Surto de raiva mata animais e alerta a região

SÉRIO - preocupação no campo

Surto de raiva mata animais e alerta a região

Pelo menos cinco foram devido à doença e outros 35 casos estão em análise. As mortes de animais em propriedades rurais trazem preocupação. Há pelo menos dois meses são constatados óbitos de bovinos que podem ter sido infectados pela doença transmitida por morcegos hematófagos. Até aqui, cinco foram pela raiva. Para orientar produtores, a Secretaria da Agricultura e a Emater/RS-Ascar promoveram reunião na tarde de ontem

Surto de raiva mata animais e alerta a região
Vale do Taquari

A morte de 40 bovinos coloca em alerta produtores do município de Sério. Os primeiros óbitos aconteceram há dois meses. Cinco casos já foram confirmados para raiva bovina, transmitida por morcegos hematófagos.

A equipe da Inspetoria Veterinária de Lajeado percorreu dez propriedades buscando material para exame laboratorial e investigando o possível surto de raiva.

De acordo com o médico-veterinário do Estado, Felipe Lopes Campos, nem todas as mortes foram confirmadas em decorrência do vírus da raiva bovina. “Os sintomas muitas vezes são confundidos com intoxicação alimentar”, observa.

Destaca que não há motivo para pânico, pois órgãos oficiais monitoram a situação e, se forem confirmados novos casos, será deslocada equipe para identificar o abrigo dos morcegos que estão transmitindo a raiva bovina.

Para orientar produtores rurais do município, a Secretaria da Agricultura e a Emater/RS-Ascar promoveram uma reunião com a participação de Campos. Ele listou os principais sintomas que o gado apresenta ao ser infectado pelo vírus e os cuidados que o agricultor precisa tomar.

“Os morcegos costumam atuar num raio de 15 quilômetros. O produtor rural deve ficar atento ao seu rebanho, com sinais de mordidas e sangue aparente”, alerta. Por fim, enfatizou que nem todo bovino atacado pelo morcego é infectado.

Prejuízo de R$ 9 mil

O agricultor Pedro Ruggeri, 57, contabiliza um prejuízo de R$ 9 mil com a morte de duas novilhas e dois bois. Os casos foram confirmados para raiva bovina e agora teme que outros animais possam morrer.

Na propriedade, na localidade de Porongos, tem 20 cabeças de gado, sendo 14 vacas leiteiras. “É nossa fonte de renda e, para evitar novas mortes, vacinamos todo o gado”, relata Ruggeri.

Conforme o médico-veterinário da prefeitura, Eduardo Giongo, o município vive um período crítico e está em alerta máximo quanto às mortes de bovinos. “Não tem o que fazer. A solução é identificar a furna ou local onde vivem os morcegos e vacinar o gado de forma preventiva”, ressalta.

Carlos Brandt, secretário municipal de Agricultura, enfatiza que já solicitaram uma equipe para localizar o abrigo dos morcegos. “Estamos à espera desse grupo que tem maior conhecimento e atua diretamente no controle dos morcegos transmissores do vírus”, pontua.

De acordo com os profissionais da Inspetoria Veterinária, há pelo menos 35 espécies de morcegos, mas apenas uma ataca o gado e provoca a raiva. “Por isso não se deve tentar matar o morcego, algumas espécies têm papel importante no ecossistema e contribuem no combate aos que transmitem a raiva”, reiteram.

Surto em 2017

No ano passado, moradores de Boqueirão do Leão ficaram em alerta com a morte de 50 bovinos, boa parte confirmada pela infecção da raiva bovina. Na época, equipes da Secretaria da Saúde foram mobilizadas para orientar a população sobre a vacinação preventiva do gado, cães e gatos.

Há 29 anos

Por muitos anos, não se ouvia mais falar em surto de raiva na região. Profissionais da área da saúde não contam com recursos para prevenir o contágio humano.

Há 29 anos, na propriedade da família Cristani, em Pedras Brancas, Boqueirão do Leão, cerca de 30 bovinos morreram. Conforme estudo na época, a morte foi causada pelo vírus transmitido pelo morcego hematófago.

Felipe Lopes Campos

Entrevista

Veterinário alerta para sintomas

Felipe Lopes Campos é médico-veterinário e fiscal estadual agropecuário. Durante encontro com produtores rurais de Sério, destacou a importância da vacinação preventiva do rebanho, embora não tenha garantia total de imunização do gado.

A Hora – Quais os sinais iniciais da raiva bovina?

Felipe Lopes Campos – O animal busca o isolamento, apresenta perda de apetite, salivação abundante, dificuldade para engolir, movimentos desordenados, tremores musculares, andar cambaleante e contrações musculares involuntárias.

Quanto tempo leva para o animal apresentar os sintomas e seu óbito?

Campos – A partir do momento em que o animal é infectado, há um período de 75 dias para aparecerem os sintomas. Depois são questão de dias, em geral de um a sete à morte do bovino.

O que fazer diante da suspeita de raiva bovina?

Campos – O produtor deve relatar imediatamente ao posto veterinário municipal, quando nos casos que envolvem bovinos, por exemplo. Em situações domésticas ou animais de estimação, a Secretaria de Saúde deve ser informada para dar andamento nos protocolos.

A raiva pode ser transmitida aos humanos?

Campos – Sim, é uma doença incurável. No mundo, segundo a OMS, morrem cerca de 55 mil pessoas por ano em decorrência da raiva. Ela não é comum no RS, mas em outras partes do país aparece com maior frequência.

O que fazer se encontrar um morcego ou um animal infectado?

Campos – Nossa orientação é evitar qualquer contato com morcegos. Também não se deve tentar matar o morcego ou destruiu o local de alojamento. Se aconselha o isolamento daquele animal infectado ou com suspeitas.

Como a raiva bovina se propagou em Sério e região?

Campos – Sabemos que o vírus se manifesta, entre diversos fatores, pelo estresse ao morcego. No ano passado, teve casos em Boqueirão do Leão, Progresso e outras cidades do Vale. O que pode estar ocorrendo é uma migração ou até mesmo a interferência no habitat convencional do morcego.

Morcego_Reprodução Internet

Informações do morcego

Essa espécie de morcegos tem dentes pequenos e afiados. Pesam cerca de 30 gramas. O ataque é sutil e a mordida, superficial, para não acordar a presa. Eles têm o sentido da termopercepção, um mecanismo que auxilia a descobrir vasos sanguíneos superficiais, para uma mordida rasa e menos dolorida. Morcegos vampiros têm um forte anticoagulante na saliva, que retarda a cicatrização da ferida, permitindo que se alimentem por mais tempo; essa substância tem sido estudada para a elaboração de remédios para circulação.

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