Aqueles que percorreram a rua Júlio de Castilhos, no centro de Lajeado, nessa sexta-feira, 30, notaram mais pessoas caminhando com sacolas de compras. Efeito do pagamento do 13º salário, as vendas no período natalino crescem de 20% a 50% em determinados setores do comércio.
De um lado, os que preferem quitar as dívidas, de outro aqueles que guardam o pagamento do salário extra para efetuar compras e abrir novos crediários.
“Pretendo pagar as contas com meu 13º”, afirma a comerciante Carolina da Silva, 32.
Mas também há quem prefira o pagamento para fazer a tão sonhada viagem de fim de ano. É o caso da cuidadora Cristina Haubert, 36.“Vou reservar esse dinheiro para passar o Réveillon em Torres”, conta.
Já a comerciante Marcia Sensei, 54, estipulou a meta de fim de ano: quitar dívidas e não fazer novas contas.“A gente acaba pagando as contas para fazer novas”, diz.
Carros
No comércio de veículos, as vendas no fim do ano aumentam entre 15% e 20%, conforme o empresário Hélio Luiz Arnhold Jr, 39. Segundo ele, esse acréscimo não se justifica apenas pelo pagamento do 13º salário, mas sim por questões culturais, intrínsecas na mente do consumidor.
“O 13º pode até funcionar como um ‘trampolim’ para que as pessoas comprem mais, mas não é o fator principal. As pessoas têm o hábito de consumir mais no fim do ano”, assegura.
Outra razão que justifica o aumento nas vendas no setor automobilístico liga-se com outro direito trabalhistas – as férias. De acordo com Hélio, “as pessoas costumam planejar viagens com carros novos”.
De tudo um pouco
Nos bazares, as prateleiras são percorridas pelos clientes em busca do presente de Natal ideal para aquele familiar, amigo ou colega de trabalho. No setor, o aumento nas vendas pode chegar a mais de 40%.
“O movimento começou a aumentar desde o dia 22”, conta Ana Paula Flores, gerente de um bazar.
O funcionário público Doalcei Neitzke, 42, percorria o centro em busca de um presente para os sobrinhos.“Nesta época do ano, a gente não tem como deixar de comprar um presente para nosso familiares. Já está incluso isso na conta do ano”, brinca.
Sede de fim de ano
E não é só no consumo de vestuário, eletrodomésticos e veicular que as vendas aumentam no comércio. No setor de bebidas, em meio às festas e ao calor, a movimentação de consumidores cresce mais de 40%.
“É um aumento significativo. As pessoas costumam beber bem mais no fim do ano”, assegura o empresário Felipe Augusto, 20.
Roupas dos pequenos
É nas roupas das crianças que o comércio parece ter o maior acréscimo. Com a experiência de um ano de trabalho nesse setor do comércio lajeadense, a empresária Janina Eckert, 36, aponta que o aumento nas vendas corresponde a 50%.
“Comparado com o ano passado, apesar da crise, este ano tivemos um aumento considerável”, conta.
Entrevista
“As pessoas se empolgam e acabam pensando logo em gastar”
O professor de Economia da Univates, Eloni Salvi, sugere que consumidores poupem o 13º salário para pagamento de dívidas ou gastos com tributos no início do ano, como IPVA e IPTU.
Como as pessoas costumam utilizar o 13º?
Há momentos em que as pessoas estão mais endividadas e usam o 13º salário para quitas as dívidas. Mas normalmente as pessoas usam esse dinheiro para fazer as festas de fim de ano. Mas, claro, há aqueles que são mais precavidos e guardam o 13º para pagar as primeiras dividas do ano, como IPVA e IPTU. As pessoas se empolgam e acabam pensando logo em gastar. Se puderem poupar uma parte, sempre será uma atitude positiva.
Qual o impacto para a economia?
O 13º acaba gerando o que chamamos de efeito multiplicador da moeda. Ou seja, uma pessoa que compra uma camiseta, por exemplo, faz com que o vendedor coloque outra em estoque e, por consequência, o produtor de algodão ganha mais, o fornecedor de linha também e assim por diante. Esse movimento costuma levar a um impacto de acréscimo de 5% a 10% na economia como um todo.
O vice-presidente, general Mourão, criticou o 13º salário recentemente durante a campanha. O que aconteceria na economia com o fim desse pagamento?
Se os salários dos trabalhadores forem mantidos no mesmo nível e deixarem de ter o 13º, isso significa menos renda para a população, que resultará negativamente em menos gastos, pois deixa de girar dinheiro na economia. O que pode acontecer é que poderíamos passar a incorporar o 13º no salário mensal ao longo de todo ano.
Cristiano Duarte: cristiano@jornalahora.inf.br
