gremistas, Judas esteja com uma camisa do Colorado.
Antigo
Com orgulho, Sírio conta que o bar foi o primeiro instalado no Olarias e acredita que seja um dos mais antigos em atividade no município.
“Quando comecei no Olarias, só existiam oito moradores daqui até o centro”, rememora.
Ele não lembra a data exata em que inaugurou, mas o modo como se sucedeu o seu empreendedorismo guarda latente na memória.
“Cheguei a trabalhar em salões paroquiais no Montanha e aqui no Olarias. Aí quando parei de trabalhar no meu bairro me chamaram para voltar para o Montanha. Pensei comigo mesmo ‘vou nada, vou é montar minha ‘maloquinha’”, brinca.
Quem vê o bar de fora não imagina o quão generosas são as instalações da casa da família de Sírio, que reside nos fundos do estabelecimento – com direito à piscina, churrasqueira, forno de pão, sinuca e um lindo jardim.
“Moro aqui com minha esposa. Há cinco anos completamos bodas de ouro”, conta orgulhoso.
O horário de expediente do bar, desde a fundação, é das 7h às 20h.
Celebração
E como já é marca do Bar do Sírio, neste sábado, 22, clientes (os bons) terão uma celebração exclusiva de fim de ano. A partir das 14h, será servido churrasco.
“O abacaxi da cachaça estará geladinho para o pessoal”.
Cristiano Duarte: cristiano@jornalahora.inf.br