É difícil vencer a máquina de comprar votos e reeleições. O velho mecanismo da política segue definindo Assembleias e Congresso, salvo raras e exóticas exceções. Emendas parlamentares, cargos de chefia em secretarias e ministérios, e o poder de caneta – e do marketing – para decidir obras e investimentos públicos são as principais táticas dos partidos. E nossos candidatos não podem reclamar.
O choro de quem ficou de fora mais uma vez da Assembleia ou do Congresso Nacional, na maioria dos casos, não merece atenção. O ideal seria que, ao sugerir ao outro que varra a casa, o mesmo esteja com a sua casa limpa. Mas isso nem sempre acontece. Na política, muito menos.
Nossos candidatos e seus fiéis correligionários cavam a própria cova faz décadas. E não aprendem. Durante os anos que antecedem os pleitos, adubam o terreno para os lobos estrangeiros e sedentos por votos. Afagam futuros oponentes em troca de apoio do partido. Fazem parte por completo do mecanismo. E depois se queixam. Tadinhos…
Não é preciso dar atenção a quem hoje reclama da escolha do eleitor pelos candidatos de fora, mas que ontem distribuía ‘santinhos’ abraçado em outros – veja só – candidatos de fora. Tampouco dar créditos a quem hoje reclama da falta de atenção do eleitor local, mas até domingo passado compartilhava fotos com políticos de outras regiões e suas emendas.
O discurso dos perdedores se limita à verborragia, pois na prática as convicções não se aplicam. Ora, caro candidato. De nada adianta você entrar de cabeça no jogo, fazer campanha para quem garante de forma imoral uma obra pública – condicionando-a a tal apoio, por exemplo –, e depois reclamar que esse mesmo político imoral – e de fora – conseguiu a cadeira parlamentar, e você não.
“Para os outros o rigor, para nós a misericórdia”, pensam nossos candidatos.
A tendência de falar mais do que fazer é bastante comum, sobretudo para quem gosta de passar uma imagem de pessoa bem-sucedida, de político superior, com grande maturidade emocional. Mas, após alimentarem o monstro da corrupção eleitoreira e serem engolidos por ele, apenas atestaram a própria credulidade perante o mecanismo.
[bloco 1]
Ou é isso, ou lhes falta é gana para burlá-lo. Mas não creio nisso. Muitos de nossos representantes também tentaram, em vão, utilizar da mesma técnica maquiavélica de angariar votos com o uso da máquina pública. Mas estão fora do pelotão de elite, e essa é outra característica de quem sempre sobra como o tolo da história.
Enquanto adversários se divertem com os mais importantes cargos do governo estadual e federal, nossos postulantes, além de cabos eleitorais dos futuros adversários, tentam entrar no esquema se utilizando de cargos de diretor aqui, chefe de não sei o que lá, ou assessor de sei lá quem. Nada de vitrina. Ou capas de jornais. Nada de assinar duplicação de ponte ou comprar equipamento para hospitais.
O pleito segue o menos democrático possível. Salvo raras e exóticas exceções, reforço, as emendas parlamentares, a distribuição de cargos do alto escalão de forma eleitoreira e o marketing dos “canetaços” ainda definem a maior parte dos nossos representantes.
Ao fim do primeiro turno, e após essa grande e impiedosa histeria coletiva diante de toda a corrupção, de operações da Lava-Jato, das notícias espalhafatosas via WhatsApp e o diabo a quatro, o mecanismo segue funcionando a pleno e ainda sob a batuta dos “injustiçados”.
O Novo e a lua
Douglas Sandri quase provou para muitos – e inclusive para este colunista – que a metáfora da “pedalada até a lua” estava de fato precipitada, especialmente em relação a ele. Ficou de fora da Assembleia por míseros 317 votos. Quase uma injustiça, em um Vale onde quase 140 mil eleitores optaram por candidatos de outras regiões do estado. Sobre o Novo, fica uma lição. É possível fazer política sem dinheiro do contribuinte. Mas até que ponto isso será positivo?
O ciclo de Bacci
Enio Bacci, do PDT, fechou o ciclo com elegância no domingo. Foi muito bom o discurso dele após a derrota. Torceu pelo até então adversário, Douglas Sandri, que ainda disputava voto a voto com colega do Novo, e reconheceu a necessidade de renovação no quadro da Assembleia. Anunciou o fim do ciclo. Não deve mais concorrer ao Legislativo. Mas deve seguir na política. Entre as metas, aquela almejada desde os primórdios dos anos 80: a prefeitura de Lajeado.
Tiro curto
– Foi muito oportuno para a chapa do candidato Eduardo Leite, do PSDB, esta polêmica sobre o fechamento ou não do Hemovale, em Lajeado. A repercussão um tanto quanto nebulosa foi muito ruim para o atual governador – e adversário no segundo turno –, José Ivo Sartori (MDB);
– Ainda sobre o Hemovale, o vídeo postado pela vereadora Mariela Portz (PSDB) no Facebook deu o que falar. E o caso foi parar na Justiça. A coligação de Sartori entrou com uma representação contra ela. Ontem, o juiz exigiu a remoção do conteúdo das redes sociais;
– Em Estrela, a falta de insulina no posto de saúde persiste;
– Em Lajeado, Sérgio Kniphoff (PT) e Neca Dalmoro (PDT) são nomes cogitados para a presidência da câmara em 2019;
– Mais de 250 músicas já foram inscritas para o Canto da Lagoa, em Encantado. São composições nacionais e até do exterior;
– Novamente a honra dos nordestinos foi atacada nas redes sociais após as eleições. É o cúmulo da ignorância. É a face escancarada da vergonha alheia e oculta da mediocridade. Tem “cidadão do bem” que não aprende;
– Neste domingo, tem Arte na Praça, no bairro Americano, em Lajeado. Não perde essa, vivente!
Boa quinta-feira a todos!
“Falta muito para que a inocência tenha tanta proteção como o crime.”
François La Rochefoucauld