De cenas comezinhas de um trailer expondo produtos agrícolas e pessoas compartilhando o churrasco até os atuais robôs que automatizam serviços e processos. O que nasceu em 1966, com a Feira Nacional do Laticínio (Fenal), em 1966, chega em sua 21ª edição com a consolidada Expovale 2018.
A feira que serve como vitrina do Vale do Taquari se mostrou contemporânea ao longo das décadas desde o surgimento oficial em 1982 mostrando a realidade regional de cada época.
Estreia com vendaval
Com o estande de automóveis montado na área externa do Parque do Imigrante, o empresário Rogério Kappler lembra que a Fenal, em 1966, foi marcada pelo vendaval em sua estreia.
“Lamentavelmente o meu estande e de outros colegas foi parcialmente destruído pelo temporal”, relembra.
Naquela época, o regime militar incentivava municípios a produzirem feiras que destacassem a produção setorial de cada cidade, conforme rememora o advogado Marco Aurélio Rozas Munhoz.
“Chegamos a ser a segunda referência em Rodeio Crioulo. Ficávamos para trás apenas de Vacaria”, conta Munhoz.
Como a Lacesa era a maior indústria do município naquele período, Lajeado escolheu o Parque do Imigrante para ser palco da Feira Nacional do Laticínio.
O propósito do idealizador Nilo Rotta foi criar uma feira para angaria dinheiro federal e expandir a produção regional.
No entanto, um ano depois da Fenal, outro temporal destruiu o parque e mpediu a realização da segunda edição do evento. Com isso, Lajeado teve um hiato de 16 anos sem outra feira expressiva.
Força do rodeio
Desde o início, a Expovale foi marcada pelo rodeio. Conforme lembra o primeiro assessor de imprensa da feira, Deoli Graeff, em 1982, com a estreia da primeira edição do evento diversas pessoas se abarrotavam em acampamentos tradicionalistas no entorno do Parque do Imigrante para o rodeio.
“Diversos CTGs acampavam na nossa cidade. Diferente dos rodeios de hoje, aquela época era de confraternização. As pessoas compartilhavam o churrasco, o chimarrão e a alegria que era a festa”, recorda.

Nos primeiros anos da Expovale, o ponto alto do evento eram os rodeios. A atração principal ficava por conta das gineteadas, com Claudio Rodrigues
Na primeira edição, presidida por Rogério Oliveira, a feira era restrita à exposição de gado leiteiro, ovinos e caprinos. Porém, com a força do Rodeio Crioulo, organizado pelo CTG Bento Gonçalves, o evento atraía tradicionalistas – que uniam o gosto pelo campo com a possibilidade de ofertas de produtos para o trato de animais e para agricultura.
“Na época dos rodeios, a presença do show especial ficava por conta da gineteada do Cláudio Rodrigues nos fins de tarde. Ele foi atração em quase todas edições”, diz Deoli.

O jornalista e escritor, Deoli Gräeff, foi o primeiro assessor de imprensa da Expovale, em 1982. Os rodeios, diz, eram formas de integrar o público morador das áreas rurais com as pessoas da cidade. “Diferente dos rodeios de hoje, aquela época era de confraternização.”
Ruptura
Presidida por Carlos Alberto Martini, em 1987, o Rodeio Crioulo e a Expovale deixam de ser realizados simultaneamente. A feira passou a focar na exposição agropecuária e, passo a passo, ampliou espaço para comércio, serviço e indústria.
“A Expovale é a vitrina do Vale e a força da indústria da região. Assim como de um lado o Rodeio Crioulo cresceu e ganhou espaço próprio, a feira avançou a ponto de não ter mais espaço para esse evento tradicionalista”, aponta Munhoz.
Outro ponto para o fim dos rodeios na Expovale, como aponta Deoli, justifica-se pelo compartilhamento de espaço entre gados de raça, cuidadosamente vacinados, com cavalos de rodeio. “Um tinha medo que o animal do outro passasse doença a cavalos e gados”, lembra.
A exposição de animais seguiu na feira até 1997. A exclusão, de acordo com Carlos Alberto Martini, também ocorreu devido à falta de espaço no parque e à mudança de foco da feira.
Atrativos
Para cativar o público, cada edição da feira inovou de alguma forma. Sem rodeios, os shows de expressão nacional, como Wando, internacional, como o cantor de reggae Jimmy Cliff e a apresentação dos Trapalhões, em 1988, lotavam o Parque do Imigrante.
“A gente se preocupava muito em divulgar a produção da Expovale. Quanto mais pessoas na feira, melhor. Por isso, nos dedicávamos a trazer shows inéditos para a região”, conta o presidente da feira de 1988, Marco Antônio Pinto.
Além dos shows, em 1993, com a Expovale presidida por Antônio Schabbach, foi instituída a escolha da rainha da feira e a Avenida dos Municípios, regionalizando ainda mais o evento.

