Ella Wünsch Lenhardt completou 100 anos no dia 24 de junho. Ela continua com seu bom humor e cheia de histórias de uma vida de muito trabalho e recompensas.
• Como foi a sua infância?
Eu cresci em uma casa de alvenaria, junto com meus pais. Ao redor das casas, tinham muitos potreiros, e a gente brincava muito por lá. Nos domingos, três ou quatro vizinhos se encontravam em uma sombra de árvore com seus filhos. Na época cada um tinha cinco ou seis filhos. Enquanto as crianças corriam e brincavam, os mais velhos tomavam chimarrão. Hoje as crianças não brincam mais, não sei por quê.
• O que mais mudou neste tempo todo?
Eu lembro que era tudo diferente. Eu nasci no interior de Lajeado, que hoje faz parte de Santa Clara do Sul, na divisa com Venâncio Aires. Lá não tinha estrada como agora. Só um arroio por onde os caminhões e as carroças passavam, e uma pinguela por cima da água. Hoje construíram uma ponte ali. Não posso nem explicar como tudo mudou. Era muito melhor, as pessoas eram muito amigas e se visitavam. Agora não é mais assim. Antes era tudo mais simples. Se as crianças tinham roupa de domingo era bom, mas se não tinham, estava tudo bem também, usavam as roupas da semana e ninguém falava nada. Hoje as crianças que não têm um sapatinho sempre novo são deixadas de lado. Naquele tempo, as crianças nasciam em casa com parteiras, tive meus sete filhos assim. Três rapazes e quatro moças. Tenho também 19 netos, 18 bisnetos e dois trinetos.
• Como conheceu o seu marido?
Eu conheci meu marido Pedro no baile. Sempre tinha baile, uma vez aqui, uma vez lá. Nós sempre nos encontrávamos, dançávamos juntos. Nos dávamos muito bem. Ele tinha uma carroça puxada por sete burros, e passava dias viajando fazendo fretes, de banha, feijão, para muitos lugares. Eu trabalhava com meus pais, não tínhamos muitas coisas. Trabalhamos muito e formamos a nossa família. Naquela época, a gente se emprestava muito dinheiro, não era em bancos, íamos pagando nas colheitas.
• Como era a escola?
Fui para escola durante cinco anos. Três anos estudei em alemão e dois em português. A gente aprendia algumas palavras: mesa, cadeira, palco. Só aprendi a falar português na escola, e conversando com os outros.
• A senhora lembra de alguma história de quando era criança?
Minha irmã mais velha morava em Santa Catarina e na época era tudo ainda mato. Meus pais, eu e minha irmã mais nova fomos visitar ela. Naquele tempo, nós viajamos o que agora dá cinco horas, durante três dias ou às vezes cinco. Viajávamos de caminhão.
• Qual é o segredo para chegar nesta idade e estar tão bem?
Eu sempre trabalhei muito. Desde os 6 anos em casa com meus pais. Acordava de manhã cedo para tratar os porcos, meu pai tinha muitos porcos, e a gente tinha que ajudar. Eu tinha um cestinho pequeno, o pai contava as espigas e eu ia dar milho para cada porco. Eu descascava milho também. Nós tínhamos um poço que dava um trecho caminhando e eu sempre ia buscar água para os porcos. E isso era todo dia da semana. Hoje não se trabalha mais como antes.
Bibiana Faleiro: bibiana@jornalahora.inf.br