A derrota do debate

Opinião

Rodrigo Martini

Rodrigo Martini

Jornalista

Coluna aborda os bastidores da política regional e discussão de temas polêmicos

A derrota do debate

Os debates, ou as disputas argumentativas, são cruciais na política. Caracterizados por Sócrates, que utilizava de uma falsa ignorância para vencer seus “adversários”, o mecanismo vem sendo um dos principais derrotados nesta estranha eleição de 2018. A boa argumentação vem perdendo espaço para bravatas, “memes” e, principalmente, a intolerância diante do adverso.
Já se passaram mais de dois mil anos desde o fim da vida de Sócrates. E ainda não aprendemos a fazer bom uso da dialética. Nossos diálogos atuais, por mais que pareçam repletos de argumentos e retóricas, não vêm atingindo o mínimo para um resultado satisfatório.
Comunismo, fascismo, nazismo. Esses três ismos nunca estiveram tão em pauta no Brasil. E todos os três estão a anos luz de se tornarem uma ameaça ao nosso povo brasileiro. São falastrões. Cheios de “argumentos”, mas quase nenhum compromisso com a verdade. Parecem mais interessados no medo geral da nação. Afinal, o medo gera votos.
A derrota do debate
Há também a repetição e a propagação de frases de efeito. É o que nos acostumamos a chamar de “lacração”. Tudo se resume a uma ou duas linhas, compartilhadas a esmo pelos correligionários da esquerda e da direita. Surgem em meio aos medíocres debates, especialmente quando os já escassos argumentos se encerram. Por vezes, chegam antes.
Nestes tempos sombrios à democracia e à imprensa, padecemos com a falta de paciência. Em geral, a maioria dos “debates” gera agressões. Em alguns, é quase regra o ataque exacerbado sobre quem apresenta uma retórica distante do pensamento comum dentro de determinados grupos. Falta empatia, também.
O brasileiro vem demonstrando uma grande limitação para perceber que, dentro da visão do outro, há também outra vida, outros desafios já vencidos ou perdidos. Muitas vezes, na falta de argumentação qualificada, bravateiros buscam descobrir no opositor alguma brecha no pensamento que se confunda com a vida pessoal. Dane-se a pauta. Parte-se para a pura e rasa agressão.
Tais agressões geralmente vêm carregadas de frases jocosas e provocativas. Debochadas, mesmo. São estabelecidas comparações absurdas, supostas contradições com pouca ou nenhuma evidência e, por fim, os ataques à fonte. Seja ela uma autoridade, um jornalista, um mero pensador, um empresário, um contribuinte qualquer, ou até mesmo um político de renome.
Nesta semana, um debate foi cancelado no Diretório Central dos Estudantes da Univates. Uma síntese perfeita deste estranho momento. De um lado, a presidência do DCE errou ao chamar debatedores de um lado só – o esquerdo, no caso –, o que obviamente é insuficiente para uma boa dialética neste passo crucial das eleições. De outro, ameaças e provocações absolutamente descabidas contra os organizadores. Uma sucessão de maus exemplos.
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Em âmbito nacional, experimentamos novamente um presidenciável desdenhando o debate. Lula, o principal líder da esquerda, fez o mesmo em anos anteriores e, agora, é a vez do líder da direita fazer o mesmo. Ambos foram aplaudidos por seus fiéis seguidores por tais ações. É a tal da empatia, mas desta vez em excesso e para o lado errado.
Lula, como se sabe, sempre teve grande aptidão para os palanques, onde a bravata e o sofismo prevalecem. O mesmo ocorre hoje com Jair Bolsonaro. Ambos sempre foram ruins de debate. Com Lula, a ausência dessa habilidade talvez tenha resultado no famoso “Mensalão”. E o que virá com o já futuro presidente do Brasil, com tanta inaptidão diante do controverso?
Claro que não devemos generalizar nada. Há ótimos exemplos de bons e novos debates na própria eleição de 2018. Mas, em geral, estamos cada vez mais próximos dos falastrões e a cada dia mais distante de Sócrates, Platão, Aristóteles….


Portugal é modelo

Esses primeiros dias de trabalho para o Caderno TUDO em Portugal foram inspiradores. A boa mescla entre serviços públicos e concessões de bens do governo à iniciativa privada parece ser um dos trunfos aqui neste berço de nossos “descobridores”. Sem radicalismos, com bom debate entre esquerda e direita, tudo parece mais plano. Mais plausível. O resultado é um país a cada dia mais próspero, com espaço para o mercado crescer dentro do bom ambiente social.


Alemanha já inspira

Nesta madrugada, desembarco em Frankfurt, na Alemanha. As pautas giram em torno da administração pública e privada, cooperativas de crédito e de produtores rurais, e também o inovador Medical Valley, na cidade de Erlangen, cujos membros já estão bem cientes e interessados na realidade proposta, principalmente, pela Universidade do Vale do Taquari, a nossa bem-sucedida Univates. Já de antemão, tenho certeza que descobrirei bons exemplos.


Tiro curto

– A chapa de José Sartori (MDB) ingressou com dois processos contra a vereadora de Lajeado, Mariela Portz (PSDB), após o vídeo sobre o possível fechamento do Hemovale. Houve até liminar exigindo a retirada do vídeo. Após julgamentos, a liminar caiu e o governador não ganhou direito de resposta. Mais um sinal de que o negócio é sério;
– O governo de Lajeado avança na tentativa de municipalizar a rodovia que leva a Santa Clara do Sul. Com essa garantia, seria possível edificar mais próximo da ERS-413, garantindo assim mais empreendimentos e investimentos;
– Em Estrela, a possibilidade de cobrança no estacionamento rotativo ganha força. Pesquisa popular terminou empatada;
– Também em Estrela, o vereador João Braun pode migrar em breve do PP para o Partido Novo;
– Já na câmara de Lajeado, Neca Dalmoro (PDT) é a favorita para assumir a presidência em 2019. Mas Nílson do Arte (PT), sem aval do próprio partido, resolveu entrar na briga;
– Arroio do Meio está na expectativa da II Feira Agrícola. Um bom evento para fortalecer a cadeia. Ocorre nos dias 26 e 27, em Forqueta;
– Paverama foi a primeira cidade. Quem serão os próximos prefeitos a assumir a necessidade de turno único no Vale do Taquari?

Boa quinta-feira a todos!

“A meta de uma discussão ou debate não deveria ser a vitória, mas o progresso.”
Joseph Joubert

 

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