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Opinião

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No caso de tragédia envolvendo minha pessoa, provavelmente restarei-me morto e em pé.
Sim, pois é verdade.
Se morrer de tiro, lá estarei. Mortinho da Silva, mas de pezito. De óculos escuros e camisa Agostinho Carrara.
Infarto? Acontece. Mas lá estarei eu, com o coração esmagado e de corpo em vertical. Sem ter digerido um hotdog de duas salsichas e com dois boletos da Renner vencidos na mochila. 100% totalmente falecido.
E por aí vai. Quando se calça 46 é assim. Se torna mais difícil morrer deitado.
Achar um tênis, ou até um sapatênis, um crocs, um mocassim de jogar caça-níquel ou pra dar aquelas duas voltas ao redor do laguinho do Parque dos Dick, ou qualquer coisa que se calce nos pés, é tamanhamente difícil.
Ter um pé grande te faz pensar às vezes que o mundo não foi feito pra você e que aquela frase de “o mundo aos seus pés” simplesmente não te inclui.
Embora, claro, exista uma lenda que te avantajasse no imaginário feminino (e que, infelizmente, nem é verdade). Isso até é bom.
Mas pode decepcionar, a bem da verdade.
O fato é que a indústria dos calçados não tá nem aí pra tua reles existência.
Já faz um mês que peregrino de loja em loja à procura de um tênis. O discurso é sempre o mesmo. “Oi, tô procurando um tênis. MAS eu calço 46”.
A resposta, também é sempre a mesma.
“Ai, moço. Desculpa. Mas a gente só trabalha até o 43…”
S-E-M-P-R-E.
Tem vezes que as atendentes erguem uma jaula de zoológico ao me redor e começam a me entrevistar.
– Mas tu calça 46? Como assim? Do que tu te alimenta? Como tu vive? Como você faz para dormir? Não atrapalha isso na hora de ir no banheiro? E pra fazer bebês, como tu faz? É sério isso? Pode? Tem como?
[bloco 1]
Aí explico que isso veio desde sempre. Quando nasci, eu era dois pezinhos com olhos arregalados, pulmão e bracinhos.
Digo que quando fiz meu exame do pezinho o pessoal lá do postinho teve de usar cartolina para carimbar os meus pés.
Em outras ocasiões, vou embora triste de uma centena de lojas. Com a sola do meu único tênis 46 abatido, gasto e furado, sem nenhum êxito e escuto murmúrios de atendentes ao fundo em risadas abafadas num depósito de tênis de corrida fedendo a peidos úmidos em jornadas calçadistas de mais de 10 horas a fio.
Capão da Canoa, Estrela, Lajeado, Santa Clara do Sul, Encantado, Florianópolis e PORTO ALEGRE.
Não achei nenhum tênis no meu tamanho.
NADA.
Aí muitos me falam “Ah, mas tem na internet”.
Não, não tem. Só de basqueteiro. Nada contra o basquete. Tenho até amigos.
Mas não é por ter o pé grande que não posso ter meu próprio estilo.
Tem loja que tu fala que calça 46. A atendente olha pro teu pé, percorre tua canela, vai subindo até teu olho e te lança uma olhadinha sagaz. Do tipo, “O que mais você tem aí, garotão?”
Antes fosse. Não sabem que desgraça que é,
Não tem nada disso.
É só o pé mesmo…
Com espaço weekend e cabinado para o chulé.


Rio Taquari

Um olhar sobre o avesso do avesso

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(SEM LEGENDA)

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