Mais de 70 anos vividos em função do rádio e da televisão. Sérgio Luiz Puggina Reis precisou de autorização do juizado de menores para começar sua carreira na comunicação. Aos 9 anos de idade, sua voz, ainda de um agudo juvenil, foi ouvida pela primeira vez pelas ondas da Rádio Farroupilha, dos Diários Associados de Assis Chateaubriand.
Cresceu ali. Mudou de voz, mas permaneceu na rádio. Desempenhou vários papéis. Foi galã de radionovela, humorista, locutor comercial e de notícias. Passou por boa parte das emissoras mais importantes do estado. Na década de 1970, foi diretor da TV Rio. Comandou emissoras também em Brasília e Recife. De volta ao RS, passou pela TV Gaúcha, Guaíba, Pampa, Bandeirantes e TVE.
Teve a carreira marcada pela primeira transmissão a cores da televisão brasileira, dirigida por ele, da Festa da Uva de 1972, em Caxias do Sul.
Documentário
Reis foi o primeiro professor de Priscila Rodrigues. Mais que isso, Reis foi o tema do trabalho de conclusão de curso dela.
Exatamente um ano atrás, ela apresentava um documentário sobre a trajetória do mestre. “Eu adiantei meu TCC por causa da saúde dele. Fiquei com medo que algo pudesse acontecer e minha intuição foi correta”, conta.
Em março de 2019, ela receberá seu diploma, sem a presença física do professor, mas com a certeza de ter contribuído para o registro da sua trajetória.
“Um cara acima da média”
Henrique Pedersini foi orientado pelo professor no TCC que ainda não teve a oportunidade de concluir. Ele descreve Reis como “um cara acima da média.” Um professor capaz de lecionar várias disciplinas de texto, de rádio, de teoria. Ao mesmo tempo, capaz de compreender as dificuldades e correrias da vida dos alunos.
“Não acho que era um trabalho. Para ele, parecia uma diversão. Aqui ele se sentia à vontade e tinha público para contar suas histórias“, diz. Histórias não lhe faltavam, profissional forjado na prática, que buscou o conhecimento acadêmico e fez mestrado depois dos 70.
Aposta certeira
O professor Leonel Oliveira era o coordenador do curso de Jornalismo da Univates em 2013 e tinha uma vaga em aberto. Uma colega de mestrado sugeriu o nome de seu pai, um homem já idoso. Fez a reunião e decidiu apostar na experiência. “Foi aposta certeira, um golaço. De cara foi um dos professores mais queridos do curso. Logo foi escolhido para ser paraninfo”, recorda.
A primeira disciplina foi História das Mídias. “Quem iria dar essa disciplina melhor que o Sérgio? O cara estava lá. Ele era a própria história.”
Oliveira descreve Reis como um homem dinâmico e disposto a levar as propostas adiante. Ao mesmo tempo, um professor que atendia os alunos de forma muito elegante.
Para Oliveira, ficam o legado. “Se ele pudesse estar no próprio velório, ia mandar todo mundo embora, não ia querer as pessoas chorando a morte dele”, brinca.
Sérgio, um inquieto
Lecionou até abril deste ano, quando saiu de licença-saúde. Era um homem que não gostava de ficar parado. Em dezembro de 2017, em entrevista ao A Hora, afirmou: “Fico indignado quando preciso entrar em férias.”
Sérgio Luiz Puggina Reis encerra o documentário produzido por Priscila rememorando colegas com quem dividiu importantes momentos do rádio e da televisão no país.
“Meus amigos todos já morreram, a turma já foi. Nós, que fizemos a Piratini, que fizemos outras emissoras, que brigamos às vezes entre nós. Esse pessoal já se despediu. Daqui a uns dias a gente se encontra.”
Saiba mais
– O jornalista e professor Sérgio Reis morreu aos 80 anos no fim da tarde dessa quarta-feira, 5, no Complexo Santa Casa, em Porto Alegre. Ele estava internado desde 20 de novembro e faleceu em decorrência de problemas renais.
– Nascido em Porto Alegre em 22 de janeiro de 1938, é autor dos livros Making off, lançado em 1995, e O Caminho de Santiago: uma peregrinação ao campo das estrelas, lançado em 1999. Reis deixa a esposa, seis filhos (um já falecido) e sete netos.
– O velório será hoje a partir das 9h. O corpo de Sério Luiz Puggina Reis será cremado às 19h, no Crematório Metropolitano de Porto Alegre.