A Polícia Rodoviária Federal (PRF) iniciou a Operação Rodovida. O evento realizado em Porto Alegre teve a presença de diversas autoridades da área de segurança pública e viária como o Dnit, Detran, Antt, Polícia Civil, Brigada Militar, CRBM, EPTC, Samu e ainda do Poder Judiciário. O objetivo é formar uma força-tarefa para evitar acidentes no período que envolve Natal, fim de ano, férias escolares e Carnaval.
Esses são períodos em que acontece um gradativo aumento do fluxo de veículos e de passageiros nas estradas brasileiras. A ação é simultânea em todos os estados brasileiros, e envolverá todo o efetivo da PRF, com reforço nos fins de semana e feriados, direcionando a fiscalização para as principais causas de acidentes de trânsito como: ultrapassagens indevidas, excesso de velocidade, embriaguez ao volante, falta de uso do cinto de segurança e travessia de pedestres fora da faixa de segurança.
O superintendente da PRF, João Francisco Oliveira, afirma que o planejamento leva em consideração os estudos estatísticos para direcionar as ações de prevenção, fiscalização e campanhas educativas. No Estado, a maioria dos acidentes está ligado à falta de atenção dos condutores. Em 2017, por exemplo, representou 25% das ocorrências. Até outubro de 2018, aumentou para 33%m seguido de desobediência à sinalização (25,5%) e velocidade incompatível (16%).
Mas, entre os acidentes com maior gravidade a principal causa está ligada a outro fator: não guardar distância de segurança, com 22% do total de 99 ocorrências graves registradas na BR-386 entre janeiro de 2017 e outubro deste ano, e cuja maioria – 33 – ocorreu no trecho de Lajeado. Foram 30 mortos no período de quase dois anos, um a mais do que o total de vítimas registradas só em 2018 nas principais rodovias estaduais do Vale do Taquari.
Perigo na pista simples
De acordo com dados do Pelotão Rodoviário Estadual (PRE) de Cruzeiro do Sul, nos 12 meses de 2017 foram seis mortes no perímetro de responsabilidade da corporação. Já neste ano, até o dia 14 de dezembro, foram 11 acidentes fatais. Conforme o comandante, o sargento Ederson Barbosa Soares, das 11 mortes, seis foi na ERS-453, no trecho entre Lajeado e Venâncio Aires.
“Esse é o ponto de mais perigo, devido a soma do desrespeito às leis de trânsito, com o excesso de velocidade e ultrapassagens proibidas, com a pista simples e muito movimentada.” Inclusive, relembra do protesto dessa semana por parte de empresários quanto ao estado da pista, e também em relação à obra de alargamento da pista, de responsabilidade da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR). “Traz mais riscos aos condutores, com a dificuldade de acessar a pista pelos acessos secundários.”
Outro ponto do qual ele faz referência, e que também é de alto risco, é a área urbana da ERS-130, da saída da rodoviária de Lajeado até o acesso à área urbana de Cruzeiro do Sul, principalmente nos pontos onde estão as entradas para os bairros Jardim do Cedro, Nações e Floresta.
Perigo maior em Arroio do Meio
Segundo o comandante do PRE de Encantado, Sargento Paulo Bernardi da Silva, foram 13 mortes em 2017 e outras 13 até dia 14 de dezembro de 2018. Ele atribui esse número ao comportamento do motorista. “Há um grande desrespeito a lei de trânsito.” Para confirmar, fala da autuação de motoristas por excesso de velocidade no trecho da rodovia entre o posto de controle e a área urbana de Arroio do Meio.
De acordo com o militar, há uma atenção maior na fiscalização no trecho de Arroio do Meio. “Com o uso de radar, houve um aumento de no mínimo 10% no número de autuações por excesso de velocidade neste ano em comparação com o ano passado. Vejo que o principal fator dos acidentes é a imprudência do condutor. A ultrapassagem proibida e os excessos são os principais causadores de mortes nas rodovias”, reforça.
Silva também chama a atenção para o “comportamento apressado” dos condutores, e alerta para a falta de cuidados e das distrações ao volante, como o uso dos celulares. “Os quilômetros mais perigosos vão do 76 ao 80, na área de Arroio do Meio. Em três anos, foram cinco mortes.” Para amenizar, instituíram no trecho a velocidade máxima de 60 kmh. E ele defende o uso do radar móvel. “Não se trata arrecadar dinheiro, como muitos dizem. Se trata de proteger a vida.”
