Nascido em linha Delfina, interior de Estrela, Scheeren começou a empreender como fornecedor de insumos para fábricas de calçados. Com a crise do setor, o empresário passou a atuar no ramo de seguros.
Em 1995 ele criou a empresa e, cinco anos depois, começou a investir em processos para qualificar a gestão. A participação em programas rendeu, em 2008, o prêmio estadual Talentos Empreendedores, do Sebrae. No ano seguinte, a Poolseg ficou em primeiro lugar na competição nacional da premiação.
Como surgiu sua vocação para o empreendedorismo?
Ervino Scheeren – Não existe uma bíblia que te ensina a ser empreendedor. Acredito que as coisas acontecem na primeira infância, no convívio com os pais e com a família. Sou natural de Linha Delfina, em Estrela. Venho de uma família numerosa, onde tudo era difícil, mas fui um sonhador desde o início. Sonhava com o primeiro emprego e tinha a criatividade incentivada na família. A gente fazia carrinhos de mão, desenvolvia o próprio equipamento junto com meus irmãos. Empreendedorismo é criar desafios para superá-los. É um ato de coragem, inovação, de sair do status quo para criar algo novo. Sempre fui muito inquieto, nunca me acomodei em uma atividade.
Como foi o início da sua trajetória profissional?
Scheeren – Comecei a trabalhar em uma loja de eletrodomésticos em Estrela, onde fiquei pouco mais de um ano. Logo em seguida, tive a oportunidade de entrar em um escritório de biscoitos no Boa União, também em Estrela. De lá, me candidatei a uma vaga de chefe de Departamento Pessoal na Calçados Reifer, em Teutônia, onde fiquei 14 anos, de 1973 a 1987. Eu tinha um emprego da mais alta categoria e não tinha mais como crescer. Era um dos maiores salários da empresa, tinha estabilidade econômica, mas estava impaciente. Primeiro estive envolvido no Departamento Pessoal, depois fui para a gerência de compras, onde via muitas oportunidades no mercado. Decidi sair da empresa para empreender.
Quais foram os desafios desse começo como empreendedor?
Scheeren – Me mudei para Novo Hamburgo para, junto com um amigo, começar a vender implementos para calçados. Ao invés de comprar, passei a ser vendedor. Esse foi o maior desafio da minha vida. As pessoas que antes tentavam me agradar com presentes, porque eu era comprador de uma empresa, sentavam de costas para mim nas salas de vendas na hora que passei para o outro lado. Foi uma experiência que me fez aprender muito, mas em 1995 o setor calçadista passou a sofrer muito, devido aos planos econômicos e à subida do dólar. Comecei a sentir o insucesso na área e então recebi a oportunidade de sair fora disso tudo e começar a vender seguros, em uma seguradora de Teutônia.
Como foi esse retorno para Teutônia?
Scheeren – Eu fiquei apenas dez meses nessa empresa de seguros. Logo depois, veio a oportunidade para abrir uma holding que iria se chamar Pool Administração e Empreendimentos. Seria uma holding para investir, abrir novas empresas e contava com 40 pessoas. O primeiro investimento foi abrir uma corretora de seguros, onde eu passei a ser gerente. Foi lá que nasceu a Poolseg, em 1995. O início foi difícil. Ficou muito claro que a empresa precisava construir uma marca, criar credibilidade e ter a competência para entregar o que promete.
Quais as principais dificuldades encontradas no setor de seguros?
Scheeren – A corretora de seguros é uma empresa que vende um contrato cuja entrega ocorre em caso de sinistro. As pessoas passam a acreditar efetivamente quando o sinistro é bem solucionado e quando tem um contrato bem elaborado. Tudo isso foi uma experiência nova, e enfrentamos uma concorrência muito cruel e implacável. As seguradoras na época eram menos qualificadas e menos técnicas, o que me causou problemas na entrega. Quando eu trabalhava com calçados, fiz muitos contatos. Isso me deu a oportunidade de começar a desenvolver esse trabalho como corretor. Fiz a habilitação na Susepe, o que é uma obrigação para as empresas do ramo. Assim fomos construindo essa história, de uma corretora que tem no seu DNA a qualidade como princípio. Tínhamos pouca gente, a empresa foi crescendo aos poucos. Entre 1995 e 2000, foi muito difícil porque tudo tinha que ser construído.
