Governo caribenho rompe acordo firmado em 2013 com o programa federal

Vale do Taquari - Mais médicos

Governo caribenho rompe acordo firmado em 2013 com o programa federal

A decisão foi anunciada após declarações do presidente eleito, Jair Bolsonaro, que questiona os critérios de contratação e critica a qualificação dos profissionais. Só em Lajeado, são 11 profissionais cubanos atuando nos postos de saúde. A maioria trabalha em bairros carentes. Ministério da Saúde já anuncia edital para suprir as futuras vagas

Governo caribenho rompe acordo firmado em 2013 com o programa federal
Vale do Taquari

O Ministério da Saúde anunciou ontem a abertura de um edital nos próximos dias para substituição dos profissionais cubanos que integram o programa Mais Médicos. A decisão foi tomada logo após o governo de Cuba anunciar o rompimento do acordo firmado em 2013 com a União, devido a declarações feitas pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, que confirmou a intenção de modificar os termos e condições dos contratos.

“Vamos aguardar um comunicado oficial. Estamos na expectativa, pois são vários municípios da região com médicos cubanos”, resume o chefe da 16ª Coordenaria Regional de Saúde (CRS), Ramon Zuchetti, que elogia o trabalho dos profissionais.

Conforme o ministério brasileiro, hoje são mais de 18 mil médicos cadastrados no programa. Do total, 8,4 mil são cubanos. Eles atuam em 4.058 municípios. Em Lajeado, por exemplo, são 11 profissionais do Mais Médicos nascidos no país caribenho e hoje atuando em postos de saúde. Há também uma médica intercambista brasileira que cursou Medicina em Cuba e atua no bairro Conservas.

“Estamos avaliando a situação. Vamos aguardar a posição de ambos os governos nos próximos dias”, afirma o secretário da Saúde de Lajeado, Tovar Musskopf. Os cubanos atuam nos postos de saúde do Centro, e dos bairros Santo Antônio, Montanha, Moinhos, Santo André, Olarias, São Bento, Morro 25 e Conventos.

Meyglin Gonzalez é cubana e trabalha no bairro Santo Antônio faz um ano e seis meses. Ela atendeu a reportagem, mas foi breve. “Já ficamos sabendo. Mas não fomos avisados de nada oficialmente”, resume a profissional. Richard Daudinot, profissional que atende no posto do Centro, também respondeu brevemente. “Prefiro não falar nada”, diz.

Já o médico Luiz Mariano Rodriguez Santana atua no bairro Morro 25 desde março e já trabalhou em outros países, como a Venezuela. Ele garante que seguirá trabalhando normalmente até lhe fornecerem o voo de volta ao país caribenho. “A previsão é dezembro.” A esposa dele também é médica do programa, e assim como ele atua em Lajeado. Eles têm um filho de 4 anos, que vive em Cuba. “Minha irmã está com ele. Ele é muito pequeno para vir para cá.”

Sobre as declarações do presidente eleito, Jair Bolsonaro, diz apenas que está cumprindo o que foi acordado entre as duas nações. “Há um contrato e temos que cumprir com o governo cubano. Vou voltar. E talvez atuar em um posto de saúde em Cuba”, resume.

Impacto financeiro

O secretário de Saúde de Lajeado demonstra preocupação com a iminente saída dos médicos cubanos. Segundo ele, haverá um impacto financeiro considerável nos cofres do município. “Caso concretize, vamos contratar médicos terceirizados por meio do acordo com a Univates, e verificar a questão financeira. Os profissionais cubanos são pagos pelo Ministério da Saúde, e o município só auxilia com R$ 3,5 mil para aluguel, passagens e alimentação.”

O que dizem os governos

Em nota, o governo cubano diz que vai se retirar do programa devido a declarações de Jair Bolsonaro. O presidente eleito questiona a preparação dos médicos em relação ao Revalida e afirma que modificará os termos do programa em condições que Cuba considera “inaceitáveis” e que “descumprem as garantias acordadas desde o início do programa.”

Na nota, o governo de Cuba afirma já ter comunicado a diretoria da Organização Panamericana de Saúde e os “líderes brasileiros que fundaram e defenderam essa iniciativa.”

Jair Bolsonaro afirma estar disposto a dar asilo aos médicos que não desejam retornar ao país caribenho. Para o presidente eleito, o acordo firmado pelo governo passado com Cuba evidenciaria “trabalho escravo”. “É desumano deixar essas pessoas afastadas de suas famílias.” Disse, ainda, que “em torno de 70% do salário é confiscado pela ditadura cubana.”

Rodrigo Martini: rodrigomartini@jornalahora.inf.br

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