Com uma rede de lojas distribuídas em pontos estratégicos do RS, a Costaneira é uma das principais referências gaúchas em acabamentos comerciais, residenciais e em projetos exclusivos. Fundada por Arno Johann em 1949, em Lajeado, a empresa é comandada desde 1960 pelo filho de Arno, Donald Johann, que assumiu a gestão aos 22 anos.
Após um começo difícil e com poucos recursos, a Costaneira cresceu graças à organização e ao planejamento, aliados ao investimento constante em tecnologia. Foi uma das primeiras empresas a adotar sistemas informatizados para emissão de notas e controle de estoque, ainda na década de 1970.
Além da matriz em Lajeado, hoje a empresa tem filiais em Bento Gonçalves, Canoas, Caxias do Sul, Novo Hamburgo, Passo Fundo, Porto Alegre, Santa Cruz do Sul e Santa Maria. Mantendo a inovação no DNA, a Costaneira se prepara o futuro apostando na especialização para continuar a trajetória de sucesso por no mínimo mais 69 anos.
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Como a sua história se confunde com a da Costaneira?
Donald Johann – Quando era guri, já trabalhava na empresa. Principalmente nas férias e nos momentos livres do dia tinha que ajudar a emitir nota e a atender no balcão. Com o tempo fui criando intimidade com a empresa. Meu pai começou em 1949, quando eu tinha 7 anos. A partir dos 10 anos, em 1952, já tem nota emitida por mim. Mas a história da empresa começa com meu pai, que iniciou a vida como pedreiro, ramo em que trabalhou por 25 anos. Teve uma pequena construtora e foi desenvolvendo todo um conhecimento na área da construção civil.
O que motivou seu pai, Arno Johann, a fundar a Costaneira?
Johann – Pouco antes de abrir a empresa, ele passou por um dos grandes desafios da vida. Porque era um construtor prático, que podia assinar os projetos na prefeitura e fazer tudo o que um engenheiro faz. Com o advento dos novos engenheiros, formados nas faculdades de Porto Alegre, a classe passou a se organizar em associações e as prefeituras proibiram a assinatura dos práticos. Ele teria que ou prestar um exame junto ao Crea, continuar com licenciado, ou fazer alguma outra coisa na vida. Na época ele se deu conta de que já tinha 25 anos de profissão, que tinha formado pedreiros, carpinteiros, serventes, uma turma grande de pessoas que poderiam ser clientes em potencial. E assim decidiu abrir a loja.
Quais foram os desafios nos primeiros anos da Costaneira?
Johann – Meu pai começou sem dinheiro. Ele era muito pobre e iniciou o negócio com as sobras de um prédio que edificou, no local onde abriu a loja, na Júlio de Castilhos. Ele não parou de trabalhar, porque tinha uma família grande para sustentar. Ele manteve o trabalho na construção civil e minha mãe ficava atenta à chegada de clientes na loja. Lajeado tinha prédios baixos, e meu pai ficava de olho nesse prédio do centro. Quando chegava um cliente, minha mãe estendia um lençol na sacada superior do prédio para avisar o meu pai. Ele descia do andaime, pegava a bicicletinha dele e ia atender o cliente. Temos registros de venda do início da empresa com apenas duas, três vendas em um mês. Com o tempo foi se capitalizando, até conseguir ficar só com a empresa.
Quando o senhor e os irmãos ingressaram na empresa de fato?
Johann – Minha irmã mais velha entrou em julho de 1956, trabalhava na área de caixa e cuidava dos documentos. Eu entrei em janeiro de 1960, com 18 anos. Em 1962 fui emancipado para poder assinar papéis e ser sócio. Então passei a fazer de tudo e a desempenhar o papel de gerência. Meu pai saiu da empresa muito cedo, em 1964, e passou o comando para mim, porque queria voltar a construir. Ele fez o comércio por necessidade, mas a grande paixão dele era a construção. Na época eu tinha 22 anos.
Como foi assumir o comando da empresa da família em meio a um período de grande turbulência na política?
Johann – Era um momento muito parecido com o atual. Nos primeiros meses do governo Castelo Branco, eles quiseram dar um choque econômico no Brasil e criaram uma recessão profunda. O comércio simplesmente parou. Eu vinha de uma situação boa e achava tudo fácil, então, tive dificuldades enormes para honrar os compromissos. Mas o país estava todo parado na época, então, a indústria concordou em prorrogar duplicatas. Cheguei a atrasar os pagamentos por 90 dias e 120 dias. Claro que depois comecei a me estruturar, peguei um capital de giro e fomos capitalizando a empresa. O comércio ganhou muito no período militar, mas o povo perdeu. A classe média praticamente foi extinta e tivemos períodos de altíssima inflação. O comércio remarcava todo dia, mas o salário não. O comércio não perdia, mas o consumidor perdeu muito, e os militares começaram a querer que o Estado fosse dono de empresas. Foram criadas 450 estatais. Quem pagou foi o povo.
Quando iniciou a abertura das filiais?
