Morador de Cruzeiro do Sul, Odélio Birck, 67, é inventor e músico. Criou uma orquestra móvel e carrega 22 instrumentos de uma só vez. Divide o tempo entre o cuidado da propriedade, em São Gabriel, com horas na oficina musical e ensaios.
• Há quanto tempo é o homem-orquestra?
Desde 1993, em uma festa no Jardim do Cedro. Fiz minha estreia tocando seis instrumentos ao mesmo tempo e foi um grande sucesso. Logo depois, fui aumentando o número de instrumentos. Na minha oficina, comecei a montar a orquestra. Hoje estou com uma caixa com 22 instrumentos montados. Desses, consigo tocar nove ao mesmo tempo. Sempre procuro inovar. Na época em que meu filho foi para o quartel, inventei uma caixa de som móvel, para levar em aniversários, festas. Nada muito grande, mas o povo gosta bastante.
• De onde surgiu a ideia de virar o homem-orquestra?
Quando eu tinha 7 anos, meu pai me levou em Estrela para ver o homem-orquestra. Vi um homem tocando um monte de instrumentos juntos e me encantei. Quis fazer aquilo também. O modelo dele era bem diferente do meu, ele tocava cinco instrumentos juntos.
• Como foi para criar a própria orquestra?
Tudo partiu da minha criatividade. Tudo eu fabrico na minha casa em São Gabriel em Cruzeiro do Sul. Dedico meu tempo a cuidar da propriedade, no trabalho da lavoura, na criação de abelhas. Claro, e com o trabalho de fabricação e os ensaios musicais.
• Nessa experiência de 25 anos de carreira, o que lhe marcou?
A Expovale sempre é um momento marcante. As pessoas ficam curiosas e prestigiam o meu trabalho. Ao longo destes anos, as mudanças na sociedade foram grandes. Lembro das minhas primeiras apresentações. Não havia esses celulares modernos, dificilmente alguém tinha uma câmera fotográfica. Eles participavam de perto, queriam olhar todos os detalhes de como eu tocava vários instrumentos juntos. Uma vez, em Teutônia, no bairro Allesgut, as pessoas se ajoelhavam para ver. Inclusive, teve uma filmagem mostrando a multidão atrás do homem-orquestra.
• O que a música representa para o senhor?
Meu avô tocava. Meu pai também. Tenho sete irmãos e fomos criados aprendendo a tocar. Fiz parte de conjuntos e decidi ir além, criar algo único, nem que não ganhasse muito dinheiro. Hoje, eu vivo da música e vou morrer fazendo música. Sempre pensei em me divertir, tocar minha gaita e ir onde estão as pessoas. Eu gosto é de estar no meio do povo. Faço tudo isso por prazer, rir, cantar e inventar, sejam novos instrumentos ou mesmo novas canções.
Filipe Faleiro: filipe@jornalahora.inf.br