A exclusão gera marginalização

Opinião

Rodrigo Martini

Rodrigo Martini

Jornalista

Coluna aborda os bastidores da política regional e discussão de temas polêmicos

A exclusão gera marginalização

A solução virou problema. Quando tudo parecia maravilhosamente bem, com a definitiva realocação daquelas famílias que vivem em situação degradante às margens da ERS-130, em Lajeado, uma enxurrada de reclamações caiu sobre a cabeça do prefeito Marcelo Caumo. Os moradores do bairro Jardim do Cedro não foram consultados. Tampouco a população do Santo Antônio. O resultado da falta de diálogo não poderia ser diferente. Tudo voltou para a estaca zero.
Primeiro, e é bom que se diga, o problema perdura faz décadas. A invasão da área de domínio da rodovia estadual já é uma dura realidade faz pelo menos cinco gestões municipais. Aquele problema criado e alimentado às cegas não é culpa de Marcelo Caumo. Aliás, muitos vereadores que hoje gritam contra a decisão do governo municipal e se tornam heróis dos moradores afetados pouco ou nada fizeram para mudar a situação.
Também é importante deixar claro que a difícil decisão tomada pelo governo municipal passou pelo crivo e pelo aval do Ministério Público. Não foi uma decisão única, tomada às pressas e tampouco de cima para baixo. Houve certo planejamento. Houve outras propostas avaliadas que não a área no Santo Antônio – que também incomoda, e com certa razão, a população do Jardim do Cedro.
Caumo estava amparado para tomar a decisão de repassar uma área que é do município, e hoje está invadida por terceiros, para aquelas seis famílias carentes e que agora teriam direito mínimo à dignidade. Mas ser gestor de uma cidade exige diálogo com todas as partes. Todas. E nisso o prefeito falhou.
Creio, ou assim quero crer, que a justa implicância dos moradores seja apenas decorrência da central de triagem proposta para aquela área. De fato, poucos moradores lajeadenses aceitariam a instalação de um galpão de madeira para armazenar lixo ao lado de suas residências. Ou aceitariam? E isso talvez tenha sido a falta mais grave do governo municipal. Afinal, as seis famílias, por si só, não mudam tanto assim o panorama de um bairro.
E esse erro é grave. Não podemos mais aceitar que centrais de triagem sejam instaladas a esmo em qualquer parte da cidade. Licença ambiental concedida pela própria prefeitura, com todo o respeito, tem pouco ou nenhum valor quando o interessado é a própria prefeitura. É claro que uma central de triagem naquele ponto, próximo a uma nascente, será um dano terrível ao ambiente. Ainda mais um pavilhão com todos os preceitos para se tornar algo um tanto quanto descontrolado.
Outro fator que é preciso levar em conta é a escolha do local. Por que repassar para o Santo Antônio esse tipo de empreendimento? Qual a razão para escolher aquela área pública e não escolher um dos tantos terrenos públicos instalados em bairros mais nobres, onde os moradores têm maior poder aquisitivo? Essa resposta todos os leitores sabem. Todos. Mas para quem é afetado é ainda mais difícil de digerir.
Caumo não será o primeiro a escolher bairros carentes para levar problemas que atrapalham outros moradores. E provavelmente não será o último. E isso, exatamente isso, é o que precisamos mudar. Afinal, a exclusão leva à marginalização. E, querendo ou não, todos os bairros sofrem ou um dia sofrerão com essa mesma marginalização, alimentada ano após ano pelos gestores.


Parque multiuso

De certa forma, impressiona a alta valorização do terreno agora adquirido por meio de permuta pelo governo de Lajeado. A área alagável de 30 mil metros quadrados, próximo ao Rio Taquari, no centro histórico, foi avaliada em R$ 1,4 milhão. Faz pouco mais de uma década, valia R$ 145 mil. Como não sou corretor de imóveis, prefiro opinar pouco. Por ora. E torço para que de fato, e o quanto antes, essa estranha negociação resulte em um parque digno para os lajeadenses.


Complexo da Polar

Do outro lado da margem do Rio Taquari, o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do RS (CAU) devolve as esperanças para quem ainda acredita na manutenção do complexo histórico da antiga Cervejaria Polar, em Estrela. Ao ingressar com uma contundente ação civil pública junto à Justiça Federal, demonstra que todos aqueles críticos do projeto de demolição não estão tão fora do eixo como alguns gestores insistem em afirmar. Eu ainda acredito na preservação da nossa história.


Tiro curto

– O governo de Lajeado pretende recuperar a área entre as ruas Capitão Leopoldo Heineck e Décio Martins Costa. A ideia é transformar o campo de futebol em um espaço multiuso;
– A mesma proposta prevê uma interação com a Univates. A ideia é pintar o concreto que hoje esconde o Arroio do Engenho, recriando um córrego limpo e com peixes;
– A feira das agroindústrias realizada no sábado passado em Encantado estava de muito bom gosto. O trabalho do Arranjo Produtivo Local (APL) merece mais destaque;
– Em Muçum, inaugura no próximo dia 20 mais um café colonial na região. O estabelecimento fica na estrada geral que leva ao Viaduto 13, o famoso V-13. Eu estarei lá;
– Ontem ocorreu novo passeio de trem pelos trilhos do Vale do Taquari. ‘Apesar dos pesares’, a torcida é grande para o sucesso do empreendimento;
– Hoje ocorre a tradicional Caminhada Natalina, em Arroio do Meio. A saída é às 20h30min, em frente ao Hospital São José. Vale a pena;
– Indicada para o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves afirma ter visto – aos 10 anos de idade – Jesus subir em um pé de goiaba. Interessante. Mas eu me preocupo mais com açaí e laranja.

Boa quinta-feira a todos!

“A corrupção é um crime sem rosto.”
Joel Birman

 

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