Felipe Augusto Schauren, 27, é professor de Inglês e Português. Faz dois anos e meio que mora em Kofu, Yamanashi, no Japão.
• O que te levou a morar no exterior?
Há aproximadamente 4 anos, resolvi ir para a Irlanda para aperfeiçoar meu inglês. Enquanto morava em Dublin, conheci a Yu, uma japonesa. Namoramos por alguns meses, porém, quando nossos vistos irlandeses estavam prestes a expirar, ela me convidou para morar no Japão ao invés de terminar tudo e voltar para o Brasil.
• Quais os traços culturais que você percebes no japonês?
Aqui é tudo muito conveniente, o japonês tem confiança nos outros em um nível que até me deixa preocupado. Na maioria dos mercados aqui da região, os caixas são eletrônicos e o pagamento acontece somente depois que você já está com a mercadoria em mãos. Nas estações menores de trem, ninguém verifica se você realmente comprou passagem, você apenas deposita o ticket em uma caixinha de metal na saída. A cidade é muito limpa apesar de não existirem lixeiras nas ruas, trazer o lixo consigo para casa é costume.
• Qual a principal virtude e a principal dificuldade do povo japonês?
O japonês tem muito respeito ao próximo e nunca quer criar uma situação desagradável aos demais, quase nunca vejo tumulto ou “barraco” em público. Entretanto, esse respeito demasiado com o outro, bem como o fato de não querer causar incômodo ao próximo, torna os japoneses um povo fechado, é muito difícil fazer amizades com o pessoal daqui. Não existem muitas oportunidades de conversas com outrem.
• O que do Japão deveria ser trabalhado no Brasil?
Uma coisa que o Brasil deveria adotar do Japão é o transporte ferroviário, é barato e rápido, o trem praticamente nunca se atrasa. Com certeza fortaleceria a economia do país e facilitaria muito o transporte inter-regional de pessoas.
• Você pretende voltar a morar no Brasil? Por quê?
Gostaria de voltar para o Brasil um dia desses para estar com a minha família, contudo, minha esposa é japonesa e por mais que já tenha se esforçado, tem muita dificuldade em aprender a nossa língua, além disso, seu diploma dificilmente seria válido no país.
• O que mudou na sua vida após essa experiência?
Todo viajante sabe muito bem da evolução pessoal que passamos, visitando as mais diversas culturas. Morando em locais diferentes, pude conhecer pessoas, histórias e aprender sobre fatos, que se morasse apenas no Brasil, jamais aprenderia. Acabamos ficando mais empáticos e solidários, Em síntese, o que posso compartilhar das minhas experiências é que partidas, por mais difíceis que possam ser, são muito válidas.
Ezequiel Neitzke: ezequiel@jornalahora.inf.br
