Elas são a maioria da população. Vivem mais, estudam mais, mas ainda ganham menos. Para fugir da desigualdade que ainda impera em muitos dos nichos do mercado, para administrar melhor o tempo em família ou para realizar um sonho, muitas mulheres estão recorrendo à abertura do próprio negócio.
Segundo a gerente do Sebrae Vales do Taquari e Rio Pardo, Liane Klein, pesquisas indicam que 44% dos empreendimentos gaúchos são comandados por mulheres. Ela analisa que o modo como as gestoras comandam as empresas gera resultados positivos, especialmente no que se refere à organização e a recursos humanos. “Muitos lares hoje são mantidos pela mulher, que tem a renda maior.”
Como forma de compensar a ‘desvantagem’ em relação aos homens, elas se qualificam mais. “É sabido que a mulher consegue administrar várias atividades, e tem uma dedicação maior. Ela tenta estar mais preparada do que o homem”, comenta.
Retomado ao mercado
Quem passa pela avenida Benjamin Constant, em Lajeado, não deixa de notar as vitrinas de estofados, poltronas e tecidos da Brava Forma. O diferencial está na sensibilidade das mãos e no empenho da empresária Adriana Pretto Enge, 54.
Antes de abrir a empresa, ela fez magistério e atuou na profissão durante quatro anos, até a chegada do primeiro filho. A maternidade a motivou a priorizar a família naquele momento. Depois de passar um tempo ‘parada’, sentiu a necessidade de voltar ao mercado de trabalho, de ampliar o contato com o mundo externo ao lar. E foi assim que surgiu a ideia de encabeçar o projeto da loja.
“No início era apenas eu e uma funcionária. Nós fazíamos de tudo um pouco, e conseguimos trazer produtos diferenciados para o mercado da região. Procurando as tendências, pois uma loja tem que servir o seu cliente muito mais do que vender”, lembra.
Na medida em que a empresa foi crescendo, Adriana viajava cada vez mais na busca de referência em feiras internacionais. Como mãe e empresária, lembra que, além da inexperiência de gerir um negócio, ela também sentia dificuldades em conciliar o tempo de trabalho e de estar com os filhos, porque sua preocupação principal sempre foi a família.
“Eu sempre fui muito maternal e, ao mesmo tempo em que queria fazer o meu negócio crescer, também queria estar em casa com os meus filhos. Porque, afinal, é esse tempo que faz a nossa vida valer a pena”, conta.
Adriana é membro do comitê do Fórum da Mulher Empresária, da Acil. Os encontros reúnem de 15 a 20 mulheres empreendedoras para debater temas como sustentabilidade financeira da empresa, comunicação digital e saúde feminina.
“Nós não podemos esquecer o nosso lado feminino, porque somos a diferença, com a nossa sensibilidade. Temos visões de negócio diferentes dos homens, e é por isso que deve haver um equilíbrio e um complemento dos dois”, comenta.
Após mais de 30 anos como empresária, Adriana já consegue analisar resultados que vão além dos números. “Eu me tornei uma pessoa mais madura e segura, e me sinto feliz em contribuir e influenciar de forma positiva outras mulheres. É importante que todas elas saibam que, independentemente de estarem à frente a grandes negócios ou não, todas somos importantes.”
Vocação para empreender
Ser empreendedora sempre foi a única opção para a designer gráfico Nicole Silva, 29. Mesmo quando era funcionária, sabia que os empregos eram etapas a serem encaradas antes de concretizar uma meta que a acompanhava desde quando tinha idade para pensar no futuro. Em relação à área em que trabalharia, também não restavam dúvidas.
Há dois anos, ela e o namorado abriram a Aladus Escritório Criativo. Desde pequena, tem uma ligação com tudo que é visual. “Foi essa área que me escolheu. Vejo muita gente que não sabe o que quer; me considero uma pessoa de sorte por nunca ter tido essa dúvida.”
No início, acreditava que sua rotina deveria se limitar ao trabalho. Mesmo sem filhos, tinha dificuldades em reservar tempo para a vida pessoal. “Hoje, vejo que 70% é trabalho e o resto é vida pessoal. Quando tu consegue conciliar isso, a qualidade de vida melhora.”
Autodidata, tinha clientes antes mesmo de ingressar no curso técnico. Leitora assídua, se mantém por dentro dos estudos da área, ao mesmo tempo em que vai aprendendo mais sobre tocar o próprio negócio. Ela diz que a única coisa que lhe impediu de ser empresária antes foi o medo.
A capacidade de acreditar no próprio potencial, observa, é um dos desafios que as mulheres, principalmente as jovens, precisam enfrentar. “As mulheres estão mostrando do que são capazes, mas tem muita mulher competente por aí que ainda está escondida.” Como conselho a quem está começando, ela indica a troca de experiência e muito estudo. “Muita coisa que tu não passou outras mulheres já passaram e vice-versa.”
Papel de mãe e de mulher
Michele Inês Gonçalves Merlin, 35, tem a missão de seguir uma trajetória que começou com o pai, em Arroio do Meio: a da Tintas Nobre. Hoje é ela que comanda o empreendimento da família.
Formada em Engenharia Química, Michele cursou MBA na Univates e está finalizando outra pós na Unisinos. “Nós não podemos parar de nos aperfeiçoar, porque o mundo gira tão depressa, e temos que conquistar o nosso espaço”, comenta.
Segundo observa, a mulher continua sendo a minoria em cargos elevados, mas vem lutando não apenas para ser melhor – e sim respeitada e valorizada pelo seu papel.
“Nós temos que buscar o nosso espaço, mas sem deixar de ser mulher. Muitas vezes temos que conciliar o nosso tempo entre a família e o trabalho, e a sociedade nos cobra muito para estar em casa, mas eu acredito que é possível fazer os dois com qualidade”, lembra.
Michele também é mãe e esposa. A filha Alícia, 5, é sua parceira inseparável. “Ela coloca as bonecas no chão e diz: ‘filhas, não fiquem com saudade; mamãe já volta, estou indo trabalhar’. Acho bacana ver a minha filha fazendo isso, porque ela já vê que a mulher tem que buscar o seu espaço”, ressalta.
No dia a dia do trabalho, a visão da mulher sobre um negócio é diferente, carregada de sensibilidade, de cores e positivismo. E na visão dessas empreendedoras, isso faz toda a diferença dentro de uma empresa.