“Ainda não temos um representante legítimo”

ENTREVISTA COM OS CANDIDATOS

“Ainda não temos um representante legítimo”

Com dois mandatos de vereador e um de vice-prefeito em Lajeado, o advogado Vilsinho Jacques almeja um assento no parlamento gaúcho para ampliar a força política do Vale. Para ele, a radicalização de posições é um dos grandes problemas do Legislativo

“Ainda não temos um representante legítimo”
Vale do Taquari

Vilsinho Jacques – PTB | Candidato a deputado estadual

Nome: Vilson Haussen Jacques Filho
Idade: 60 anos
Profissão: advogado
Naturalidade: Lajeado

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Histórico político:
Ex-vice-prefeito durante a gestão de Luís Fernando Schmidt (PT) no governo de Lajeado, Vilsinho Jacques iniciou a trajetória política no movimento estudantil, em Porto Alegre, durante a faculdade de Direito na PUC-RS. No período final do regime militar, participou da luta pela redemocratização do país e da mobilização pelas Diretas Já. Em 1992, foi eleito vereador pela primeira vez, pelo PMDB, e foi reeleito em 1996. Ainda jovem, candidatou-se a prefeito do município em 2000. Sem sucesso, ficou fora do ambiente político por mais de uma década e retornou em 2012, como candidato a vice de Schmidt. Em 2014, concorreu a deputado federal e, agora, busca uma vaga na Assembleia Legislativa.

Vida comunitária:
Quando retornou a Lajeado após a faculdade de Direito em Porto Alegre, no fim da década de 1980, Jacques trabalhou na Assistência Judiciária (Defensoria Pública), prestando serviços de advocacia gratuita no município. Foi patrão de CTG, membro do Conselho da Comunidade de Assistência ao Preso do Presídio Estadual de Lajeado, presidente do Conselho de Defesa do Consumidor de Lajeado e participa do conselho do Clube Tiro e Caça. “Isso além do meu trabalho na advocacia, que é a minha verdadeira profissão. Não sou um político profissional”, revela.


A Hora – Por que você se candidata a deputado estadual?

Vilson Haussen Jacques Filho – Eu penso que o Vale do Taquari não está bem representado. Ainda não temos um representante legítimo que esteja vinculado com a região e que aqui permaneça. Eu tenho um orgulho muito grande de pertencer a essa região. Eu já trabalhei em Estrela, em Arroio do Meio, e busco essa cadeira na Assembleia para representar o Vale. Se eu for eleito, vou continuar com o meu domicílio aqui em Lajeado. Eu amo essa cidade e tenho muita vinculação afetiva e profissional com o município.

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Se eleito, como será a sua atuação junto à comunidade do Vale do Taquari? Como pretende articular as prioridades da região dentro do parlamento?

Filho – Um dos problemas do Legislativo, e consequentemente do Executivo para poder colocar em prática os seus projetos, é a grenalização da política. Quando um sai, ele fez tudo errado. E o outro que entra quer modificar tudo. Eu acho que não é por aí. A gente pode aproveitar muitas coisas boas de um governo que sai e agregá-las ao projeto do governo que entra. Isso passa por uma conversação, uma negociação, no parlamento. Eu sou totalmente contrário a essa radicalização de posições dentro parlamento. O Legislativo tem que ser menos ideológico, e mais pragmático e objetivo para tratar as questões fundamentais que emperram a nossa máquina pública. Minhas propostas se baseiam muito no plano estratégico do Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat). A estratégia é orientar a minha atuação por esse plano, pois eu pretendo ser o representante daqui. Acredito que, quando um deputado tem colégio eleitoral muito amplo, ele perde o foco.

A descrença na política está cada vez maior. Qual é a sua estratégia para convencer o eleitor a acreditar nas suas propostas?

Filho – Essa é uma ótima pergunta. Eu concorri na eleição passada a deputado federal. Só em Lajeado, 18 mil eleitores não votaram, anularam o voto ou votaram em branco. Com base nisso, eu pergunto: melhorou a nossa representatividade? Pelo contrário, piorou. A corrupção aumentou, o cenário político e a figura do político estão mais desgastados ainda. Anular o voto ou votar em branco, na minha opinião, é uma estratégia equivocada do eleitor. Ele deve escolher o seu candidato. Não é possível que, entre tantos candidatos que temos aqui – até se fala que há muitos –, não haja um, dois, três ou mais que tenham a ficha limpa, as mãos limpas. Se tantos eleitores não votaram na eleição passada e isso não modificou o cenário para melhor, a obrigação é nossa, como candidatos, de convencê-los a votar em nossas representações, tanto na esfera estadual como federal.