Johann – Abrimos a primeira filial em 1977, em Estrela. Foi a forma que encontramos para expandir. Em 1978 abrimos em Santa Cruz do Sul, depois em Taquari, Santa Maria, Novo Hamburgo e em 1990 chegamos em Porto Alegre. Em 15 anos abrimos praticamente toda a rede da Costaneira. Na época, nós também informatizamos toda a empresa. Fomos pioneiros da informatização na região.
Como foi esse processo de informatização?
Johann – Nós compramos na década 1970 uma máquina da Olivetti que fazia um trabalho eletro-mecânico. Ela tinha um software e cartões magnéticos de leitura. Cada cartãozinho tinha 256 bytes apenas. Mas essa tecnologia entrou no Brasil para fazer folha de pagamento e contabilidade. Cada conta tinha um cartão. Quando você ia fazer um pagamento, pegava o cartão caixa, o software fazia leitura e o lançamento e a máquina elétrica gravava a posição nova. E assim começou a funcionar. Quando eu conheci a máquina, fui atrás do cara que programava para ver se tinha como fazer o estoque por esse método. Ele disse que não dava e então dei ideias de como podia ser feito. A quatro mãos nós fizemos o primeiro sistema de estoque com cartão magnético.
Como funcionava esse sistema?
Johann – Sempre que vendíamos um produto, como um saco cimento, pegava o cartão de cimento, colocava na máquina e ela fazia a leitura. No cartão, havia informações sobre o número de sacos existentes em cada filial, o preço médio de venda e um campo para ir colocando a acumulação de lucro em relação à venda. Era muito simples, mas foi muito importante para nós, pois tínhamos as informações diariamente. Naquela época, as lojas tinham as informações uma vez por ano, quando faziam o balanço geral. Era o momento de fechar a empresa e fazer toda a contabilidade para saber se houve lucro, apontar as despesas e as receitas. Passava o ano todo sem saber. Eu já sabia isso no dia seguinte à venda. E assim nós fomos sempre avançando na área da informática na medida em que chegavam os novos equipamentos no estado. Alguns ainda tenho guardados no museu da empresa.
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Investir em inovação nesta época foi um desafio?
Johann – Quando começamos, éramos muito dinâmicos. Eu era jovem, tinha uma cabeça muito nova, e o comércio era muito conservador. Na década de 1960, quando você comprava uma mercadoria, fazia uma carta e enviava pelo correio. A maioria das indústrias que nos atendiam era de São Paulo. A carta chegava, eles preparavam a mercadoria, encaixotavam em caixas de madeira e enviavam por caminhão. Quando vinha muito rápido, levava 45 dias. Então todo mundo tinha um estoque sempre maior para girar esse tempo todo, e o mercado era pequeno. A população aumentou quatro vezes no país desde então. Lajeado era muito pequena, tinha três empresas do setor, e nós chegamos com muita disposição para crescer. Fomos os primeiros a montar show rooms, montávamos na loja o banheiro como ia ficar na casa do cliente. Quando passamos a ir para as outras cidades, o comércio também estava parado, esperando essas inovações. Crescemos muito rápido e aos poucos, com o aumento da concorrência, tivemos que optar por algum segmento. Procuramos ser melhor em alguma coisa. Das empresas que na época estavam na Júlio, só sobrou a nossa.
Qual o principal desafio para os empreendedores?
Johann – O consumidor está cada vez mais exigente, com razão. Ele entra na internet e encontra o produto que quiser. Não tem mais meu concorrente do outro lado da rua, é preciso ser competitivo no mercado global. Como passar por cima disso e ter sucesso onde todo mundo tem uma ferramenta na mão capaz de comprar coisas de qualquer lugar do mundo. Antigamente existiam as opções da minha loja e mais uma ou outra da cidade. E ele comprava só o que estava no balcão, porque não ia mandar algo vir dos Estados Unidos. Hoje é completamente diferente. Nosso mercado é um dos mais exigentes do mundo e nossa indústria nacional é uma das mais variadas. O consumidor brasileiro é mais exigente que o americano. Nos EUA, as pessoas fazem casas todas parecidas, aqui, quando construímos, queremos exclusividade. Na hora de escolher azulejos, nossa loja tem mais de duas mil opções de piso. Mas nosso lojista tem que fazer de tudo para que o cliente fique encantado e compre dele. Isso diante de um consumidor cada vez mais esperto, informado e interessado em coisas diferentes. Hoje, é tudo quase exclusivo.
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Qual a dica que o senhor daria para aqueles jovens que pretendem empreender?
Johann – Sempre fui uma pessoa muito otimista e entendo que existe espaço em todos os segmentos de mercado. A dificuldade vai ser a competição enorme, então, ninguém vai encontrar moleza. Tem que estar disposto a trabalhar. É 1% de inspiração e 99% de trabalho. Mas se a pessoa tiver vontade, estiver disposta a trabalhar muito, vai dar certo. Tem que ser persistente e ter os pés no chão. Não dá para sair gastando e investindo o que não tem. O Brasil é o país das oportunidades e tende a melhorar muito, porque o mundo está crescendo e está cheio de exemplos de empresas inovadoras.