Líder nas pesquisas eleitorais, o candidato à presidência da República pelo PSL, Jair Messias Bolsonaro, foi esfaqueado na tarde dessa quinta-feira, 6. O atentado aconteceu durante ato de campanha em Juiz de Fora (MG) e gerou em ferimento no abdome do político. Uma pessoa foi presa em flagrante, identificada como Adélio Bispo de Oliveira, 40.
O ataque foi feito quando Bolsonaro era carregado por apoiadores próximo a uma praça no centro , em meio a centenas de pessoas. Após a agressão, o suspeito foi espancado por simpatizantes do candidato, detido pela polícia militar e conduzido à sede da Polícia Federal no município. O presidenciável foi levado a um hospital local.
Instantes depois, um dos filhos de Bolsonaro, o deputado estadual Flávio Bolsonaro, publicou no twitter que o ferimento havia sido superficial. Já no fim da tarde, um exame de ultrassonografia teria indicado a suspeita de lesão interna.
No início da noite, Flávio Bolsonaro publicou novo tweet com outra informação. “Infelizmente, foi mais grave que esperávamos. A perfuração atingiu parte do fígado, do pulmão e da alça do intestino. Perdeu muito sangue, chegou no hospital com pressão de 10/3, quase morto… Seu estado agora parece estabilizado. Orem, por favor!”
Repúdio
Logo após o fato, outros candidatos ao Palácio do Planalto e políticos de diversas siglas publicaram notas em repúdio ao atentado. Ciro Gomes (PDT) classificou o ato como “barbárie”. Para Marina Silva (Rede), a violência contra o adversário é “inadmissível”. Geraldo Alckmin (PSDB) definiu o ataque como “deplorável”, e Fernando Haddad (PT), como “lastimável”.
O mesmo foi manifestado pelo presidente Michel Temer, e entidades como OAB, Tribunal Superior Eleitoral e direções de partidos políticos.
“O TSE repudia toda e qualquer manifestação de violência, seja contra eleitores, seja candidatos ou em virtude do pleito. As eleições são uma manifestação de cidadania por meio da qual o povo expressa sua vontade. Inaceitável que atitudes extremadas maculem conquista tão importante quanto é a democracia”, afirmou em nota a ministra Rosa Weber, presidente do órgão.
O agressor
Adélio Bispo de Oliveira seria morador de Montes Claros, a cerca de 800 quilômetros de Juiz de Fora. Ele teria cometido o ato de forma individual, infiltrando-se entre os apoiadores de Bolsonaro. Em seu suposto perfil nas redes sociais, há diversas postagens críticas ao candidato e a outros políticos.
Conforme a relação de filiados políticos do TSE, Oliveira foi membro ao PSOL de 2007 a 2014. O partido classificou o ataque como “atentado à normalidade democrática e ao processo eleitoral”.
A Polícia Federal abriu inquérito para apurar o caso.
À frente
De acordo com a pesquisa eleitoral divulgada pelo Ibope nessa quarta-feira, Jair Bolsonaro lidera a corrida eleitoral com 22% dos votos.
Este foi o primeiro levantamento de intenção de votos divulgado após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) barrar a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Bolsonaro é seguido por Marina Silva (Rede) e Ciro Gomes (PDT), empatados com 12%, e Geraldo Alckmin (PSDB), com 9%.
A margem de erro é de 2 pontos percentuais, para mais ou para menos.
No resultado, comparado com a penúltima pesquisa divulgada no dia 20 de agosto, Bolsonaro cresceu 2 pontos percentuais.
Entrevista
“Um atentado à vida de uma pessoa é negativo em qualquer circunstância”
Para o mestre em Ciências Políticas Guilherme de Queiroz Stein, de Estrela, o atentado contra Jair Bolsonaro é um episódio grave à sociedade democrática.
A Hora – Qual o impacto desse atentado para a eleição? A chance de Bolsonaro vencer a disputa eleitoral aumenta ou reduz com esse incidente?
Guilherme de Queiroz Stein – Tem que aguardar pra ver. Mas a comoção popular com ocorridos graves, como esse, geralmente tende a render ganhos eleitorais.