Presidente da Expovale 2018, Valmor Scappini ressalta o desenvolvimento regional e a importância do evento. “A evolução comercial da feira se deu da mesma forma como a própria região evoluiu nos mais diversos segmentos da indústria e do comércio.”
O 3º pavilhão
Expostos às intempéries das condições meteorológicas sem o terceiro pavilhão, expositores de veículos compartilhavam o espaço da área externa do Parque do Imigrante para apresentar carros, motos, caminhões e maquinários agrícolas.
Não raro, a Expovale era acometida por temporais e vendavais. Estandes de concessionárias ficavam à mercê da sorte. “Quase todo ano tinha temporal. A gente já ia preocupado para a feira”, relembra o empresário Kapler.
Conforme o empresário e atual presidente da feira, Valmor Scapin, em uma das edições, no início dos anos 1990, outro temporal provocou tumulto e prejuízos aos expositores.
“Fechou o tempo repentinamente e deu um desespero em todos nós. Entrei na portaria e veio uma folha de zinco em minha direção. ”
Em 1994, surgiu o 1º Salão do Automóvel, durante a primeira edição da Turisfeira. Diferente da Expovale, as concessionárias de veículos da região tiveram pela primeira vez a oportunidade de comercializar seus produtos dentro do pavilhão 1 do Parque do Imigrante.
Protegidos do mau tempo, a feira foi um sucesso para expositores e comerciantes, que não ficavam mais expostos aos primeiros efeitos de calor da primavera entre outubro e novembro.
“Sentimos a diferença na comercialização. Lajeado é uma das cidades que mais tem concessionária de automóveis por habitante. Isso ocorre devido á profissionalização do setor na região”, comenta o empresário Rogério Winck.

Nas memórias do advogado Marco Aurélio Munhoz, destaque para a força do rodeio nos primeiros anos da feira. Hoje, o mais importante, afirma, está na exposição das empresas regionais. “A Expovale é a vitrina do Vale e a força da indústria da região.”
Com o sucesso nas vendas de veículos em 1994 na 1ª Turisfeira, a Associação dos Concessionários da região decidiu convocar a Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil) e o prefeito Leopoldo Feldens para propor a construção do pavilhão 3 no Parque do Imigrante.
Sem verba na prefeitura, as concessionárias acordaram com o governo Feldens e Acil que pagariam a construção do pavilhão em troca de pelo menos duas amostras na Expovale sem custos.
“Para o governo foi bom, pois ficou com o pavilhão para desfrutar ao longo de todo ano. Para Acil, um incentivo no comércio e para nós, concessionárias, melhores condições para atender os clientes na Expovale.
No dia 6 de outubro de 1995, foi inaugurado o Ginásio Nilo Rotta Salão do Automóvel, construído em parceria com a prefeitura e concessionárias do segmento automotivo.
Desde então, a Expovale passou a contar com o Salão do Automóvel, onde as concessionarias distribuem, até hoje, os veículos na feira.
“A construção do terceiro pavilhão foi um bom negócio para todo mundo e expandiu, e muito, os negócios na feira”, afirma Wink.

