O pasto e as mentiras

Opinião

Fernando Weiss

Fernando Weiss

Diretor editorial e de produtos

Coluna aborda política e cotidiano sob um olhar crítico e abrangente

O pasto e as mentiras

Paulo Becker era zelador de estrada em Chapadão, no interior de Santa Clara do Sul. O ano era 1998, numa típica manhã do inverno de setembro. Eu tinha 16 anos e fazia pasto – capim-elefante – na beira da estrada, perto de casa onde mora a mãe até hoje, quando o Paulo parou para batermos um papo. Antes de o câncer abreviar sua jornada, ele adorava uma conversa e um devaneio.
Naquele dia, “estacionou” seu carrinho de mão no meio da estrada – só passava carro a cada duas ou três horas – se apoiou sobre a enxada e começamos a falar sobre a campanha eleitoral em curso. Larguei a foice e fomos divagar.
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Pelas tantas, com o assunto já esgotado por falta de informações nossas – mal tinha canal de televisão, muito menos telefone ou internet – o Paulo, com uma sagacidade peculiar, sentenciou: “Mas sabe, o povo quer ser enganado. Quanto mais os políticos mentem, mais as pessoas gostam de votar neles. Eles preferem mentirosos”
O Paulo foi tapar os buracos e tirar o capim da estrada. Eu me abaixei e voltei a cortar pasto, mas armazenei aquela frase. Tão bem armazenada que lembro até hoje.
Naquela época, não entendi muito bem o que ele quis dizer. Passados 20 anos, compreendo melhor. E, somada a liquidez dos dias atuais, faz mais sentido ainda.
A campanha eleitoral é um momento de ouro para nós, eleitores, distinguirmos oportunismo, promessa falsa e discurso decorado de propostas concretas. Deveríamos, por uma questão lógica, aprofundar interesse em quem fala a verdade, ainda que não estejamos prontos ou predispostos a ouvi-la.
Por isso, e bem provavelmente, o zelador Paulo já havia percebido, em 98, que o povo prefere votar e idolatrar quem fala o que ele – o povo – quer ouvir, mesmo que seja ufanista.
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BAIXO NÍVEL. Peguemos o exemplo atual. O que sobressai na campanha eleitoral para presidente da República é um baixo nível sem precedentes. Era de se esperar. Os comportamentos e atitudes, impulsionados pelos marqueteiros dos candidatos, especialmente dos mais expoentes, são deprimentes e desalentadores. Os discursos e estratégias, alimentados pelas redes sociais – a favela da comunicação – ficam em torno de tiros, armas, mentiras e alucinações. Poucos, ou quase nenhum dos postulantes ao cargo, vão na raiz do problema. Preferem flutuar sobre discursos efusivos, vazios e eleitoreiros em vez de esfregar a realidade nua e crua na cara do eleitor e dizer logo real.
E o povo, aceita e não se aprofunda. O povo aliás, na média, está tão simplista e influenciável que nesta semana uma notícia falsa – fake news – sobre uma nova greve de caminhoneiros causou frenesi em postos de gasolina de Porto Alegre. Virou – e ainda é para muitos – o assunto da semana.
Por essas e outras, impossível não lembrar da sentença do zelador Paulo. Ele talvez não imaginara, em 98, que 20 anos depois o povo continua, mais do que nunca, preterindo a verdade pela mentira. Enquanto isso, o capim e o pasto crescem.


A lição que deveria ficar

Guardadas as proporções e evitadas quaisquer comparações, convém refletir sobre a preservação do patrimônio histórico do Vale do Taquari. A destruição do museu do Rio de Janeiro, fruto da negligência e da omissão governamental, deixa – ou ao menos deveria deixar – lição a todas as regiões do país, que, por razões variadas, insistem em não preservar museus, construções históricas, obras de arte.
Em Lajeado, para citarmos um exemplo, a simbólica casa de Bruno Born já arruinou, se incendiou e só faltam cair as últimas paredes. Não é de hoje que cidades, grandes ou pequenas, “patrolam” casas e prédios históricos em nome da expansão urbana. A tragédia cultural do Rio de Janeiro bem que poderia servir de alerta.


Cinco centímetros

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A história recente nos remete a obras de asfalto malfeitas, onde as camadas derretem como manteiga e os buracos se proliferam feito rato. Fomos conferir a espessura do asfalto aplicado na rua João Abot, uma das mais precárias de Lajeado. Passa de cinco centímetros a camada de asfalto colocada no trecho. Se a qualidade do material for boa, tende a durar. Agora, falta fazer a mesma coisa nas outras vias esburacadas da cidade. E têm muitas.


“JaIR ou JaERA”

A expressão é de um empresário da construção civil de Lajeado, dita a este colunista durante o debate com os candidatos a deputados do Vale do Taquari, promovido nessa segunda-feira, no teatro do Ceat. Para ele, a única saída para o Brasil é apostar no radicalismo e no “pulso firme” de Jair Bolsonaro: “É JaIR ou JaERA”. Impressionante como tem empresário disposto a votar no militar, acreditando que o país precisa desse perfil para sair do buraco. Será? Perigoso e improvável.


Desinteresse

Os dois encontros com os candidatos regionais, promovidos pelo Fórum das Entidades, foram oportunidade singular para eleitores lajeadenses e do Vale conhecerem mais e melhor os postulantes à Assembleia Legislativa e à Câmara Federal.
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O confortável teatro do Ceat recebeu público tímido, o que comprova, mais uma vez, o desinteresse e a alienação social em torno da política. Pelo momento que passamos, deveria ser o contrário.


Palmas a Arroio do Meio

A 28ª edição da Feira do Livro de Arroio do Meio merece aplausos. A participação de 100% das escolas do município e a criatividade exposta na mostra dos trabalhos dos alunos transformou a Rua de Eventos num grande corredor cultural. Alunos orgulhosos levavam os pais pelos estandes.
Aliás, chama a atenção a participação comunitária em praticamente todos os eventos organizados na cidade, especialmente quando dizem respeito à cultura. Parabéns.

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