O que representa o atentado contra Bolsonaro para a democracia?
Stein – Um atentado à vida de uma pessoa é negativo em qualquer circunstância. Especialmente em uma sociedade democrática, é algo ainda mais grave. Pois a democracia é justamente uma forma de regular o conflito político, afastando da disputa o uso da violência enquanto um recurso de poder.
Frente ao cenário de polarização política, como avalia essa situação? Corre-se o risco de mais violência durante a campanha?
Stein – As campanhas no Brasil tendem a ser muito violentas. É relativamente frequente a solicitação, por parte dos TREs, do apoio da Força Nacional para evitar conflitos violentos em municípios durante as eleições. Esse cenário é agravado pelo discurso polarizado. É preciso lembrar que o discurso de ódio tem sido uma estratégia do deputado Jair Bolsonaro para angariar apoio político. Semana passada, em visita ao Acre, havia afirmado que iria metralhar alguns de seus adversários. Infelizmente, parece que o candidato está provando do seu próprio veneno.
Como avalia os rumos da democracia e da liberdade de expressão no país onde episódios de violência contra representantes de correntes políticas se fortalecem?
Stein – Esses episódios de violência, assim como qualquer tipo de discurso de ódio, são extremamente maléficos para uma sociedade que busca consolidar sua democracia e solucionar problemas gravíssimos de segurança pública. São lógicas de ação que minam a busca de caminhos racionais e civilizados para resolver nossos conflitos e diferenças. Pessoalmente, espero que se aprenda algo com esse episódio: já temos violência suficiente na sociedade para não precisarmos de atores políticos que levem adiante essas lógicas.
Análises
Vítima do próprio veneno – Fernando Weiss
O Brasil precisa combater a violência. A carnificina e a guerra civil instauradas são o que de pior pode existir. O atentado sofrido pelo candidato a presidente da República Jair Bolsonaro, esfaqueado nessa quinta-feira à tarde, é mais um triste capítulo da crise política, social e econômica. Mas não só isso, é o reflexo da polarização do país, iniciada ainda em julho de 2013, que alimenta o extremismo e a radicalização. Bandeiras aliás, sustentadas pelo candidato militar.
O impacto nas eleições será imediato. Foi assim há quatro anos, quando Eduardo Campos morreu em acidente aéreo nas vésperas da eleição e mudou os rumos da jornada.
Afora isso, o lamentável ocorrido em Juiz de Fora é uma reafirmação de que violência só gera mais violência. O extremismo defendido por Bolsonaro, sugerindo porte de arma e enfrentamento pelas ruas, se mostra fracassado antes de chegar ao poder. Até aqui, Bolsonaro se valeu da indignação generalizada da sociedade contra o sistema político para emplacar um discurso moralista, radical e não poucas vezes xenofóbico.
Não deveria ser assim, mas Bolsonaro foi vítima ontem à tarde do próprio veneno que ele tenta espalhar Brasil afora. O lamentável e injustificável atentado é mais uma prova de que o país precisa ser pacificado. E não o contrário.
Dose dupla – Cristiano Duarte
O atentado contra Jair Bolsonaro é um duplo atentado: primeiro, à sua integridade física, e por último contra a democracia. Independente das ideologias políticas pregadas por ele, o único sentimento cabível a esse episódio é o repúdio.
O respaldo após a esse grave atentado antidemocrático é lamentável. A quem pensa ser justa a agressão ou de alguma forma, em algum nível, incentiva ou relativiza algo do tipo, parabéns – você repete o mesmo discurso de ódio que diz ser contrário. O ato terrorista contra Bolsonaro tem que ser tratado como é: gravíssimo. Deve ser apurado com rigor e seriedade.
Ao jornalismo brasileiro, cabe a responsabilidade de posicionar-se em defesa da democracia e da paz. Nenhum candidato precisa passar por tal adversidade. Satirizar de qualquer forma o atentado é coisa de submundista.
Alexandre Miorim: alexandre@jornalahora.inf.br