Márcia Scherer – MDB | Candidata à deputada federal
Idade: 48
Profissão: delegada de polícia
Naturalidade: Arroio do Meio
Histórico político:
Antes de ser delegada de polícia, foi vereadora em Arroio do Meio, de 1997 a 2000. “Por opção, preferi me estabilizar profissionalmente e fui para a carreira de delegada de polícia, com a intenção de que, quando eu chegasse perto da aposentadoria, eu pudesse voltar para a política”. Segundo ela, essa veia política surgiu no movimento estudantil de Arroio do Meio. “Lutávamos pela abertura política do país. Na década de 1980, tivemos uma atuação muito forte, em defesa da Constituição e das Diretas.”
Vida comunitária:
Começou a participar de organizações sociais aos 11 anos, por intermédio da família. “A gente se reunia lá na Igreja de Pedra, em Forqueta, que é a minha localidade de origem.” Com 13 anos, foi eleita secretária do grupo de jovens.
Nesse período, também foi presidente do Grêmio Estudantil. “Uma coisa vai levando a outra. Quando fui eleita vereadora, eu integrava 13 diretorias e conselhos. Eu sempre gostei muito dessa atividade de estar com as pessoas, conversando, conciliando, buscando o bem comum.” Para a candidata, essas atividades permitiram uma experiência válida e positiva para levar à política. Considera esse período como importante para o amadurecimento enquanto líder política. “Me fez respeitar cada vez mais o outro, o seu direito de ter opiniões. A partir disso, acredito na busca pelo consenso. Por isso, eu tenho essa linha democrática e de centro, pois entendo que tanto o radicalismo de direita como o de esquerda não faz bem em nenhuma instituição.”
A Hora – Por que você se candidata a ser deputada federal?
Márcia Scherer – Porque eu gosto e o fundo eleitoral me viabilizou financeiramente a campanha. Precisamos ter recursos para fazer campanha. Estou me colocando à disposição como um nome alternativo e de promoção de esperança para as pessoas. Nós, mulheres, devemos participar cada vez mais para termos um equilíbrio. Não que nós não cairemos em erros, porque isso é do ser humano. Algumas vão fazer coisas erradas, provavelmente. Mas nós também precisamos estar nesses espaços, pela via democrática, que é o que eu tanto defendo.
Se eleita, como será sua atuação junto a comunidade do Vale do Taquari? De que forma pretende articular as prioridades do Vale dentro do parlamento e com os demais deputados?
Márcia – Eu vou estar muito presente, conversando com as pessoas, com as lideranças da região. Um deputado federal pode buscar, durante um mandato, R$ 100 milhões para a sua região. Então, nós podemos ser esse “despachante”, esse líder, essa pessoa em Brasília, que vai buscar esses recursos que, às vezes, as pessoas nem sabem que existem e que estão à disposição, para investir em nossos hospitais, em nossas instituições de ensino, infraestrutura. Quero ser esse meio de campo, esse caminho para viabilizar isso.
A descrença na política está cada vez maior. Qual sua estratégia para convencer o eleitor a acreditar nas suas propostas?
Márcia – O meu histórico. A gente precisa entender um pouco o fenômeno social da descrença. Isso é sociológico. O Bauman explica isso, que a nossa tendência social é agir em pêndulos. Nós saímos de um período de repressão da ditadura, que havia repressão política, familiar, policial. A Constituição de 88 e a democracia no Brasil nos deram amplas garantias e direitos na lei. Mas também as interpretações das autoridades dessa lei, e houve muita bobagem aí. A tendência é responder com repressão, é o pêndulo voltar para o outro lado. Por isso que surgem com forças os “messias”, que dizem que vão resolver tudo. Nós já vimos que isso não funciona. Salvador da pátria não existe no Brasil. Mas trata-se também de um direito, e isso só a democracia permite, que as pessoas tenham essas posições. Veja que essa pessoa está há mais de 20 anos no Congresso Nacional e sempre teve o mesmo discurso. Por que só agora chama a atenção? As famílias estão sem saber quais valores ensinar, a gente nota muito essa confusão dos pais. Tudo isso muito rápido. Agora estamos em uma confusão e o tecido social está desequilibrado. Os sociólogos explicam que a gente vai para um lado, vê que não funciona e volta para o outro lado, até chegar a um equilíbrio, que já não sei se um dia vai ser alcançado. Então, nesse mar de dúvidas, a gente quer ser uma certeza. E, para isso, eu apresento o meu currículo, as pessoas me conhecem, sabem que o meu único interesse é o interesse público. Não estou aqui buscando sustento para mim, mas sim um espaço para termos um horizonte mais amplo para trabalhar pelo bem da comunidade.
A eleição federal e estadual muitas vezes serve de trampolim para as eleições municipais. Ou seja, candidatos lançam nomes para se promover a cargos em esfera municipal na eleição seguinte. O que você pensa sobre isso?