Vida em meio à tragédia
Uma noite regada a churrasco e muitas risadas entre cinco amigos precedeu uma tragédia que chocou Lajeado. Há 25 anos, Marcelo e Juliano Ely, Rangel Uhry, Fabiano Krombauer e Daniel Becker saíram de casa no fim da tarde do dia seis de julho de 1993 em direção a uma chácara, no bairro Olarias. Lá, passariam a noite e a madrugada vigiando galinheiros. A presença de raposas colocava em risco a criação de galinhas da família Ely.
O churrasco foi o jantar dos jovens. Apenas Marcelo, à época com 22 anos, era o único maior de idade. “Foi uma noite muito agradável. Sem bebida alcoólica. Passamos a madrugada toda conversando, rindo e vigiando as galinhas. Se divertindo entre amigos, como era de costume”, relembra Becker.
Nenhum deles dormiu na madrugada do dia 7. Um pouco antes das 5h30min, após cumprida a missão de resguardar os galinheiros – que também eram alvos constantes de furtos –, resolveram voltar para as respectivas casas. Era inverno. A cerração era forte no trecho de pista simples da BR-386. Mesmo assim, os cinco jovens, cansados, pegaram a estrada. Todos precisavam estudar naquele mesmo dia. Uns na antiga Fates, e outros no Melinho – Escola João Batista de Melo.
Marcelo estava ao volante do Monza Classic, duas portas, ano 89 e de cor cinza escuro. Juliano, o irmão, sentou no banco do passageiro. Na parte de trás, Daniel, atrás do motorista, Juliano no meio, e Rangel. Daniel lembra os detalhes. Eles chegaram até a BR-386 pela rua José Petry, próximo a empresa de transportes Moamar. Então, seguiram em direção ao trevo de acesso à Lajeado. Mas o caminho foi bruscamente interrompido.
O corretor de imóveis lembra os detalhes. “Quando estávamos passando pelo trevo da Balas Florestal, tentamos ultrapassar uma carreta. A cerração estava muito forte. Estávamos todos quietos dentro do carro, cansados. Lembro apenas de enxergar um caminhão de leite da CCGL vindo no sentido contrário.” O silêncio dentro do Monza Classic placas TM-9992 foi quebrado pelo pressentimento de Becker. “Acho que não vai dar”, alertou.
E não deu. O caminhão Scania que trafegava no sentido capital-interior tentou acessar o acostamento. Assustado, Marcelo tentou fazer o mesmo. A carreta praticamente passou por cima do automóvel. Rachou o Monza em pedaços, arrancando todo o teto e deixando o veículo em retalhos de ferros contorcidos. O forte estrondo foi percebido por moradores dos bairros Santo André e Montanha. O choque ocorreu no quilômetro 344, a menos de um quilômetro do ponto onde eles adentraram à BR-386.
“Retomei as lembranças após quatro anos”
Marcelo, Juliano, Rangel e Fabiano morreram na hora. Becker desmaiou em meio às ferragens, na única parte do Monza que não foi atingida em cheio. Ele acordou ao ser retirado pelos policiais rodoviários e foi levado ao HBB na própria viatura da PRF. No local, muito próximo ao acesso ao bairro Montanha, ficaram ainda dois motoristas feridos, o motorista do Scania, e o condutor de um Gol, com placas de Campinas (SP), que se chocou com a traseira do caminhão.
Becker estava acordado até o momento da colisão. Ao sair, ainda perturbado pelo choque, não viu os amigos mortos e sofreu apenas luxações pelo corpo. “Foi um milagre. A impressão é que os anjos criaram uma cápsula para mim dentro do carro”, conta, lembrando ainda que trocou de lugar no carro antes de partirem em direção a Lajeado.
Demorou para o único sobrevivente relembrar detalhes. “Só retomei as lembranças após quatro anos do acidente. Agradeço por não tê-los visto após a tragédia. Para mim, meus amigos foram para uma festa maior.”
Rodrigo Martini: rodrigomartini@jornalahora.inf.br