Consolidada como uma das principais exposições comerciais, industriais e de serviços do interior gaúcho, a Expovale traduz a força econômica e o empreendedorismo das empresas locais. Exposição começou nessa sexta-feira, no Parque do Imigrante, em Lajeado
Modernização
Com o decorrer dos anos, a Expovale se transformou em multifeira. De amostra comercial e regional, passou a ofertar não só mais produtos de origem do Vale do Taquari, mas também o que desponta como inovação no Vale do Silício, nos Estados Unidos.
“Nos propusemos a fazer uma feira multissetorial para abranger os mais diversos segmentos”, afirma o presidente da feira, Valmor Scapini.
Segundo ele, o sucesso da feira explica-se pelo fato de ter acompanhado o desenvolvimento regional desde o início.
“A evolução comercial da feira se deu da mesma forma como a própria região evoluiu nos mais diversos segmentos da indústria e comércio”.
Ainda segundo Scapini, é responsabilidade da Expovale ser protagonista no oferecimento de mudanças e inovações no mercado. “Cabe a feira provocar esta evolução”.
Por falar em provocação, diferente de outras edições, na deste ano, os expositores foram convocados pelo presidente da feira para auxiliar na montagem da feira.
“Afinal, os expositores são os responsáveis por fazer a Expovale de fato acontecer”, comenta o vice-presidente da feira Miguel Arenhart. Ele será o próximo presidente da feira em 2020.

Edição de 2018 é marcada pela tecnologia. No Espaço Conexões, estande coletivo traz máquinas que ajudam no diagnóstico de saúde
Inovação
Nesta edição 2018, a inovação, mais do que nunca, será o mote do Espaço Conexões, um estande coletivo organizado pela Acil, Sebrae, Senai, Sesi e Parque Científico e Tecnológico do Vale do Taquari (Tecnovates) no Pavilhão 2 para demonstração de novidades e oportunidades de negócios.
Segundo a Acil, o objetivo do espaço é justamente mostrar inovações que representam o avanço tecnológico que as empresas estão se adaptado para potencializar o desenvolvimento de seus serviços.
Entre os equipamentos, estarão uma impressora 3D do Tecnovates, tecnologia que pode mudar completamente o modo como vemos a fabricação de objetos, junto com um scanner 3D – aparelho capaz de analisar um objeto tridimensional real e transformá-lo em um modelo digital.
Na área de saúde, com o auxílio de uma nutricionista, uma balança de bioimpedância do Sesi vai apontar a quantidade de água, percentual de gordura, massa magra, peso ósseo e índice de massa corporal (IMC).
Além disso, outra inovação disponível fica por conta do “Boneco do Estressa”, uma atividade interativa em que o público poderá indicar pontos de dor no corpo e descobrir possíveis origens e formas de evitá-las.
Robôs
Entre os atrativos da feira em tecnologia, a STW – Soluções automatizadas apresentará uma série de robôs.
De incansáveis robôs trabalhando em paletização a robôs com braços que imitam humanos, a STW será um dos destaques da feira no que se trata de inovação.
“Vendemos soluções a empresas. Na feira, vamos apresentar como a evolução tecnológico pode auxiliar na otimização de processos com soluções automatizadas”, conta Marco Vinicius Ribeiro, engenheiro de controle de automação da STW.
Como no clássico do cinema Tempos Modernos, com Charles Chaplin, no qual ele atuava como operário em uma indústria fordista apertando parafusos, o trabalho repetitivo e exaustivo do homem é substituído pelas máquinas – que aguentam cargas pesadas, repetem processos sem erro e produzem 24h, sete dias por semana, sem intervalo. “Cada empresa tem um caso diferente. O nosso custo de serviço não é o robô, mas sim a solução.”
Plantar para colher
A história das feiras em Lajeado começa na década de 60. Um grupo de empresários e líderes locais formou uma comissão, presidida pelo saudoso Nilo Rotta, e criou a Feira Nacional do Laticínio (Fenal). A iniciativa foi consequência da força econômica, já naquela época, da cadeia leiteira em Lajeado e na região, estimulada, principalmente pela empresa Lacesa, com sede em Lajeado. A feira, ainda que muito visitada e com um propósito bem definido, não passou da primeira edição. De 1966, Lajeado teve um hiato de 16 anos sem realização de qualquer exposição mais expressiva. Veja na linha do tempo a evolução das feiras em Lajeado até chegarmos na Expovale 2018.
Cristiano Duarte: cristiano@jornalahora.inf.br