Com o Banco do Brasil em reforma, por volta das 9h, assim que abriu os Correios na rua Sete de Setembro, o técnico em Informática Gaspar Brandão entrou no estabelecimento para fazer um trâmite bancário.
Antes de pegar a ficha de atendimento, percebeu que havia apenas uma senhora, com a cabeça baixa, nos assentos de espera.
“Pensei ‘Poxa, não vou pegar fila para o atendimento’!. Tinha visto a atendente do caixa de pé, mas não percebi que ela já estava com as mãos amarradas”, relembra.
No entanto, logo após pegar a senha, um dos três bandidos que assaltavam a agência lhe encostou o cano da arma e mandou que se juntasse as demais vítimas que se aglomeravam em uma sala separada.
Ali, junto das outras dez pessoas ajoelhadas, deitadas e amarradas, Gaspar experimentara a primeira experiência da vida em meio a um assalto à mão armada.
“A gente se sente muito impotente. Nossas vidas estavam nas mãos de criminosos que não tinham nada a perder”, lamenta.
Tiroteio
O trio armado almejava roubar o dinheiro do cofre, porém, sem o gerente dos Correios na agência, funcionários não tinham a senha para fornecer aos bandidos.
Sem sucesso ao grande objetivo dos criminosos, eles passaram a roubar dinheiro da carteira e pertences das vítimas. Além disso, roubaram dinheiro do caixa da agência.
“Eles começaram a ficar nervoso passados 10 minutos que eu estava lá”, conta Gaspar.
Um dos bandidos avisara que a ação estava demorando muito e que logo a Brigada Militar chegaria ao estabelecimento. Para checar, outro criminoso foi até a porta da agência e constatou, que de fato, a polícia já estava no local.
Tentativa frustrada
Assim que percebeu a presença da Brigada Militar, o trio armado tentou fugir pelos fundos dos Correios, pela rua Cônego Cordeiro em direção à General Osório.
Ao saírem da agência, um tiroteio com mais de dez disparos iniciou.
Às 9h20min.
No centro.
“Achei a ação da Brigada Militar exemplar, pois nosso medo eram eles (a BM) entrarem na agência e os criminosos nos fazerem de escudo humano”, relata Gaspar.
Algemas e morte
O bandido Diogo Schul da Silva, 28, de Sapucaia do Sul, foi baleado e morreu no confronto. Alex Sidnei Schul Pinheiro, 28, primo do primeiro, morador de São Leopoldo, foi alvejado na altura de um dos pulmões e foi preso.
O terceiro criminoso, identificado como Anderson Padilha da Silva, 21, que residia em Porto Alegre, chegou a ficar foragido durante cerca de quatro horas, mas, com a ajuda da comunidade que auxiliou a Brigada Militar por meio de ligações relacionadas ao paradeiro dele, foi capturado em um matagal nas imediações da avenida Farrapos.
Silva era foragido do sistema prisional e responde por dois homicídios.
“A Brigada Militar demonstrou agilidade, mas infelizmente vivemos uma situação de insegurança no município”, diz a produtora de eventos Vera Bender, 52.
Café da manhã
A aposentada Nelci Fregapani, 85, estava prestes a ir aos Correios também. Pouco antes das 9h, ela terminava de preparar o café da manhã para o companheiro Adão Cunha de Carvalho, 85.
Foi quando foi surpreendida por estampidos que mais pareciam “foguetes”, como lembra.
Mas o marido lhe alertou “Isso é tiro de 38.”
“Foi tanto tiro que achei que alguém estava experimentando uma arma, não imaginei que estava tendo tiroteio entre bandido e polícia”, conta Nelci.
A idosa conta que só não saiu na rua porque fora alertada pela filha Cleide Fregapani por telefone.
“Ela disse ‘mãe, tão assaltando os Correios”.
Ao espiar na janela, vira o corpo de Diogo morto em frente à sua casa, com dezenas de vizinhos em volta.
Apreensões
Uma caminhonete Ecosport, com placas clonadas, utilizada pelos criminosos, foi apreendida. Além disso, uma pistola 9mm, um revólver 38, um celular e uma quantia em dinheiro foram encontrados com os bandidos. Todos eles têm passagem policial por diversos crimes.
Cristiano Duarte: cristiano@jornalahora.inf.br