Márcia – Isso faz parte do processo. Quem tem esse interesse precisa que o seu nome seja conhecido. Eu não vejo que haja algum problema de ordem ética nisso. O próprio processo eleitoral prevê isso e é muito normal. Se tu pesquisares os que estudam estratégias políticas, é inteligente que o partido repita o seu candidato, numa eleição municipal inclusive. É próprio do processo.
Nossa matriz econômica está sustentada no setor de alimentos. Temos sofrido, nos últimos anos, por adoções de políticas públicas perversas, especialmente na cadeia de leite. Se eleita, como pretende trabalhar esse setor e atuar pelo fortalecimento da nossa principal base econômica?
Márcia – Essa área ainda não tem representação em Brasília. O nosso Vale ainda não tem essa representação. Se tivermos, os nossos agricultores, a nossa agroindústria, e tudo o que gravita ao redor vai ter pelo menos um meio para chegar em Brasília e brigar pelas reivindicações da área da agricultura. Eu penso que nós devemos oportunizar que os nossos agricultores cada vez mais tenham acesso à informação, à educação, que possam qualificar o seu trabalho para que consigam render mais com o mesmo recurso. Então, o crédito é importante, assim como o cuidado com a legislação, para avançarmos sem sacrificar o agricultor e toda a rede, mas também qualificando a atividade dele. Eu sou de origem da lavoura, sou da agricultura, sei como funciona.
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Temos problemas de infraestrutura graves. Rodovias insuficientes e precárias, enquanto outros modais, como ferroviário e hidroviário, obsoletos. Qual sua proposta de atuação nessa área?
Márcia – Infraestrutura logística é ainda uma das principais atribuições para o Estado alcançar a sociedade. Eu considero que hoje o Brasil está em condições de se recolher do setor econômico. Por isso, eu defendo privatizações. Eu apoio integralmente a ideia do governador Sartori de fazer privatizações. Há um momento em que isso foi muito importante para o Brasil, pois não havia industrialização. Getúlio Vargas foi o presidente que proveu a industrialização, pois antes a cultura era o café com leite. O Estado brasileiro teve que fazer isso para se modernizar e se incluir no capitalismo mundial. E chegou bem tarde. Mas hoje a nossa sociedade, no setor econômico, já tem condições de desenvolver essa área. O Estado não precisa mais se envolver. Tem que haver sim as agências reguladoras, bem estruturadas, para fiscalizar as áreas de interesse público, da sociedade. Eu entendo que temos que reduzir o Estado, para termos recursos para a área de infraestrutura, pois é sempre a primeira área a ser castigada. E temos toda essa briga de reformas em nível federal. Como somos de uma linha de centro, não somos radicais em querer cortar todos os direitos, mas também não somos radicais de mantermos como está. Precisamos equilibrar isso e termos recursos para a infraestrutura do país. E também gestão, técnica e competência.
Qual sua avaliação sobre a implantação de pedágios? Como seria o ideal?
Márcia – Eu penso que as concessões são uma intervenção muito mais dinâmica nessa área. Se for uma empresa pública, é necessário concursar as pessoas para entrarem. Elas vão ficar na folha de pagamento do Estado a vida inteira. Não tem a dinamicidade de demitir ou recontratar gente boa. Então, as concessões são necessárias. O ideal seria que esse pedágio fosse mínimo possível, feito da melhor maneira, que não onerasse tanto o contribuinte. Enquanto o Estado não consegue se equilibrar para contratar uma empresa e manter uma estrada de qualidade, essas parcerias são socorros emergenciais.
Em tempos de crise econômica, políticas de austeridade são adotadas pelos governos. Entre os debates abertos, está a privatização de estatais. Qual sua opinião sobre isso?
Márcia – Sou favorável à privatização de instituições que não são relevantes. Eu considero que, no Rio Grande do Sul, o Banrisul tem que ser nosso. Por exemplo, houve um tempo em que era fundamental que o Estado controlasse a energia – CEEE –, porque não havia isso na iniciativa privada. Agora, há tranquilamente. A telefonia é outra coisa. O Brizola fez a CRT. Era aquela coisa, antes não havia telefone, e isso era essencial para o desenvolvimento humano. Então era função do Estado intervir e garantir isso. Mas no momento em que a sociedade assume, há empresas telefônicas, e não é aquele domínio de mercado, porque, se larga na mão de apenas um, ele joga o preço lá em cima. Então é necessário termos o capitalismo funcionando, com concorrência puxando o preço para baixo e melhorando a qualidade. No momento que a sociedade tem isso, o Estado não precisa mais estar lá. No Brasil, eu olharia com muito carinho ainda para a Petrobras, é a maior empresa brasileira, por causa da função estratégica, até a nossa Constituição diz que o petróleo é brasileiro e ninguém mais é permitido a explorar. Na iniciativa privada, nós ainda não teríamos empresas brasileiras aptas a fazer a exploração.
Alexandre Miorim: alexandre@jornalahora.inf.br | Filipe Faleiro: filipe@jornalahora.inf.br