Quando o senhor começou a investir na qualidade da gestão?
Scheeren – Minha história com a qualidade começa ainda na Reifer, na época em que surgiram os primeiros Círculos de Controle de Qualidade. Na época, não havia a informatização e os conhecimentos sobre qualidade ainda eram muito iniciais. Na Poolseg, em 2000, nós paramos para fazer nossos primeiros workshops para discussão da qualidade e organização. O seguro envolvia muito papel na época. Tínhamos uma sala cheia de arquivos para guardar as documentações. A informática ainda era básica e tínhamos que qualificar a equipe. Nessa caminhada começamos também fazer uma triagem de pessoas que acreditaram e se adaptaram aos anseios da empresa para a formação da equipe. Outros preferiram seguir outros rumos. Tivemos muitas trocas, mas mais pela decisão das pessoas do que da empresa. Uma empresa se torna sólida quando a cultura da qualidade começa a permear todos os diversos setores. Mas tivemos muitos desafios no meio desse caminho.
Como esse trabalho pela qualidade foi reconhecido nas esferas estadual e federal?
Scheeren – Em 2007 decidimos participar do concurso Talentos Empreendedores do Sebrae. Quando se aposta na qualidade, é preciso fazer comparações para avaliar os resultados. Fomos à final já naquele ano e conquistamos o prêmio estadual na área de serviços em 2008. Isso nos garantiu participação no primeiro concurso nacional com os vencedores de todos os estados. Vencemos o prêmio nacional. Isso nos motivou muito e nos trouxe repercussão local. Isso nos motivou a acreditar cada vez mais nessa trajetória de criar competências próprias e desenvolver pessoas. Em 2013 aderimos ao PGQP, que nos norteou para a excelência. Não é uma posição estanque, ninguém nunca atinge a excelência. É um desenvolvimento constante, ainda mais em um mercado em constante ebulição. A Poolseg com seus 23 anos atingiu a maturidade enquanto processos. Hoje usamos o modelo Kanban, que é japonês e reconhecido em todo o mundo. Criamos nossos próprios sistemas e toda a programação de TI é nossa. Mas o grande desafio continua sendo as pessoas.
Por que a gestão de RH continua desafiadora?
Scheeren – Nós precisamos interagir muito com o mercado e isso cria limitações. As novas gerações estão aí e têm dificuldade na área de vendas e nosso grande desafio é criar novas pessoas para vender o nosso produto, que são contratos. É algo abstrato, em que a confiança na marca e na equipe precisa ser muito alta. Um bom vendedor de qualquer produto precisa ser muito diferente para vender um contrato de seguros. Mas a nova geração também tem grandes qualidades que precisam ser potencializadas e exploradas.
Qual o futuro da Poolseg?
Scheeren – Estamos em um momento de transição, de sucessão de gestão. Sempre temos uma consultoria ao nosso lado para auxiliar nesses processos. Na caminhada da gestão da qualidade, percebemos que somos bons até determinado ponto, e que precisamos de especialistas e orientadores, pois a visão externa é tão importante quanto a interna. Estou com 67 anos e também tenho anseios de viajar e de não estar aqui das 7h às 18h. Minha presença ainda é importante porque não é de um dia para o outro que posso abandonar o mercado. Mas hoje a operação está bem estruturada e continuaria funcionando bem sem a minha presença. Então a sucessão está bem encaminhada.
Como o avanço da tecnologia influencia o futuro da empresa e do setor como um todo?
Scheeren – Sempre gostei da informática. Acredito muito na tecnologia e sempre fui inovador, no sentido de buscar o diferente. Fui autodidata e criei o meu próprio banco de dados no início da Poolseg. Quem não despertar para a tecnologia está fadado a desaparecer. Se tenho uma lojinha de esquina que já fez muito sucesso, como vou concorrer com a venda na internet, com produtos do mundo todo a preços muito diferenciados? Nós, na área de seguros temos a previsão de mudanças que são espetaculares, mas que causam terror ao empreendedor. A venda direta está vindo com muita rapidez. São novos desafios e novos caminhos. Mas acredito que a transição desse período será muito valiosa. Não podemos abdicar da experiência que as empresas acumularam nestes anos todos e começar do zero. Também é preciso inovar e mudar sempre, para não dar passos para trás.