A eleição federal e estadual muitas vezes serve de trampolim para as eleições municipais. Ou seja, candidatos lançam nomes para se promover a cargos em esfera municipal na eleição seguinte. O que você pensa sobre isso?

Filho – Isso é uma verdade. No meu caso, eu não penso em trampolim. Eu já fui vice-prefeito. Se eu tiver sucesso, e acho que posso ter, não pensem que o Vilsinho Jacques, eleito deputado, virá pleitear alguma candidatura na esfera municipal. Isso não vai acontecer. É um compromisso público meu, que eu assumo aqui perante os leitores do jornal A Hora. Se eu for eleito deputado estadual, não há nenhuma possibilidade de eu tentar buscar algum cargo político municipal nas eleições de 2020.

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Nossa matriz econômica está sustentada no setor de alimentos. Temos sofrido, nos últimos anos, por adoções de políticas públicas equivocadas, especialmente na cadeia de leite. Se eleito, como pretende trabalhar pelo fortalecimento da nossa principal base econômica?

Filho – A nossa região tem uma característica associativista e cooperativista. Com base em conversas com amigos técnicos da Emater, posso afirmar que essa é uma das nossas principais características, que irradia para todas as outras áreas. Mas não se pode colocar o cooperativismo e o associativismo antes da propriedade familiar rural. Temos que tratar a seguinte questão: como garantir a sucessão dessas propriedades, como manter o jovem, filho de agricultores, com a expectativa de que, se ficar, terá uma vida digna, boa, confortável. Essa é uma das condições principais. É preciso fazer com que eles tenham vontade de permanecer. Somente dessa forma vamos conseguir manter a nossa atividade econômica principal, que é oriunda da agricultura familiar.

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Temos problemas de infraestrutura graves. Rodovias insuficientes e precárias, enquanto outros modais, como ferroviário e hidroviário, continuam obsoletos. Qual é sua proposta de atuação nessa área?

Filho – Isso é mais um exemplo da nossa falta de força política. Como amostra simbólica disso, cito um caso que é simples de resolver, mas que até agora não foi, que é a ponte sobre o Arroio Boa Vista, que liga Lajeado e Estrela pela BR-386. Por ali, passam cerca de 30 mil veículos diariamente. Em abril de 2017, uma tragédia aconteceu ali e o guarda-corpo dela e a calçada ficaram destruídas após a queda de um caminhão matar duas pessoas. Passaram-se já quase dois anos e sequer houve condições de mobilização política para aquele pequeno conserto. A gente sabe que os recursos são escassos, mas não é possível que não haja uma movimentação para se consertar aquilo. Nos falta ainda muita força política. Conseguimos, por meio da união das forças civis, a duplicação da BR-386. Foi uma grande obra, de Estrela a Tabaí. Mas, em contrapartida, quando vamos em direção a Soledade, é um caos. Há vítimas quase todos os dias. Eu vejo a mobilização política como a única forma de se buscar os grandes recursos que não no Estado, e sim na União. O governo federal arrecada R$ 13 trilhões em impostos por ano e qual é a retribuição que a gente tem? É mínima.

Qual é a sua avaliação sobre a implantação de pedágios? Como seria o modelo ideal?

Filho – Eu penso que o pedagiamento é necessário, mas tem que ser feito no modelo de agora, por exemplo, em que o Codevat teve uma participação fundamental para reduzir o valor das tarifas. É algo muito técnico essa questão dos pedágios. Temos que ter os números e avaliar os tipos de investimentos, se as empresas precisarão fazer as obras de arte, ou não. Sinceramente, tecnicamente eu não sei dizer qual é o modelo. Acho que tem que haver discussão com as comunidades sobre o preço. Não pode ser de cima para baixo. Talvez reduzindo mais as distâncias entre uma praça e outras, se teria um preço mais acessível.

[bloco 2]

Em tempos de crise econômica, políticas de austeridade são adotadas pelos governos. Nesse debate, está a privatização de estatais. Qual é a sua opinião sobre isso?

Filho – No estado, penso que precisamos manter o banco estatal, o Banrisul. Ele é fundamental para as políticas públicas do governo, para incentivar financiamentos agrícolas ou habitacionais, por exemplo. Por isso, sou contrário à privatização do banco estatal. Por outro lado, em outras áreas, acho que é possível sim. Sou completamente favorável a essa iniciativa do plebiscito para discutir com a população as vendas das estruturas públicas.

Alexandre Miorim: alexandre@jornalahora.inf.br

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