Proteger a vida. Essa é a missão principal dos bombeiros e da Brigada Militar (BM). Em casos complexos, como na tentativa de suicídio, as técnicas empregadas durante uma abordagem são o divisor entre o salvamento e o óbito.
Na manhã de ontem, as corporações BM e Corpo de Bombeiros atuaram juntas para evitar uma morte. Uma senhora em sofrimento psíquico estava no parapeito da ponte sobre o Rio Taquari, na BR-386, entre Lajeado e Estrela.
Os bombeiros receberam essa informação às 9h24min. O sargento Eloir Pasch foi um dos primeiro a chegar. Para preparar o local, ele desceu para a barranca do rio, pegou a boia e aguardou a chegada da lancha. “Procurei ficar no local mais próximo de uma possível queda, para chegar nela o mais rápido possível”, relata. Às 10h30min, ela pulou. Segundos após, a embarcação já se aproximou e o sargento Pasch conseguiu retirar a senhora da água.
Com 30 anos de experiência na corporação, Pasch perdeu a conta de quantos salvamentos fez na água. “A ação nesse tipo de fato deve ser rápida. Para a pessoa assim que atingir a água, no momento que vir a tona são poucos segundos até afundar de novo.”
O comandante do Corpo de Bombeiros de Estrela, tenente Paulo Cesar Sulzbach, enaltece a técnica empregada pelos servidores. “A operação de resgate foi brilhante. Inclusive na queda da senhora, foram repassadas técnicas para evitar lesões. Ela caiu na água de pé.”
Queda de 20 metros e sem lesões graves
O tenente dos bombeiros de Lajeado, Delmar Braz do Prado, reforça que em situações como a de ontem o propósito da corporação é preparar a equipe, com todos os equipamentos necessários para reduzir ao máximo o risco de morte. Isso vale para casos de pessoas que tentam pular de prédios, como de pontes.
No acontecimento de ontem, a senhora pulou de uma altura de 20 metros e caiu no canal do Rio Taquari, com uma profundidade aproximada de 10 metros. “Ela saiu inconsciente da água, isso facilitou a retirada imediata”, conta o oficial.

Tática inicial era conversar para ganhar tempo e preparar equipe à queda
A conversa
O sargento da BM, Gilberto Eiffel Brum, conta que foi tentando persuadir a mulher a não se jogar da ponte. “Fomos negociando e ganhando tempo, até que os meios de resgate estivessem prontos.”
Com isso, a lancha se aproximou. “Ela não se jogou. Ela ficou em uma posição que não foi mais possível se manter no parapeito. A queda foi técnica.”
O militar que também é salva-vidas diz que uma das providências em casos semelhantes é se manter de pé em casos de queda.
Susto à família
O filho da mulher, de 29 anos, estava no trabalho quando a mãe chegou e entregou os dois celulares. “Ela disse que ia fazer algo terrível”, relembra. Segundo o homem, ela sofre de depressão e, em outros momentos, teria dito que ia pular da ponte.
“Fiquei assustado, mas nunca imaginei que ela iria fazer isso. Quando cheguei aqui, ela estava na ponte. Vi ela pulando e fiquei com vontade de pular atrás para ajudar. Ela que me botou no mundo e me criou. Não quero que a vida dela seja um desastre.”
Incitação ao suicídio
No momento em que a senhora estava no parapeito, motoristas passavam pelo local e a provocavam. Um inclusive gravou um vídeo que foi difundido pelo whatsApp. Na gravação, o homem diz: “Pula nas pedras. Água não mata.”
O tenente Sulzbach adverte que essa conduta, de incitação ao suicídio, é crime, previsto no artigo 122 do Código Penal, com pena prevista de prisão de dois a seis anos caso o suicídio seja consumado, ou reclusão de um a três anos caso a tentativa gere lesões.
Duas abordagens
O soldado dos bombeiros, Filipe Martins da Cunha, conta que há duas formas de trabalho em casos como o de ontem.
Abordagem tática
Tirar a pessoa do local de qualquer forma. Agarrar, imobilizar e sair do local de risco. São usados equipamentos como cordas e cadeiras de salvamento.
Essa tática por muitos anos foi a mais usual. Hoje não é a mais recomendada. Hoje, a instrução é aplicar esse método apenas quando a abordagem técnica falhar. O risco é criar um novo trauma ao indivíduo. “Em caso de uma outra tentativa de suicídio, assim que ver os bombeiros, a pessoa vai pular, sem dar o tempo necessário de preparação.”
Abordagem técnica
Na abordagem técnica, diz Cunha, há uma tentativa de identificar o problema, entender o drama pessoal, aceitar e preservar o limite de espaço. “Não vou até ela, não faço nada abrupto.” Essa tentativa é fazer a pessoa sair por conta própria, ou mesmo dar tempo para a preparação da área no caso de queda ou do indivíduo pular.
Filipe Faleiro: filipe@jornalahora.inf.br