Doação remonta à parte da história de Arroio do Meio

Arroio do Meio - Município completa 84 anos

Doação remonta à parte da história de Arroio do Meio

Documentos guardados pela família Tavares enriquecem acervo da Casa do Museu

Doação remonta à parte da história de Arroio do Meio
Arroio do Meio

Fotografias, documentos oficiais, decisões do governo municipal e contratos de serviços públicos da época do prefeito Aristides Hailliot Tavares agora fazem parte do acervo público da Casa do Museu.

Os materiais foram doados pelo neto do ex-gestor, Aristides de Mello Tavares, e recontam uma fração da história de 84 anos do município de Arroio do Meio.

O ex-chefe do Executivo administrou a cidade dos anos de 1938 a 1941, conta a historiadora e coordenadora da Casa do Museu, Carla Jaqueline Schroeder.

Entre os principais materiais doados pela família Tavares, estão fotos da inauguração da Ponte de Ferro, primeira ligação rodoviária do município com Lajeado. “Foi o maior evento da época.”

Neto do ex-prefeito doou acervo da família para o museu do município

Neto do ex-prefeito doou acervo da família para o museu do município

A inauguração ocorreu no dia 16 de julho de 1939 e autoridades fizeram um ato oficial no município. Pelos registros, foi a primeira vez que Arroio do Meio teve uma visita dos principais líderes políticos da nação e do estado.

A apresentação dos novos itens do acervo da Casa do Museu ocorreu na noite de ontem e faz parte das comemorações do aniversário de 84 anos de Arroio do Meio. Casa centenária

Em 2018, a Casa do Museu, completa cem anos. Conforme Carla, cada exposição é pensada. “O acervo é adaptado para cada temática que abordamos”, conta. A ideia é evitar que o imóvel fique ocioso. Com essas constantes reformulações, diz a coordenadora, há uma rotatividade do público visitante.

O prédio foi construído em 1918. Nos primeiros anos, foi a residência e o consultório do médico alemão, Ernest Von Heckel. Naquele período, Arroio do Meio era um distrito de Lajeado. Haviam cem residências, com 700 habitantes. Não existiam estradas para o município-mãe e nem para Encantado. A única forma de transporte para essas cidades era por meio dos rios.

O então distrito tinha uma central telefônica, uma fábrica de banha e uma agência de navegação da Companhia Arnt. As famílias produziam erva-mate, fumo, feijão e milho. A predominância dos habitantes era de germânicos católicos.

História preservada

O empresário Aristides de Mello Tavares cresceu ouvindo as histórias sobre a região. Na casa dele, morava com os pais, os irmãos e as avós, materna e paterna. Em meio aos livros e documentos, criou o hábito da leitura e a curiosidade de conhecer os fatos marcantes da sociedade.

Após um incêndio na residência da família, em 1968, muitos materiais foram perdidos. Passados alguns anos, resolveram distribuir as fotos entre os demais parentes e os documentos iriam para as repartições públicas. “Em uma dessas, levei seis caixas para a prefeitura de Lajeado. Colocaram em um porão na Casa de Cultura. Anos depois, fui consultar, e todo esse material havia sido extraviado.”

Essa perda fez ele repensar a doação dos itens. Anos depois, foi organizar algumas caixas e encontrou os materiais sobre o avô prefeito. “Além de administrar Arroio do Meio, ele também foi o juiz da cidade.”

Em meio a esses documentos, encontrou as fotos da inauguração da ponte, decisões políticas, determinações judiciais e anotações diversas. “Conversei com algumas pessoas de Arroio do Meio e elas demonstraram interesse em preservar esses materiais.”

Com essa boa vontade, decidiu dar uma “segunda chance” ao poder público. “Muitos materiais importantes se perdem. Esse descaso é ruim não para mim, mas para a história.”

Briga do alemão e do italiano

Entre os documentos doados, uma decisão do prefeito/juiz chama a atenção. Na parte alta de Arroio do Meio, no fim dos anos 40, uma disputa estremeceu as relações entre imigrantes e impactou na economia local.

Quase na divisa com Pouso Novo, havia um matadouro administrado por um italiano. O vizinho, um alemão, tinha um armazém com um salão. Nos fins de semana, ocorriam bailes de kerb no espaço.

As festas desagradavam os descendentes das famílias italianas. Então o dono do abatedouro resolveu fazer outra casa de festas. Como resposta, o alemão instalou outro abatedouro.

A competição virou inimizade. Brigas começaram a ser constantes. Temendo uma tragédia, autoridades de Pouso Novo procuraram o prefeito e pretor Tavares. “No texto do meu avô, há pormenores da questão. Ele começou a audiência perguntando: Vocês sabem falar e ler em português? Com a resposta positiva, decidiu.”

A autoridade da época determinou que haveria um rodízio de bailes e abates de animais. Em um mês, o alemão fazia o kerb, mas não podia abater. Naqueles dias, esse trabalho seria só do italiano. No outro mês, a festa seria italiana, e o abate, do alemão.

Filipe Faleiro: filipe@jornalahora.inf.br

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