Sergio Kniphoff – PT | Candidato a deputado estadual
Nome: Sérgio Luiz Kniphoff
Idade: 61
Profissão: médico pediatra e professor da Univates
Naturalidade: Santa Cruz do Sul
Histórico político:
Sergio Kniphoff está no terceiro mandato como vereador de Lajeado. Durante a faculdade de Medicina, integrou o movimento estudantil contra o regime militar, no período final da ditadura. Após retornar a Lajeado como médico, participou do movimento pelas Diretas Já. Em 1988, foi candidato pela primeira vez a vice-prefeito, pelo PSB. Depois, filiou-se ao PT, no qual atua faz mais de 20 anos. Concorreu em 2004 a vice-prefeito novamente e, em 2008, venceu a primeira eleição para vereador. Esta é a segunda vez que se candidata a deputado estadual.
Vida comunitária:
Embora nascido em Santa Cruz do Sul, Kniphoff viveu a infância e a adolescência em Boqueirão do Leão, que na época fazia parte de Lajeado. Médico pediatra há 35 anos na região, afirma ter despertado para a política ainda cedo, ao se deparar com injustiças e situações sociais de precariedade que o motivaram a defender determinadas causas. Tem especializações também em Terapia Sistêmica de Saúde, Família, Adolescência e Gestão de Sistemas de Saúde. Usa a formação para auxiliar as pessoas por meio de atendimento humano e qualificado. Atento a temas relativos à saúde e à educação, profere palestras a estudantes, pais e professores em diversas cidades do Vale.
A Hora – Por que você se candidata a deputado estadual?
Sergio Kniphoff – Nos últimos anos, temos acompanhado como o Vale do Taquari se comporta do ponto de vista econômico, com base em sua característica agrícola de pequenos proprietários de terra, bem como o nosso perfil de desenvolvimento, como uma região produtora de alimentos, com muitas indústrias no ramo da alimentação. Nesse contexto, percebemos uma falta de representatividade regional. Nós tivemos alguns deputados que se elegeram, mas se afastaram da região. Novamente estamos sem representação junto ao centro de poder. É impossível admitirmos que uma região com 300 mil habitantes não tenha um deputado na Assembleia Legislativa. Já lamentamos o fato de não termos ninguém no Congresso Nacional. Infelizmente, nós temos escolhido votar em pessoas que não representam o Vale. Isso é lamentável para o nosso desenvolvimento como Vale produtivo. Me candidato com a aspiração de ser um representante dessa região, onde moro, crio meus filhos e pretendo morrer.
Se eleito, como será a sua atuação junto à comunidade do Vale do Taquari? De que forma pretende articular as prioridades regionais dentro do parlamento?
Kniphoff – No momento em que alguém se elege deputado estadual por uma região, ele precisa ter clareza de que deve ser um representante regional. É preciso ter uma relação de proximidade com os gestores e os legislativos locais para poder levar os anseios ao centro de poder. As reuniões das associações dos municípios e dos vereadores do Vale do Taquari têm que ter a presença do deputado. Ele precisa estar perto das demandas reais de cada localidade, de cada microrregião dentro do Vale.
A descrença na política está cada vez maior. Qual é a sua estratégia para convencer o eleitor a acreditar nas suas propostas?
Kniphoff – Eu sou um crítico em relação às generalizações. Tem deputados que são dignos, que são éticos, que fazem um excelente trabalho no Congresso, e nós temos a mania de chamá-los todos de ladrões. Nós temos um péssimo hábito de rotular um partido como um bando de ladrões. Nos damos o direito de ofender pessoas que não fazem parte da nossa linha de raciocínio. Isso tem feito com que esse nível de ódio e descrença tenha crescido muito nos últimos tempos. Eu penso que o corrupto tem que pagar, tem que ser preso, tem que ser identificado e tirado da vida pública. Mas trabalhar dessa forma, com as pessoas achando que todos são corruptos, é difícil. Se formos analisar o contexto do golpe de 64, havia um comportamento muito semelhante, de tentar manchar a imagem da política generalizando todos como ladrões. Hoje, não é difícil perceber que as motivações que ganharam força nos últimos anos foram as mesmas daquela ocasião.
A eleição federal e estadual muitas vezes serve de trampolim para as eleições municipais. Ou seja, candidatos lançam nomes para se promover a cargos em esfera municipal na eleição seguinte. O que você pensa sobre isso?
Kniphoff – Eu sou candidato a deputado estadual e assumi um compromisso com a região de que, se eleito, não vou concorrer a prefeito daqui a dois anos. De forma geral, acho que isso acontece com outras candidaturas porque o modelo eleitoral hoje exige que o candidato esteja sempre em evidência. Concordo que não é o mais adequado. Hoje vivemos um fenômeno da midiatização da vida, tudo parece um grande reality show, as pessoas postam tudo nas redes sociais. Essa coisa da visibilidade faz com que muitos se candidatem sem ter a menor chance de se eleger para estar com o nome em evidência, e o país acaba sendo refém disso. As pessoas têm pouca informação, acabam votando em quem aparece mais. Particularmente, o que me tira de dentro do consultório é a minha inquietação por participar. Desde que comecei a trabalhar como pediatra, eu não consigo ver a fome como um efeito colateral. Não consigo ver que o Brasil esteja voltando ao mapa da fome, por exemplo. Essa inquietação é o que me tira de dentro do consultório.
