Ainda bebê, Eduardo Chiarelli, 48, foi adotado por Luciano Luiz e Domitila Maria, de quem ganhou o sobrenome e uma infância em família. Foi aos 36 anos que o morador de Lajeado viu sua vida mudar ao conhecer a mãe biológica, Celícia Conceição Machado.
• Como foi a sua infância?
Fui adotado com algumas horas de vida, em Porto Alegre. Meus pais adotivos sempre esclareceram isso. Era uma preocupação que eles tinham, e acho que foi bom porque essa história viria à tona. Se eles não tivessem me dito, poderia ter sido uma decepção quando eu descobrisse.
• O que você pensava sobre a sua mãe biológica antes de conhecê-la?
Eu não sabia o que tinha acontecido. Em 1988, eu trabalhava em Porto Alegre, ia toda a semana carregar mercadoria para uma empresa onde eu trabalhava aqui em Lajeado, e, ao passar naquelas vilas pobres, sempre olhava e pensava ‘Será que a minha família está por ali?’.
• Como ela chegou até você?
Como a minha mãe adotiva não dava muita abertura para esse assunto, nunca fui atrás, mas quando ela faleceu o assunto ressurgiu. Pouco depois, encontraram o meu pai adotivo por meio dos registros do Lar do Bebê. A minha mãe me procurou por 36 anos. Quando ela engravidou, era nova e trabalhava numa casa de família. O marido dela a abandonou e a patroa disse que ia ajudar, mas não falou sobre a adoção. Eu nasci no Lar do Bebê e já fui levado, ela nem me amamentou. Minha mãe queria me dar o nome de Leandro, então, sempre que encontrava crianças que tinham a minha idade com o nome de Leandro, se aproximava e tentava descobrir se era eu.
• Aceitou fácil conhecer ela?
Faz uns 12 anos. O meu pai adotivo que me contou que ela estava me procurando. No primeiro momento, não queria. Perguntei para ele se ela tinha dinheiro; se tivesse, eu não teria procurado. Como poderia ter irmãos, iam pensar que eu era um intruso querendo me dar bem. Daí o pai falou que é uma pessoa humilde, que mora na Lomba do Pinheiro (em Porto Alegre). Pensei melhor, e decidi realizar o sonho dela.
• E o dia do reencontro, como foi?
Fui até lá. Foi tenso para ambas as partes. Para ela, um sonho de vida. Para mim, tudo era novidade. Quando ela chegou, sorriu e eu me identifiquei com as bochechas e o ‘nariz de batatinha’. Não tinha como não ser, somos muito parecidos. Naquele ano, conheci minhas irmãs e sobrinhos e passamos nosso primeiro Natal juntos.
Gesiele Lordes: gesiele@jornalahora.inf.br