Em Anta Gorda, onde Ivete Rosa Magagnin, 62, morava, era costume o circo visitar a comunidade. Nessas ocasiões, ela e a família assistiam às apresentações, e sempre que podia Ivete dava um jeito de entrar no camarim e conversar com os artitas. Seu sonho era fugir com o circo e pegar a estrada, e o que ela mais gostava eram os palhaços.
Era assim também com os ciganos que chegavam na cidade. Ela ficava à espreita e vez ou outra conversava com as meninas que faziam parte do grupo para conhecer suas histórias. Seu espírito aventureiro queria que ela fizesse parte desses grupos ambulantes, mas esse sentimento foi mudando e dando espaço para novos desafios.
Aos 8 ou 9 anos de idade, na escola, a professora incentivava os alunos a se conectarem com as artes, e foi então que Ivete entrou no grupo de teatro. Ela cursou Magistério e foi professora das turmas iniciais até seis anos atrás, quando se aposentou. Nas aulas, sempre dava um jeito de colocar as artes nos ensinamentos, por meio da música e do teatro.
Ela lembra que em uma das escolas onde lecionava, em Jacarezinho, no município de Encantado, os fins de ano eram marcados pela noite artística, em um compilado de apresentações.
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Em uma dessas noites, em 2011, os professores quiseram dar um tema para as apresentações e escolheram a Discoteca do Chacrinha. “Convidamos os pais dos alunos e os artistas da comunidade para participar. Deu tão certo que fomos convidados por outros bairros e cidades para nos apresentarmos. Sempre é um espetáculo muito divertido”, lembra.
A cada nova encenação, ela conta que são convidado moradores dos bairros visitados para protagonizar alguns personagens, como a Gretchen. Para o ingresso, geralmente é cobrado um valor de R$ 20, e parte da arrecadação é destinada para entidades como a Liga Feminina de Combate ao Câncer ou, como no ano passado, para a UTI do Hospital São Camilo.
Antes de entrar no grupo da Discoteca do Chacrinha, Ivete passou pela provação da morte de um dos filhos, que também era ator e estudava no Rio de Janeiro. Ela conta que não conseguia superar, mas que o teatro foi um grande incentivo. Hoje, ela interpreta o Chacrinha em todas as apresentações.
Ivete também se apresentou em outros grupos teatrais. Entre as peças que mais gostou, estão La fortuna Del Giggio e o musical As Doidas que Foram ao Céu. Além disso, Ivete envolveu-se no projeto EcantArte, em que a cada domingo um bairro se apresentava. “Foi tão bonito, e eu fui escolhida como melhor atriz, fiquei muito feliz em participar”, conta.
Ela que sempre gostou de voluntariado diz que encontrou no teatro um refúgio e um estímulo, depois de também já ter sido catequista e ajudado na igreja.
“O meu maior incentivo para continuar no teatro e vivendo é a minha família, meu marido e meus filhos e os amigos que criei neste meio”. Ela lembra de uma frase de Clarice Lispector: “Não tenho tempo pra mais nada, ser feliz me consome muito”.