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Nossa matriz econômica está sustentada no setor de alimentos. Temos sofrido, nos últimos anos, por adoções de políticas públicas equivocadas, especialmente na cadeia de leite. Se eleito, como pretende trabalhar pelo fortalecimento da nossa principal base econômica?
Kniphoff – Muitas vezes é o mercado que determina isso. Há uma influência do mercado internacional diretamente no produto que sai da propriedade do produtor. Como deputado, é possível brigar por políticas de incentivo ao pequeno agricultor, para mantê-lo em sua propriedade e tentar fazer a sucessão na propriedade. Precisamos de políticas que mantenham o homem no campo. Quando se fala na reforma da Previdência, por exemplo, querem que o agricultor contribua da mesma forma que o trabalhador da cidade. Se eleito, o meu trabalho no parlamento será de defender políticas de incentivo ao pequeno agricultor. Nós temos mais de 17 mil pequenas propriedades aqui no Vale. Precisamos de medidas que protejam esse setor. Há também um movimento muito forte de valorização dos produtos orgânicos, em busca da alimentação saudável, e isso se encontra na produção do pequeno agricultor, da agroindústria familiar. Não é uma questão de ser contra o agronegócio, mas é importante que haja critérios para que esse setor também respeite melhor a saúde da população.
Temos problemas de infraestrutura graves. Rodovias insuficientes e precárias, enquanto outros modais, como ferroviário e hidroviário, continuam obsoletos. Qual é sua proposta de atuação nessa área?
Kniphoff – O candidato ao Legislativo que disser que vai mudar o modelo de transporte para hidro ou ferroviário vai estar mentindo. O legislador tem o poder de fiscalizar, de sugerir algumas coisas. Sabemos que o transporte ferroviário aqui na região é totalmente inviável. Teria que se construir tudo de novo, tudo do zero. O hidroviário já existe e, sim, pode ser estimulado. Por outro lado, para onde vai a nossa produção pelo rio? Que tempo nós temos hoje de navegação daqui ao Porto de Rio Grande, por exemplo, para o produto de lá ser embarcado para outras regiões? Infelizmente, vivemos um país muito dependente do sistema rodoviário. Vimos isso na última greve dos caminhoneiros em que o Brasil quase entrou em colapso.
Qual é sua avaliação sobre a implantação de pedágios? Como seria o modelo ideal?
Kniphoff – A forma de implantação dos pedágios como tivemos agora no último ano foi completamente equivocada. Foi um ato arbitrário do governo federal. Eu participei de três ou quatro audiências públicas da ANTT. Se o nome é audiência pública, supõe-se que a população será ouvida. Mas o que aconteceu em todas as audiência em que eu fui, eu não consegui verificar mais de dez pessoas favoráveis aos pedágios. Aqui na Univates havia mais de 600 pessoas, apenas três ou quatro se levantaram a favor dos pedágios. Ou seja, essas audiências não ouviram a população. Ninguém estava sendo escutado, as pessoas se manifestavam e eles ficavam debochando lá na frente, rindo um para o outro. Não era para ouvir, era para tentar impor uma decisão. Eu sou favorável aos pedágios desde que sejam construídos com a comunidade. É preciso saber que preço a comunidade está disposta a pagar para ter uma estrada adequada. Porque a gente sabe como funcionam esses cálculos para o preço. Tem empresas já de olho, esperando para entrar na concorrência. Já tem algumas que a gente sabe que vão ganhar. Então, esse é um tipo de pedágio que eu sou totalmente contra, porque não melhoram as estradas, encarecem a produção local.
Em tempos de crise econômica, políticas de austeridade são adotadas pelos governos. Nesse debate, está a privatização de estatais. Qual é sua opinião sobre isso?
Kniphoff – Vamos pegar a situação de uma casa como exemplo. Tenho uma renda mensal para manter os meus gastos. Se o que eu ganho é menor do que eu gasto, eu preciso reduzir os gastos. Começo a cortar algumas coias que podem ser supérfluas. Se já cortei tudo e ainda não consegui equilibrar as contas, vou precisar vender o carro, a bicicleta, trocar de casa, etc. Ou vou ter que achar outro jeito de ganhar dinheiro. Quando um governante é eleito, ele não é eleito para vender, para simplesmente assumir um discurso e ficar sentado em cima da crise. Ele precisa buscar soluções para aquilo que está ali. Nós precisamos encontrar saídas para aumentar a arrecadação. Vamos vender o que mais? O Banrisul? O Banco do Brasil? O que mais vamos vender para supostamente equilibrar as contas? Eu penso que a redução de pessoal, em algumas circunstâncias assim, pode ser útil, mas ainda é um volume muito pequeno em relação ao montante da dívida. Um governante não é escolhido para fazer cortes, mas sim para encontrar alternativas que viabilizem a nossa economia.
Alexandre Miorim: alexandre@jornalahora.inf.br