Governo inicia a obra, mas moradores barram a empresa

Lajeado - NOVO IMPASSE

Governo inicia a obra, mas moradores barram a empresa

Mudança dos papeleiros para área próxima ao Jardim do Cedro gera polêmica

Governo inicia a obra, mas moradores barram a empresa
Lajeado

A construção de casas populares em uma área localizada na divisa entre os bairros Santo Antônio e Jardim do Cedro está temporariamente suspensa. Na manhã de ontem, funcionários da prefeitura e da empresa contratada para o empreendimento iniciaram a colocação de estacas e a demarcação das futuras residências. À tarde, moradores próximos ao local interromperam os serviços e a Brigada Militar (BM) foi chamada para acalmar os ânimos.

O governo quer construir até dez casas de madeira para realocar famílias que vivem hoje às margens da ERS-130, na chamada Vila dos Papeleiros. A decisão foi tomada em comum acordo com o Ministério Público (MP) na sexta-feira passada, com prazo até o dia 17. Entretanto, não houve qualquer reunião ou audiência com os moradores do Jardim do Cedro e Santo Antônio, cuja maioria se posiciona contrária ao empreendimento, e projeta encontro para a próxima segunda-feira.

Secretário de Obras e Serviços Públicos (Seosp), Fabiano Bergmann esteve no local para ouvir as reclamações. Ele confirma a suspensão temporária das obras, e promete diálogo com os moradores que vivem próximos à área escolhida para receber os catadores. A princípio, seriam construídas apenas as casas, sem o pavilhão para a triagem do lixo.

O vereador Paulo Tóri (PPL) também foi até a área na tarde de ontem para intermediar as negociações.

Na tarde de ontem, moradores do Jardim do Cedro impediram a entrada da empresa, que pretendia iniciar a construção das casas para os papeleiros

Na tarde de ontem, moradores do Jardim do Cedro impediram a entrada da empresa, que pretendia iniciar a construção das casas para os papeleiros

Luana Beatriz dos Santos mora em um condomínio localizado a duas quadras da área escolhida para receber os catadores. Ela estava em frente ao terreno na tarde de ontem, junto com pelo menos outros dez moradores. Todos tentavam barrar a entrada dos funcionários da empresa contratada para a construção das casas. “Não temos nada contra as famílias de catadores. Mas não queremos que, mais uma vez, nosso bairro seja o escolhido para uma área de depósito de lixo. Tudo que não dá certo nos outros bairros eles jogam para cá”, reclama.

Ainda segundo ela, na terça-feira, durante a sessão da câmara de vereadores, teriam prometido para os moradores que a obra seria discutida com a população daquele bairro. “Disseram que iriam estagnar a obra até marcarem uma audiência com todos. Mas fomos surpreendidos com a chegada das máquinas, postes e carros da prefeitura. A comunidade está se sentindo traída pelo governo. Sequer os vereadores estavam sabendo desse projeto.”

Área destinada aos catadores fica próximo à aldeia indígena

Área destinada aos catadores fica próximo à aldeia indígena

A falta de infraestrutura no bairro, como as recorrentes interrupções no abastecimento de água também, é alvo de reclamação. “Como eles querem dar dignidade para essas novas famílias se não conseguem sequer garantir água decentemente para quem já vive aqui?”, questiona.

Outro morador, que prefere não se identificar, teme pela segurança do filho e diz que é comum ouvir disparos de arma de fogo durante a noite. “Isso vai piorar. Ainda vai morrer gente naquele terreno.”

Área invadida

Pela manhã, uma equipe da BM acompanhou a chegada dos primeiros materiais para as casas. Blocos de concreto que serão utilizados no alicerce das residências – que serão de madeira – já estão no terreno doado pela prefeitura. Quando chegaram, toda a área estava cercada, e foi necessário romper alguns arames para acessar o terreno de propriedade da administração municipal. O governo reclama a presença de invasores.

Dirceu Rodrigues vive em área pública, onde cria seis vacas e um cavalo

Dirceu Rodrigues vive em área pública, onde cria seis vacas e um cavalo

Dirceu Rodrigues mora naquela área faz quatro anos. No local, trata de seis vacas e um cavalo. Ele não tem escritura do terreno, mas diz que vive graças a acordos firmados com a própria administração municipal – que não confirma –, Associação de Moradores do Bairro Santo Antônio e aldeia indígena. “Ninguém me avisou de nada. Entraram e deixaram o portão aberto. Meu cavalo, o “Baio”, quase fugiu. Imagina se entra na aldeia e machuca uma criança”, afirma.

Ele trabalha com jardinagem e aguarda alguma manifestação por parte do poder público. “Eu não fui comunicado. Falta diálogo. Eu não quero problema. Só entrei porque me deixaram.” Diz que está no local por meio de uma “cedência de terreno”, onde pretendia instalar uma pista de tiro de laço e uma praça. “Só queria isso e um espaço para morar e viver junto com meus bichos.” Até ontem, não havia qualquer decisão acerca da moradia dele.

Rodrigo Martini: rodrigomartini@jornalahora.inf.br

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