Fim de ano: época de cumprir as promessas feitas aos filhos

Comportamento

Fim de ano: época de cumprir as promessas feitas aos filhos

Se o início de ano é a época para fazer promessas em relação à própria vida, o fim do ano é o momento em que muitos pais e mães se deparam com o momento de cumprir ‘acordos’ feitos com os…

Fim de ano: época de cumprir as promessas feitas aos filhos

Se o início de ano é a época para fazer promessas em relação à própria vida, o fim do ano é o momento em que muitos pais e mães se deparam com o momento de cumprir ‘acordos’ feitos com os filhos. Em alguns casos, a recompensa ou castigo é intermediada pelo Papai Noel, que atende aos pedidos dos bons meninos e meninas.

Segundo o psicólogo de crianças e adolescentes Arthur Lengler, se o pai prometeu, é preciso cumprir. Ele faz a ressalva de se analisar o que impediu que a criança cumprisse sua parte, como estudar ou arrumar o quarto, por exemplo, mas, em rigor, os pais devem manter a palavra. Explica que a negação de uma recompensa – como determinado presente ou programa de lazer – ensina a criança a lidar com a frustração e com responsabilidades.

“É válido dar castigos. Se os pais prometem uma coisa e depois descumprem, estão ensinando que a criança pode burlar pactos. E quando ela crescer e for trabalhar, não será assim”, pontua. Orienta que pais e filhos conversem sobre o que cabe a cada parte, pois a negociação serve para deixar claro que haverá cobranças e consequências.

Arthur Lengler

Um dos problemas que atingem famílias no momento de aplicar a punição é a discordância entre pai e mãe. “Isso é extremamente prejudicial.” Os pais devem se resolver sem envolver os filhos. Essa relação conflituosa também pode ter a ver com o fato de que, por vezes, as mães são muito apegadas aos filhos. “O homem costuma ser mais desligado, mas a mãe tem dificuldade de se afastar do filho, e quando diz não para ele é como se negasse uma parte dela mesma. É preciso trabalhar a regulação emocional.”

No outro extremo, observa que a figura paterna está em falta na maioria dos lares. Em geral, o homem passa todo o tempo trabalhando e não convive com os filhos de forma produtiva. Isso contribui para que, principalmente meninos, cresçam sem referencial do papel de pai, alimentando um círculo vicioso. “O pai tem que contar que também teve infância e adolescência e contar o que fazia naquela época”, diz.

Gratificação não palpável

Segundo Lengler, apesar de castigos que envolvem bens materiais, como videogame ou presentes, serem, de forma geral, importantes, é fundamental que a criança encontre valor nas experiências não palpáveis, como passeios em família ou convivência com outras crianças. Cita que uma teoria da Psicologia defende que a felicidade é proporcional ao número de grupos em que a pessoa está inserida.

“Eu tenho pacientes inteligentíssimos, que sempre estudaram em escola particular e nunca abriram a boca em sala de aula. Entram e saem sem dizer ‘oi’; não têm um amigo sequer”, exemplifica. Para ele, uma das falhas do ensino tradicional é não abordar o conhecimento emocional. “As crianças precisam aprender a cultivar amizades. Os pais têm que construir esses valores.”

Unhappy girl crying near christmas tree, dressed in red and santa hat

“Palmada na bunda não mata ninguém”

Uma vendedora que pediu para não se identificar conta que teve que recorrer a castigos quando ‘ganhou’ uma nova filha, de 8 anos, fruto do primeiro casamento do atual companheiro. Ela relata que já era mãe de uma adolescente e que a garota sempre foi tranquila e estudiosa, mas a mais nova é peralta.

A pequena é resistente aos estudos e às vezes apronta na escola. Como castigo, a mãe reforça as atividades de aprendizado e corta lazeres, como assistir à TV. “E, com certeza, às vezes, leva uma palmada na bunda, pois isso não mata ninguém”. Além disso, as duas devem ajudar nas tarefas de casa, limpando o que sujam e mantendo o banheiro das crianças sempre limpo e organizado.

Porém, ela e o companheiro sempre deixam claro o motivo da punição. Já voltaram atrás, por exemplo, em fazer a festa de aniversário da criança, por que ela iria mudar de escola e a ocasião seria uma forma de se despedir dos coleguinhas. “Mas ela sabe que foi por isso e não por que ela tenha se comportado”, conta.

Já para o Natal, a família não costuma trabalhar com promessas, mas avalia como cada uma se comportou ao longo do ano. “Conversamos com elas sobre o que elas merecem, de acordo com o que temos condições de comprar e com o que elas precisam. Não é comprar por comprar.”

Férias sadias

Lengler indica três atividades para aproximar pais e filhos nestas férias.

Passeio no parque: caminhe em um lugar com natureza, de preferência que não necessite de carro para o deslocamento. Deixe a criança brincar livremente e, por mais que fique tentado, não a critique em nenhum momento. Se for preciso algum tipo de repreensão, exercite a comunicação positiva, dialogando olho no olho, e realmente ouvindo a criança e compreendendo seus motivos.

Jogo de tabuleiro: reúna as crianças e escolha um jogo que também seja interessante para os adultos. Isso irá introduzir a criança à administração de expectativa e frustração, além de trabalhar a derrota. Ressalte as habilidades e não enfatize as dificuldades dos pequenos.

Pai, apareça: mesmo que o pai não tenha habilidade com esportes ou muito tempo livre, quando possível, é importante que ele se aproxime dos filhos meninos e converse sobre como foi sua infância e sua juventude, para deixar claro que a vida não é apenas trabalho.

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