A dança começou com os povos primitivos, que imitavam as expressões da natureza, em movimentos remotos. Mais tarde, as danças sacras foram ganhando espaço, e depois as de corte, de onde surgiu o balé clássico, que serve de base para muitas outras modalidades. Entre elas, o jazz que, além ser praticado por prazer, é também um esporte que traz benefícios à saúde corporal e mental, com movimentos mais livres e espontâneos.
E quando se dança com amor, a prática também pode mudar vidas, como a de Cecília Feldens Ruaro, 9, que ganhou medalha de prata no Festival Internacional de Dança de POA (FID-POA) e encontrou também no jazz um incentivo para vencer o câncer.
A mãe, Greice Feldens, 41, colocou Cecília nas aulas de balé clássico com a professora Alessandra Espíndola, quando a pequena tinha 3 anos. Greice também foi bailarina, dançarina de jazz e professora de patinação e por isso quis que a filha tivesse contato com a arte desde pequena.

Cecília e a mãe, Greice Feldens
“Eu sempre incentivei muito a Cecília, porque sou apaixonada pela dança, e queria que ela pelo menos conhecesse. Ela acabou se apaixonando, e diz que não quer mais parar de dançar”.
Quando a menina cresceu, a professora sugeriu que ela dançasse também o jazz, e Cecília passou a praticar as duas modalidades. Com a liberdade, espontaneidade e movimentação corporal, Cecília consegue soltar seus sentimentos e se expressar melhor no dia a dia.
“Quando eu danço, eu expresso os meus sentimentos. Sempre fui muito envergonhada, e isso me ajudou muito. Quando eu subo no palco, não fico mais tão tímida. Melhorei na escola também, com a disciplina e concentração. E também é uma forma de exercitar o corpo”, lembra.
Em junho deste ano, três dias depois de participar do FID-POA, no Teatro São Pedro, Cecília começou a sentir muitas dores e descobriu um tumor maligno no ovário, que a impediu de fazer as aulas de dança por quatro meses. Depois de quimioterapias, cirurgias e retirada do tumor, ela recebeu a notícia de estar curada, em outubro deste ano.
“Mesmo tendo se afastado, a Cecília não parou de dançar em nenhum momento. Quando estava nervosa, ela colocava as sapatilhas e inventava passos com a música que quisesse”, lembra a mãe.
“A dança me ajudou muito na recuperação e quando eu estava doente, porque me deu coragem para enfrentar as cirurgias”, conta Cecília. A mãe comenta que viu uma mudança na filha depois de entrar da dança, porque Cecília se tornou mais autoconfiante e positiva.
“Quando eu era mais nova e ficava nervosa nas apresentações, minha mãe dizia para eu imaginar que toda a plateia eram espantalhos, e eu ficava tranquila. E quando eu tinha que fazer as cirurgias, ela dizia para eu pensar que estava entrando em um palco, e tudo ficaria bem”, lembra a menina.
No palco ou mesmo na sala de casa, mãe e filha fecham os olhos e absorvem os sentimentos bons que a prática traz quando estão dançando. “É uma emoção tão grande subir ao palco que aqueles três ou quatro minutos parecem segundos. Passam tão rápido e de forma tão mágica, linda e emocionantes, que às vezes parece que a gente flutua”, conta Greice.
Uma vida pela dança
Alessandra Espíndola passou a infância e a adolescência em Porto Alegre, estudando em um colégio de freiras. Sempre muito ativa, e com energia de sobra, foi recomendado que ela canalizasse essa energia para alguma atividade física.
Na época, quando algumas colegas que dançavam balé passavam pela escola com as faixas rosas no cabelo e as sapatilhas, Alessandra achava lindo. Ela espiava as aulas e tentava imitar os passos em casa até que um dia pediu à mãe para começar a dançar.
Desde então, a prática tomou conta de seus dias. Aos 14 anos, já era tutora e aos 16 estava formada no balé clássico. Com 17, foi convidada para dançar jazz na companhia de dança de Suzana d’Ávila. Naquela época, Alessandra nunca tinha estado em contato com essa modalidade, mas encarou as aulas que, dia após dia, foram se tornando uma nova paixão.
“Comecei a me especializar, fui para o Rio de Janeiro e São Paulo, fui procurando os melhores professores, e ainda dançava com a equipe da Suzana d’Ávila, o que foi maravilhoso”, lembra.
Como professora de diversas modalidades de dança, ela conta que todas surgiram do balé clássico, e que o jazz pode proporcionar muitos benefícios à saúde. “O jazz é importante para a resistência muscular, equilíbrio, coordenação motora, movimentação corporal, leveza, descontração e força, porque trabalhamos com o peso de todo o corpo”, conta.
Além disso, ela vê que a dança auxilia na concentração, atenção, foco, determinação, coragem, autoafirmação e feminilidade.
Aprender e ensinar
Com as pequenas sapatilhas nos pés, o coque firme e o tutu vestido para os espetáculos, desde criança, Luiza Terres, 27, sonhava em ser bailarina. Aos 11 anos, começou as aulas de balé clássico.
Hoje, faz sete anos que ela dança, tendo parado algum tempo depois que começou. Encontrou na dança seu refúgio, e com a base do balé clássico, se arriscou também do jazz, uma das modalidades mais livres, o que lhe trouxe muitos benefícios.
“A dança se tornou parte dos meus dias, e é o meu exercício para a saúde. Ajuda na postura, no equilíbrio e na memória, porque precisamos decorar a sequência das coreografias”, lembra.
De passo em passo, as sapatilhas já gastas significam anos de dedicação e paixão pela dança, que se mostra em diferentes ritmos. O jazz, por ser mais leve e livre, pode ser dançado em muitas músicas que não sejam totalmente clássicas, ao contrário do balé, que é mais regrado com a posição dos pés, das mãos e a postura de cada bailarino.
Nas aulas, Luiza sempre teve a professora como inspiração, e hoje, é ela que inspira novas promessas da dança no balé clássico, ministrando alguns encontros na escola de Alessandra.
“A dança mudou a minha vida e sempre que posso, incentivo as pessoas a dançarem”, comenta.