Governo confirma casas, mas pode rever galpão de triagem

Lajeado

Governo confirma casas, mas pode rever galpão de triagem

Realocação dos papeleiros para área próxima à aldeia Foxá será rediscutida

Governo confirma casas, mas pode rever galpão de triagem
Lajeado

Uma nova reunião com representantes dos bairros Santo Antônio e Jardim do Cedro fez o governo recuar no plano de realocação dos papeleiros. O planejamento inicial, acordado com o Ministério Público (MP) e as famílias que vivem em área invadida junto à ERS-130, previa a construção de até dez casas e ainda um galpão para triagem de lixo reciclável. Agora o prefeito Marcelo Caumo avalia a possibilidade de construir apenas as residências.

Mas ainda falta consenso. O encontro de ontem ocorreu no Salão de Eventos da prefeitura. Estavam presentes o advogado das famílias de catadores, Marco Mejia; o próprio prefeito; os secretários de Meio Ambiente, Luis Benoitt, e de Habitação, Lorival Silveira; representantes dos bairros; e ainda os vereadores Paulo Tori (PPL), Mozart Lopes (PP), Neca Dalmoro (PDT) e Nilson do Arte (PT).

Caumo apresentou um mapa com detalhes sobre o novo loteamento popular previsto para ser construído no Santo Antônio, a quatro quarteirões do Jardim do Cedro. A área fica entre o condomínio Novo Tempo e a aldeia Foxá. Pertence ao poder público, e estava sendo invadida por outros moradores.

“A ideia é garantir uma ocupação ordenada daquele espaço. Se deixarmos assim, os invasores vão tomar conta”, reforça o prefeito. Entretanto, não há consenso entre os próprios moradores do Santo Antônio e Jardim do Cedro. Alguns estão dispostos a só aceitar a construção das casas, sem a instalação de uma central de triagem de lixo. Outros não querem nem as residências e tampouco o pavilhão.

Fabiano Trindade mora no bairro Floresta, mas tem uma empresa no Jardim do Cedro, muito próximo ao local onde está prevista a construção das moradias populares. Ele pede garantias de que o novo loteamento não venha a se tornar um ponto de violência e acúmulo de lixo. “Quem pode nos garantir que aquelas pessoas não irão levar o lixo para dentro dos pátios?”, questiona.

Representante dos papeleiros, Mejia garante que isso faz parte do acordo firmado na promotoria pública. “O Ministério Público é a garantia”, resume. Mediador desse compromisso que foi assinado na sexta-feira passada, o promotor de Justiça, Sérgio Diefembach, não esteve presente na reunião de ontem. “A prefeitura também tem o compromisso de evitar isso”, sustenta Caumo.

Benoitt salienta que essas famílias também serão beneficiadas com programas sociais – Bolsa Família, por exemplo –, e graças a isso tendem a procurar outros empregos. “Quem garante que eles seguirão recolhendo lixo. A intenção é justamente garantir uma vida mais digna, e com isso eles podem conseguir outros empregos melhores, como em indústrias de alimentos, por exemplo.”

Já o líder de governo na câmara, Mozart Lopes, diz que há negociações em andamento com empresas responsáveis pela compra do material reciclado. A ideia é garantir uma melhor logística para evitar acúmulos de lixo e degradação do meio ambiente. “Iniciamos na manhã dessa quinta-feira, em reunião das comissões do Legislativo, negociações com esses empreendimentos”, reforça.

Debate ríspido

Tóri solicitou mais informações por parte do Executivo e cobrou, inclusive, os projetos das casas de madeira previstas para serem construídas na área pública. Mas, para o prefeito, o Executivo não tem motivos para divulgar tais informações neste momento. Com essa negativa, os moradores de ambos bairros avisaram que a obra não iria prosseguir até a apresentação desses detalhes.

Nesse momento, Tori voltou a criticar a decisão de levar os papeleiros para o Santo Antônio, mas foi interpelado pelo advogado. “Você nunca se preocupou com aquelas famílias que vivem em situação de miséria às margens da ERS-130, e agora quer atrapalhar essa negociação. Você sequer sabe quantas pessoas vivem naquela Vila dos Papeleiros”, critica Mejia. Por sua vez, o vereador disse que estava exercendo a tarefa dele de fiscalizar as ações do governo.

Próxima reunião

Ficou agendada para a próxima segunda-feira uma nova reunião entre os moradores dos bairros Jardim do Cedro e Santo Antônio e representantes dos poderes Executivo, Legislativo e também dos próprios papeleiros. Segundo o prefeito, nesse encontro, será debatido apenas o assunto “casas”. “Somente vamos discutir sobre o pavilhão de triagem de lixo em outro momento”, avisa. O único consenso entre todos os presentes é que as obras ficam paradas até a próxima semana.

Entenda o caso

Faz mais de três décadas, famílias vivem em situação precária – sem água encanada ou luz elétrica – às margens da ERS-130, nas proximidades do posto de saúde do bairro Montanha. Sobrevivem com a venda de lixo reciclável. Na sexta-feira passada, acordo firmado entre advogado dos papeleiros, Executivo e MP definiu a realocação para uma área no Santo Antônio, quase divisa com o Jardim do Cedro.

As obras de até dez casas populares de madeira iniciaram nessa quarta-feira, porém, os moradores próximos não permitiram a entrada da empresa ao local pré-determinado. Um abaixo-assinado circula para tentar barrar, na Justiça, o empreendimento anunciado pelo governo. O Sinduscon se disponibilizou para auxiliar na construção das moradias, porém, nada deve ocorrer até a próxima segunda-feira.

Rodrigo Martini: rodrigomartini@jornalahora.inf.br

Acompanhe
nossas
redes sociais