Lucro em segundo plano

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Lucro em segundo plano

O manejo valoriza o uso eficiente dos recursos naturais não renováveis e os produtores se preocupam com a qualidade da vida humana, dos animais, das plantas e do solo. A produção de orgânicos avança na busca pela segurança de uma alimentação saudável

Lucro em segundo plano
Vale do Taquari

Cansado da rotina agitada na zona urbana, Leandro Lange, de Lajdeado, trocou a profissão de técnico em prótese dentária pela tranquilidade do interior. Na companhia do amigo Rafael Cunha, decidiu iniciar o cultivo de hortaliças. “Produzir sem agrotóxicos foi a primeira escolha. Queríamos preservar o ambiente e melhorar a nossa saúde e de quem comprasse nosso produto”, lembra.

Em uma área de três hectares às margens da BR-386, no bairro Conventos, cultivam alface, repolho, brócolis, beterraba e outras variedades. O próximo passo é produzir pimenta, berinjela e tomate. “A área estava improdutiva faz 30 anos e isso favoreceu para conseguirmos a certificação junto ao Mapa”, conta.

Ele integra o Organismo de Controle Social (OCS) Orgânicos do Vale. Ressalta a importância do trabalho coordenado pela Emater. “Além da orientação técnica, ajudam a divulgar os benefícios de um alimento natural”, afirma.

No entanto, critica a concorrência desleal. Segundo ele, a maioria dos produtores vende como se fosse de origem orgânica. “O consumidor é enganado. Ele deve exigir o certificado. Apenas dois produtores que vendem na feira de Lajeado têm. O restante tem produtos convencionais. Podem até ser orgânicos, mas não estão certificados”, diz.

Outra forma de identificar a origem é fazer testes em laboratórios ou denunciar possíveis fraudes ao Ministério Público. Para driblar os concorrentes, Lange vai retomar a venda pelo aplicativo WhatsApp e fazer a entrega na casa do cliente. No futuro, estuda abrir um colhe-pague na propriedade.

Cultivo por ciclos

Na banca da feira, nem sempre tem fartura, pois na lavoura de Lange o plantio é feito por ciclos, além de depender do clima. “Enquanto uns compram na Ceasa, a gente prefere dizer que está em falta, que a chuva estragou ou não está na época. Em troca, oferecemos outro”, comenta.

Além de produzir, Lange voltou à sala de aula. Aprendeu sobre a legislação e as técnicas exigidas pelo Mapa para manter o cultivo orgânico e desenvolver o regimento interno da OCS. “Sabemos produzir e nos preocupamos com a saúde de quem consome. Não importa só o lado financeiro, mas sim a qualidade de vida e o bem-estar”, reforça.

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“Pensamos na nossa saúde”

O casal Daniel Purper e Dorilde Ribeiro (foto de capa), do bairro São Bento, Lajeado, iniciou a produção de orgânicos há dois anos em uma área de 2,9 hectares. Eles também fazem parte da OCS. São mais de 20 variedades de hortaliças e frutas cultivadas sem aplicação de agrotóxicos ou adubos químicos. “Com o tempo, a própria planta cria um sistema de proteção contra pragas e doenças. Basta conhecer e respeitar seu ciclo”, explica Dorilde.

Entre os motivos para adotar novos hábitos alimentares, ela destaca a preocupação com a saúde. Durante anos, a fabricação de pizzas e salgados era alternativa para complementar a renda oriunda dos hortigranjeiros.

Outra alternativa é a fabricação de pães orgânicos. São três variedades – o tradicional, de milho e integral. Por semana, são vendidos em média 50 unidades. “Todos os ingredientes são certificados”, afirma.

Em seis meses, pretende lançar uma linha de massas e bolos. “As pessoas, assim como nós, estão preocupadas com o seu bem-estar. Ao mudar nosso estilo de vida e de produzir, nos tornamos mais felizes e tranquilos, pois vendemos com procedência garantida, sem nenhum tipo de risco”, ressalta.

Andréia Binz Tonin

Conhecimento e conscientização

O mercado de orgânicos registra crescimento de 35% ao ano no RS. Para produzir, no entanto, é preciso conhecimento e conscientização.

De acordo com a engenheira agrônoma da Emater/RS-Ascar, Andréia Binz Tonin, a agricultura orgânica não permite o uso de fertilizantes sintéticos, agrotóxicos ou qualquer produto químico e tem por base a preservação dos recursos naturais.

De acordo com o assistente técnico regional de Recursos Naturais da Emater, Marcos José Schafer, para obter a certificação, é preciso passar pelo período de conversão para “descontaminar” a área de cultivo ou criação de animais, prazo varia de 45 dias a 18 meses.

Como transformar uma área em cultivo orgânico?

Marcos e Andréia – Não basta apenas substituir insumos químicos por orgânicos. O cultivo deve equilibrar o sistema, adotar práticas de manejo preventivas como rotação de culturas, adubação verde, compostagem orgânica e controle biológico de insetos e doenças. Observar a qualidade da água, procedência do adubo orgânico externo com devida comprovação de ausência de contaminantes, sementes livres de transgenia. Também utilizar equipamentos sem resíduos químicos, observar o risco de contaminação de áreas vizinhas que utilizam o manejo convencional, entre outros.

Como manter o cultivo orgânico ao lado do convencional?

Marcos e Andréia – É um complicador, pois aumenta os riscos de contaminação. Nesses casos, o produtor orgânico terá que afastar sua área de produção ou implantar barreiras vegetais espessas que garantam a proteção. Na produção de milho orgânico, é ainda mais complicado, pois também existe o risco de contaminação por meio do pólen proveniente de plantações de milho transgênico. O ideal seria que quem utiliza produtos que contaminam produções, fosse responsável por garantir a não contaminação das áreas com produção orgânica.

Marcos José Schafer

Como diferenciar um produto orgânico do convencional?

Marcos e Andréia – Pela presença do selo oficial de produto orgânico no rótulo ou embalagem. Está presente quando foi certificado por auditoria ou pelo Sistema Participativo de Garantia (SPG). Quando for pelo Organismo de Controle Social (OCS), o produtor deve expor no local de venda a declaração de conformidade orgânica emitida pelo Mapa.

Como o produtor consegue o certificado?

Marcos e Andréia – Por auditoria, Sistema Participativo de Garantia (SPG) e controle social na venda direta por meio de uma Organização de Controle Social (OCS). No Vale do Taquari, existem 18 famílias com áreas certificadas via OCS e SPG. Outras 43 estão em processo de conversão. Existem grupos organizados em Santa Clara do Sul, Lajeado, Forquetinha, Arroio do Meio, Cruzeiro do Sul, Estrela, Encantado, Arvorezinha e Ilópolis.

Considerações finais

Marcos e Andréia – A agricultura orgânica visa à produção de alimentos saudáveis e de maior qualidade, preserva os recursos naturais e estimula a biodiversidade. Alimentos orgânicos são mais nutritivos, saborosos, não agridem a natureza e se tornam aliados da saúde. O consumidor deve atentar à presença do selo de certificação ou declaração de conformidade orgânica exposto na venda direta, pois essa é a garantia de comprar produtos saudáveis e isentos de qualquer resíduo tóxico.

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