A transferência das famílias que vivem às margens da ERS-130 para uma área localizada na divisa do Santo Antônio com o Jardim do Cedro preocupa moradores e também integrantes da aldeia indígena caingangue, instalada próxima ao terreno escolhido para os papeleiros. Ontem o prefeito Marcelo Caumo foi até o local conversar com representantes da tribo e recebeu representantes dos bairros no gabinete.
O acordo entre as seis famílias de papeleiros – que vivem em área invadida, pertencente à EGR –, o Ministério Público (MP) e o governo municipal foi divulgado na manhã de sexta-feira. No entanto, não houve qualquer reunião com os representantes dos bairros Santo Antônio e Jardim do Cedro acerca da decisão. E essa é uma das reclamações dos moradores dessas localidades.
Eles temem pela segurança naquela área e querem barrar o novo loteamento popular na Justiça. Um abaixo-assinado deve ser feito entre os moradores, que devem ir à câmara de vereadores durante a sessão de hoje para questionar os parlamentares. “Eu tenho quatro filhos e o mais velho cuida das minhas meninas quando trabalho durante o dia no hospital. Eu temo pela segurança deles”, comenta Denise Maria de Oliveira.
Ela mora a cerca de 50 metros da área escolhida para receber as seis famílias – o acordo prevê até dez famílias –, e também reclama da desvalorização do imóvel. “Tem gente que pagou R$ 100 mil ou R$ 130 mil pela casa, e daqui a alguns anos essas estarão valendo menos de R$ 50 mil”, lamenta. Vizinhos corroboram e acreditam que um galpão para triagem de lixo pode gerar, também, proliferação de baratas, insetos e animais peçonhentos.
Durante a manhã de ontem, um grupo chamado “Contra o lixão no Cedro” foi criado no WhatsApp com 150 participantes. Foram convidados vereadores, jornalistas e advogados. Nas conversas, muita indignação com a decisão do MP e governo municipal. “Por que ele não leva para o bairro dele, o Alto do Parque?”, questionava uma das internautas.
Índios questionam
No início da tarde de ontem, Caumo foi até a aldeia indígena Foxá conversar com o chefe da tribo caingangue, Virgílio Nascimento. Duas questões preocupam o grupo: o prolongamento de uma nova via municipal próximo à área deles, que será debatido também com o Ministério Público Federal (MPF) no próximo dia 18, e agora a realocação das famílias de papeleiros.
“Nosso temor é pela segurança. Não queremos estar em meio a conflitos entre os novos moradores e os que já vivem em áreas próximas”, observa o cacique.
Caumo diz que é preciso dar dignidade aos moradores da Vila dos Papeleiros, com casas próprias, água e luz. “Esta já é uma área invadida. Colocar essas famílias é uma forma de desenvolvimento ordenado. Caso contrário, será pior.”

Em reunião, moradores justificaram motivos para serem contra a mudança
Reunião no gabinete
Já por volta das 16h, no gabinete do prefeito, 12 moradores do Jardim do Cedro participaram de um encontro com Caumo. Entre eles, a presidente da associação de moradores do bairro, que criticou a matéria publicada no fim de semana pelo A Hora. “Não ouviram ninguém do nosso bairro. Agora não adianta. Já está decidido”, lamenta Salete Maria da Silva.
Durante o encontro, moradores questionaram sobre a infraestrutura para receber moradores naquela região da cidade. Entre as queixas, a necessidade de postos de saúde e vagas em creches. “Estamos licitando uma nova escola infantil para o Santo Antônio. Serão R$ 2 milhões de recursos próprios, e será inaugurada até 2020, com 188 vagas”, adianta Caumo.
Outros demonstravam preocupação com possíveis casos de violência ou até tráfico de entorpecentes. “O problema da segurança, em todo o município, também nos preocupa”, observa Caumo. Um dos presentes sugeriu a instalação de uma unidade policial entre os dois bairros. Os moradores ainda demonstram receio com o acúmulo de lixo e criação de animais.
Sinduscon quer ajudar
Ontem iniciaram os primeiros movimentos para a construção de até dez casas naquela área que pertence ao município. A princípio, as primeiras famílias também receberão auxílio por meio do aluguel social. As casas, conforme acordo com o MP, serão de madeira e as obras ficam a cargo dos moradores, com auxílio do poder público.
Associados do Sinduscom-VT querem auxiliar. Ontem mesmo, representantes das empresas de construção civil Fauri, Lyall, Jachetti, Vargas, Ômega, Zambiazi e Zagonel, e ainda da Concrevale e Blaster Sul, estiveram reunidos com o prefeito. Todos se comprometeram com a mão de obra necessária às obras. A previsão é finalizar os serviços em até 15 dias.
Rodrigo Martini: rodrigomartini@jornalahora.inf.br