Falta de mão de obra reduz área em 41%

Negócios

Falta de mão de obra reduz área em 41%

Oscilação no preço, de tecnologia para mecanizar a lavoura, além de concorrência com outras regiões, fazem o cultivo de aipim registrar queda de 500 hectares desde o ano 2000

Falta de mão de obra reduz área em 41%
Vale do Taquari

O aipim já ocupou 15 hectares na lavoura da família Schmitt, de Linha Sítio, Cruzeiro do Sul. Produtor desde a infância, Pedro César lamenta a desvalorização da matéria-prima. “Vendemos a caixa de 22 quilos por apenas R$ 6. Sem sucessor e máquinas, a exigência de muita mão de obra faz a área reduzir cada ano”, conta.

No último ciclo, foram cultivados apenas 4,5 hectares e colhidas três mil caixas. No lugar do aipim, cultiva soja, abóbora e milho-verde. Para ele, é a estratégia para escapar da oscilação dos preços. “A rotação também ajuda a preservar o solo”, ensina.

O casal Claudinei e Angela Olbermann, de Boa Esperança Baixa, investiu na construção de uma agroindústria para beneficiar a raiz. No entanto, a concorrência fez o lucro cair. “Mesmo descascado e embalado a vácuo, o preço continua baixo. Ganhamos R$ 3,50 por quilo”, dizem.

Pedro César

Por semana, são industrializados 1,5 mil quilos, vendidos para mercados da região. Outra parte é destinada à merenda escolar. São dois hectares cultivados, cuja produção alcança uma média de 1,4 mil caixas. Para driblar a concorrência, eles apostaram na diversificação.

Passaram a industrializar feijão, das variedades carioca e preto. No ciclo anterior, foram colhidos 1,5 mil quilos. Outro produto beneficiado é a moranga. “Tem menos oferta no mercado e por isso conseguimos bons resultados. Se fosse para se manter somente com o aipim, seríamos obrigados a desistir”, avalia Olbermann.

“Esta semana chegou aos miseráveis R$ 4”

Conforme o técnico em Agropecuária Maurício Júnior Antoniolli, os principais motivos para a queda expressiva na área de aipim são a oscilação do preço pago, a idade dos produtores avançada (maioria acima de 50 anos) e a falta de tecnologias e máquinas para facilitar o trabalho.

Levantamento aponta que a área cultivada era de 850 hectares no ano de 2000. Dezoito anos depois, restam apenas 350 hectares, uma queda de 41%. A produtividade média alcança 14 toneladas por ha.

Aipim

Entrevista

Por que a área caiu tanto?

Maurício Júnior Antoniolli – A falta de sucessores, a idade avançada, a baixa produtividade por falta de manejo adequado do solo, alguns anos com problemas de doenças, e o baixo valor recebido pelo produto desmotivam quem persiste. O aipim é a atividade que mais recua e a tendência é continuar.  Com áreas pequenas, não é economicamente  viável mecanizar. Se houvesse valorização do produto, os jovens investiriam na cultura.

Como escapar da oscilação do preço?

Antoniolli – Muito difícil. No início da colheita, em fevereiro/março, a caixa de 22 quilos estava cotada a R$ 20 e esta semana chegou aos miseráveis R$ 4. Em dezembro, janeiro e fevereiro, quando falta aipim, o preço é justo. Muitos começam  a colher cedo, mas perdem na produtividade, por  ele não estar totalmente desenvolvido necessitam de mais pés para completar uma caixa. Já o consumidor prefere o aipim novo, pois o cozimento é melhor. A disputa de mercado e preço ocorre em toda região. O mercado é regrado quanto à demanda e oferta. Quem regula o valor pago é a Ceasa, o maior mercado consumidor.

Diversificar é uma alternativa?

Antoniolli – Sim. A rotação de culturas é essencial para preservar o solo e melhorar a estabilidade econômica das propriedades. Diversificar ajuda a manter a renda da família durante o ano.

Considerações finais

Antoniolli – Na cultura do aipim, em que a maior parte do trabalho é manual em todas as fases, do plantio à colheita, a rotina é cansativa. Faça chuva ou sol, o produto precisa  ser colhido conforme venda, mesmo com preço baixo, para manter seus compromissos.

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