A doação do terreno que durante anos abrigou a fábrica da cervejaria Polar surpreendeu a população do município. Os vereadores aprovaram, na noite nessa segunda-feira, o projeto do prefeito Rafael Mallmann que prevê a doação da área para o Judiciário e a demolição de parte do prédio histórico. A sessão reuniu mais de 50 pessoas na câmara, a maioria contrária ao projeto.
Nas ruas do centro, a decisão dividiu opiniões e resgatou recordações da relação da fábrica com a cidade. O taxista José Carlos Fagundes lembra bem de quando se mudou para a Estrela, 1985, para trabalhar na Brigada Militar.
“No fim do dia, soava o alarme e eram 700, 800 funcionários saindo dali. Dava orgulho ver uma potência como era a Polar aqui na nossa cidade,” recorda. Fagundes é contrário ao projeto. Ele considera que o Judiciário tem orçamento suficiente para realizar a obra em outro local.
Magáli Went tem 20 anos e cresceu no interior de Estrela ouvindo histórias dos antigos sobre a fábrica. Para a professora, o local deveria ser restaurado pela relação afetiva com a cidade. “Imagina uma pessoa de idade ver aquele lugar onde passava seu dia a dia ser destruído”, lamenta.
Ficam as memórias
Na infância, Adriano Fell costumava ir com os colegas depois da aula tomar refrigerante no entorno da fábrica. Hoje, ele trabalha em uma empresa de equipamentos para transporte de carga em frente ao prédio. Apesar de lamentar pelo aspecto histórico, ele concorda que algo precisa ser feito em relação ao local. “É um espaço nobre do centro que tem quer modernizado para atrair mais empresas, mais pessoas”, afirma.
O pai de Marlise de Souza trabalhou na fábrica da Polar, assim como seu tio e vários vizinhos. Ela lembra que a desativação da fábrica foi uma tristeza para a cidade. Agora que o imóvel está sem utilidade, ela considera válida a iniciativa do Executivo. “Eu acho interessante porque o espaço vai ser usado. Se a prefeitura não precisa deste terreno, por que não ceder?”, questiona.
Aprovado com folga
O projeto de lei de autoria do Executivo foi aprovado com larga maioria no Legislativo. Apenas dois vereadores votaram contra a proposta: João Braun (PP) e Volmir Zancanaro (PR)
A medida permite que o município doe a área de cerca de 2 mil m² no centro para a construção de uma nova sede para o Fórum de Estrela. O futuro prédio deverá abrigar a vara criminal, anunciada no mês passado.
O valor estimado da área é de R$ 2 milhões e o município terá de se comprometer com a demolição do prédio de mais de 8 mil m² e a limpeza do terreno. A câmara aprovou também uma emenda que garante que a demolição e limpeza dos entulhos só serão feitas quando o a construão do fórum entrar no orçamento do Estado.
Debate no plenário
No plenário, a vereadora Débora Martins (PMDB) defendeu a medida. “A construção de um prédio para a vara criminal vai agilizar os processos na cidade”, diz. O vereador Márcio Mallmann (PP) afirmou ter decidido seu voto ao conversar com um agricultor que participou de júri popular e relatou insegurança no atual fórum. “Ele tem que sair pela mesma porta de quem ele julgou.”
Para João Braun (PP), falta um plano de mobilidade urbana para área. Ele demonstrou preocupação ainda com a falta de uma cláusula que permita a reversão da doação caso o Estado não dê a destinação correta ao terreno.
A área foi adquirida pelo município em 2007 por R$ 1,4 milhão. Na época, a tendência era a construção de um prédio que centralizasse as secretarias municipais, algumas funcionando em imóveis alugados.

Prédio de 8 mil m² será destruído para a construção do Fórum de Justiça
Associação foi contra
A Associação dos Moradores do Bairro Centro – Amor Centro foi contrária ao projeto por considerar que a doação da área está em desacordo com as necessidades reais da cidade.
“Doarmos imóvel para quem tem dinheiro é algo que não concordamos”, sustenta o presidente da entidade, Hélio Muskopf.
Matheus Chaparini: matheus@jornalahora.inf.br