Vindo de Porto Alegre, Willian Rosa, 23, mora faz dois anos no Jardim do Cedro, em Lajeado. Sem emprego fixo, ajuda no sustento de um filho e dois enteados vendendo morangos e abacaxis no semáforo.
• Como surgiu a ideia de vender frutas na sinaleira?
Foi em Porto Alegre, na primeira vez em que fiquei desempregado. Sempre trabalhei com transporte de cargas. Aí quando fiquei sem emprego, um amigo que vendia frutas nos semáforos me convidou para trabalhar com ele. Mesmo sem ter trabalho, no início fiquei receoso de fazer isso. Tive vergonha. Mas quando a crise apertou, encarei o desafio. Só no primeiro dia de trabalho vendendo fruta no semáforo, arrecadei R$ 300. Aí percebi que vergonha é roubar. Estou trabalhando em algo honesto.
• Qual a diferença de vender nos semáforos da capital para as ruas de Lajeado?
Percebi que aqui o pessoal é mais generoso. Por mais que alguns não tenham dinheiro para comprar frutas, às vezes, as pessoas baixam o vidro só para me falar palavras de incentivo. “Continue trabalhando” ou “Tenha fé que tudo vai dar certo”. Em Porto Alegre, devido ao alto fluxo no trânsito, as pessoas são mais impacientes.
• Você disse que no início tinha vergonha de vender frutas nas ruas. Muitas pessoas negam ofertas de trabalho, devido a questões de status social. O que você diria a elas?
Tenha orgulho de trabalhar e não fazer nada errado. Não dá para ficar parado. Tenho um filho de 3 anos, que ainda mora em Porto Alegre, para ajudar a sustentar e com minha atual esposa complemento a renda para cuidar dos meus dois enteados, um de 10 anos e outro de 12. Minha mãe morreu quando eu tinha 12 anos. Fiquei com minha irmã de 6 anos para ajudar a criar. Meu pai sempre trabalhou como caminhoneiro. Ficava pouco em casa.
• Pretende continuar vendendo frutas ou, se surgir outro trabalho, trocará de serviço?
Enquanto não aparece outra coisa, vou seguir vendendo frutas. Agora, com a chegada do verão, vou começar a vender melancia. Eu não gosto. Não daria nenhum real por melancia, mas o pessoal adora. Aqui em Lajeado, cheguei a trabalhar com carteira assinada em duas empresas – uma, inclusive, por mais de um ano. Vim pra cá em função da minha esposa, que trabalha como cuidadora de idosos. A família dela já mora em Lajeado faz 10 anos.
Cristiano Duarte: cristiano@jornalahora.inf.br